Reportagem comércio tradicional: “Bazar A Capelinha” mantém investimento da família na rua dos Tanoeiros e luta pela sobrevivência

«Bazar A Capelinha», na Rua dos Tanoeiros, Funchal. Fotos: FN

Os aspetos histórico-culturais e espaços comerciais do Funchal são parte intrínseca da sociedade madeirense e, sobretudo, dos funchalenses. O comércio no centro do Funchal, dedicado a vários ramos, é uma importante atividade que remonta aos primórdios da história da cidade.

Dada a importância do comércio local, o Funchal Notícias foi conhecer o «Bazar A Capelinha», situado numa das artérias mais conhecidas da cidade do Funchal, a Rua dos Tanoeiros. O, agora, bazar conta com uma história longa, como nos contaram Nelly Sousa e Raimundo Castro, proprietários do bazar. Trata-se de um espaço comercial deixado pelo avô materno de Nelly.

Raimundo Castro e Nelly Sousa, proprietários do bazar «A Capelinha»

Manuel Eduardo de Sousa ocupou a loja abrindo, inicialmente, uma frutaria e, posteriormente, uma sapataria. O legado do avô Sousa passou para os netos e Nelly continuou com a sapataria que, depois, passaria a ser uma tabacaria. Além dos artigos próprios de uma tabacaria, Nelly e Raimundo vendiam, também, artigos religiosos. Em 2007, os proprietários decidiram dedicar-se, exclusivamente, ao comércio desses artigos religiosos.

Interior do «Bazar A Capelinha»

A funcionar como bazar há cerca de 15 anos, o «Bazar A Capelinha» tem sobrevivido a fenómenos que lhe são alheios. Primeiro, foi a intempérie de 20 de  fevereiro de 2010 que destruiu o espaço por completo: «A loja ficou destruída na altura, fizemos as obras quase com as nossas próprias mãos para poder abrir novamente», disse Nelly Sousa. Segundo, e mais recente, foi a pandemia: «Foi complicado, estivemos aquele tempo todo fechado, infelizmente não tínhamos página on-line e tivemos de criar. Assim que reabrimos, as coisas começaram a recompor-se devagarinho e, até ao dia de hoje, estamos ainda a “desconfinar”».

Luta pela sobrevivência

A proprietária explicou que «ainda existem pessoas [que procuram o bazar], estamos num meio bastante católico», mas, ainda assim, «é difícil porque, também, estamos muitos restritos, os fabricantes já são poucos, já se contam pelos dedos, as lojas já se contam pelos dedos também. É um ramo que luta muito para sobreviver.»

Segundo Nelly, os «locais, de meia-idade, entre os 40 e os 50 anos, [e] os imigrantes também são muito católicos», referindo-se ao perfil do cliente que procura os artigos do bazar.

Nelly Sousa considera que «a procura é considerável no Natal, principalmente.», uma vez que se trata de uma época religiosa, na qual as pessoas costumam procurar mais o espaço para adquirir produtos para montar o presépio.

Os proprietários pretendem «manter [o bazar] só que, infelizmente, a nível de sucessores estamos limitados», contou Nelly, isto porque os seus descendentes não pretendem continuar com o negócio. No entanto, a proprietária garante que «vamos aguentar até onde pudermos aguentar.»

Falta de divulgação

As principais dificuldades destes comerciantes prendem-se com a divulgação daquele espaço e a falta de conhecimento sobre o tipo de artigos que apresentam. «Nas camadas mais novas (…), a nível das pessoas que estão na faixa etária dos 20/30 anos noto que, quando os filhos fazem os sacramentos (batizado, primeira comunhão, profissão de fé, crisma), os pais andam confusos e não sabem onde se dirigir. Por exemplo, a nível de lembranças é uma coisa que nós trabalhamos e eu noto que existe desconhecimento por parte das pessoas». Todas as lembranças produzidas são personalizadas, a gosto do cliente.

Algumas lembranças produzidas no «Bazar A Capelinha»

Relativamente à Rua dos Tanoeiros, fortemente associada às atividades comerciais como a sua designação transparece, Nelly considera que «já foi mais movimentada, mas mesmo assim, nos dias de hoje, acho que tem uma boa dinâmica porque tem várias lojas de vários ramos, acho que atrai vários tipos de cliente, o que é muito bom.»

Com Fé

A propósito de outros espaços comerciais, que vendem o mesmo tipo de artigos, Nelly Sousa considera que «existe muita concorrência», lembrando que «Cada um trabalha como pode e Deus tem para toda a gente», não fosse ela uma comerciante que trabalha com artigos religiosos, mas, acima de tudo, uma mulher de fé.

De acordo com os proprietários, os artigos mais vendidos no bazar «A Capelinha» são «imagens religiosas, terços, que são o grande forte da casa, com várias versões , lembranças personalizadas (batismo, primeira comunhão, profissão de fé e crisma); no Natal, temos o presépio, o menino Jesus, também é muito procurado aqui da casa, as peças para os presépios (vendidas individualmente ou em conjunto), procuramos ter uma grande variedade de produtos, o que é difícil também a nível de fornecedores.», contou Nelly. Raimundo esclareceu que são «fornecedores nacionais” com quem já trabalham “há muitos anos», alguns «já são da 3.ª geração», garante.

Este tipo de artigo é produzido no bazar
Alguns dos artigos disponíveis no espaço comercial

«Temos tentado dar continuidade, com uma história já longa e muitas transformações», constatou Nelly Sousa. Acreditamos que o legado patrimonial e histórico do avô Sousa continuará a dinamizar a baixa do Funchal e apresentará mais diversidade de artigos (que já são muitos!).

O bazar «A Capelinha» continuará a constar no mapa da cidade do Funchal, por muitos mais anos, espalhando a fé pelos madeirenses.

Facebook do «Bazar A Capelinha»

Contacto de e-mail: bazaracapelinha@hotmail.com

Contacto telefónico: 291 22 22 94