Museu da Levada de Santa Luzia vai surgir na Rua dos Ferreiros

*Com Rui Marote

A Associação da Levada de Santa Luzia vai fazer nascer um novo museu dedicado à água e às levadas da ilha da Madeira num prédio emblemático do centro do Funchal, onde antigamente funcionava uma chapelaria. A inauguração do espaço deverá acontecer por volta de Setembro/Outubro próximos.

A supracitada agremiação reúne chamados os heréus, ou seja, os co-proprietários de canais do tipo das levadas, e é muito antiga, sendo mencionada já nas primeiras fontes escritas relativas à Levada de Santa Luzia, na ilha da Madeira, em 1482. Porém a instituição só foi formalmente constituída por alvará do Rei D. Manuel em 1515. É uma das mais antigas de Portugal, e mesmo da Europa.

A referida levada irrigava, antigamente, os campos situados a Oeste da Zona Velha do Funchal, onde se situava o povoado original. Ao longo dos tempos, com a urbanização do anfiteatro funchalense, a associação (antigamente eram denominadas comissões de regantes) foi perdendo propriedades. Hoje em dia, a maioria da água da levada e das propriedades pertence às grandes quintas funchalenses. A associação ainda possui alguns terrenos, entre a Fundoa de Cima e os Viveiros. Alguns foram entretanto vendidos, outros estão ocupados e decorrem litígios para que saiam de lá determinadas entidades.

Uma expropriação de um terreno foi feita para albergar serviços da empresa “Horários do Funchal”, explicou-nos Gil Canha, vice-presidente da Associação, que é presidida por Eduardo Welsh. Após um litígio que demorou uns 30 anos, refere, “conseguimos que o Governo nos desse uma quantia bastante elevada”, por volta de um milhão de euros.

Ora, foi com esse dinheiro que a Associação comprou a casa onde será instalado o dito Museu na Rua dos Ferreiros. Na parte superior, criaram-se quatro apartamentos para desenvolver a actividade de alojamento local; no rés-do-chão será entretanto concretizado o Museu, dedicado à levada de Santa Luzia, e denominado “Museu Casa da Levada”.

O dito museu deverá incluir fotografia, documentação e material multimédia diverso, o qual porém ficou retido no estrangeiro durante a corrente pandemia de Covid-19, atrasando a sua inauguração. Um cidadão estrangeiro que visite o espaço poderá facilmente obter informação moderna e actualizada sobre as levadas existentes na Madeira, ver fotografias e trajectos das mesmas, ou conhecer a história da levada de Santa Luzia, ao longo dos séculos.

Para concluir o prédio, torna-se ainda necessário, conforme nos disse Gil Canha, o fornecimento de água pela Câmara Municipal do Funchal, que, perante a existência de canos antigos e danificados naquela zona, terá de abrir uma vala na rua para fazer lá chegar o precioso líquido… Mas até agora ainda não o fez.