Funchal hoje já tem mais “vida”, mesmo em dias de semana; mas retoma possível ainda deixa muito a desejar

Fotos: Rui Marote

O Funchal Notícias foi tomar o pulso à realidade urbana do Funchal destes dias de pandemia e de recuperação possível. A semana passada, num dia de semana, por volta da meia-noite, fizemos o circuito dos bares, desde a Avenida do Mar à Zona Velha da cidade. E, se não há dúvida de que a economia está abalada e muito resta por recuperar (se possível), pelo menos constatámos que já existe alguma actividade e que a urbe já não se encontra tão deserta como nos tempos do confinamento.

Não só os voos regulares para a Região têm trazido número considerável de viajantes, entre os quais muitos turistas, como também os próprios madeirenses já se acostumaram, de algum modo, a conviver com a situação presente dentro do possível e a usufruir da vida enquanto ela existe – porque obviamente a mesma não pode parar. Como já se disse muitas vezes, há mais vida para além do Covid-19.

Em termos gerais, não vimos comportamentos particularmente repreensíveis nos locais por onde passámos. O mais notável é a ausência quase total do uso de máscara, algo não só recomendado como mesmo tornado supostamente “obrigatório”, pelo Governo Regional da Madeira. De resto, existem fatalmente alguns ajuntamentos, mas também muitas vezes os locais de diversão nocturna, bares e restaurantes, são pequenos e as esplanadas diminutas, o que não facilita esse suposto e desejado distanciamento.

O que se nota entre as camadas mais jovens é precisamente o mesmo que a o OMS ainda ontem referia a nível mundial: a ausência de cuidados e de distanciamento social não só entre os adolescentes como entre os adultos jovens potencia a disseminação da doença a nível internacional, dado que a maior parte destes indivíduos exibem sintomas leves da doença ou são mesmo totalmente assintomáticos. O seu papel acaba por ser simplesmente transmitir o vírus, em muitos casos, e eventualmente potenciar a sua chegada a pessoas mais vulneráveis.

Cabe neste tipo de risco algo que observamos frequentemente, quer entre madeirenses, quer entre estrangeiros, quer entre madeirenses e estrangeiros, numa atitude de grande cordialidade mas muitas vezes inconsciente; cumprimentar com apertos de mão, abraços e beijos. Há pessoas, madeirenses, nacionais e estrangeiras, que se mostram tão fartas dos condicionalismos levantados pela pandemia que parecem ter pura e simplesmente decidido ignorar que a mesma existe, ou então fiam-se demasiado em testes feitos e interagem uns com os outros com excessivo contacto. Razão pela qual ainda ontem a OMS alertava para uma forte incidência da detecção de Covid-19 nos últimos tempos em indivíduos na casa dos 20, 30 e 40 anos.

De resto, também não falta quem observe muitos e recomendáveis cuidados, se porte civilizadamente e dê o seu contributo para que a economia madeirense, da restauração e do turismo, não esmoreça completamente, com todas as consequências de falências e desempregos que tal pode causar.

Nas visitas aos bares da Avenida do Mar, da Zona Velha da Cidade e da zona do Socorro, ficou visível que, mesmo sem ser aos fins-de-semana, mesmo durante um dia útil normal da época estival, em pleno mês de Agosto, ainda há quem marque presença nos principais “spots” da noite madeirense, ainda há quem se divirta, ouça música, jante, dance. Um panorama menos desanimador do que o “deserto” total de há alguns meses atrás, e que indica alguma retoma, ainda muito longe, porém, das pretensões dos empresários, para mais descontentes, em muitos aspectos, com a fiscalização e os horários limitativos vigentes.

Porém, as entidades governamentais por enquanto não fazem por menos e acautelam um eventual agravamento da situação que poderia fazer regredir todos os avanços e progressivas aberturas que se foram conseguindo levar a cabo até agora, mantendo a Região com muito poucos casos activos e praticamente sem transmissão comunitária.

Por outro lado, e a par dos estabelecimentos “resistentes”, não deixa de provocar uma certa dor de alma verificar o fecho de outros que, normalmente (especialmente restaurantes) costumavam estar cheios às horas a que por eles passámos. Hoje em dia, estão pura e simplesmente de portas encerradas, não se vislumbrando, para já, uma solução à vista.

Em tempos de pandemia, o Funchal vai sobrevivendo como pode, no equilíbrio fino e delicado entre a protecção da saúde pública e a necessária aposta em manter viva a economia. Por enquanto, a cidade ainda “mexe”. Pouco, mas “mexe”. Já não é a terrível desgraça sem clientes, sem público, sem pessoas nas ruas a que assistimos recentemente, como consequência do confinamento obrigatório e da retracção natural e do medo das pessoas. Resta ver como será a evolução, e rezar para que não haja retrocessos. E que eventuais comportamentos menos responsáveis não se paguem caro com a obrigatoriedade de voltar a confinamentos. É que medidas como esta estão novamente a ser tomadas em certos países europeus, onde o ritmo de surgimento de novos casos volta de novo a preocupar as autoridades. Não se trata de alarmismos. Simplesmente de tomar o pulso à situação e cumprir uma função de observação e de eventual alerta, a par e passo, nestes tempos complicados.