10 Mandamentos para um Espetador de Teatro

Estamos no mês que se comemora o dia do teatro amador, o dia mundial da marioneta (21 de março) e o dia mundial do teatro (27 de março).  São várias as propostas teatrais que teremos ao longo deste mês, para usufruto do verdadeiro espetador. E ainda bem que se fala nesta componente imprescindível para o teatro: o espetador. Pois não há teatro sem espetadores! Mas a verdade é que nem todos os espetadores de teatro, sabem, efetivamente, estar, apreciar e usufruir de um espetáculo teatral.

Para explicar melhor, esta questão do (des)respeito de alguns espetadores, neste mês do teatro, para a habitual crónica, “apropriei-me”, humildemente, de um delicioso artigo, intitulado: “10 Mandamentos para um Espetador de Teatro”, da autoria de um grande e exemplar ator, Mário Viegas (que, infelizmente, já não está entre nós desde o dia 1 de abril de 1996). Assim, escreveu o ator, encenador e dizedor, Mário Viegas:

“Primeiro – Não chegarás atrasado, incomodando a concentração daqueles que estão a representar e dos outros (que chegaram religiosamente a horas) que estão a assistir ao Santo Sacrifício do Teatro;

Segundo – Não falarás baixinho com o, ou a acompanhante, incomodando com a tua inclinação de cabeça o espetador de trás e distraindo os atores celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro;

Terceiro – Não adormecerás nem ressonarás, dando marradas para à frente e para trás, ou pondo as mãos nos olhos para os outros pensarem que estás muito concentrado no Santo Sacrifício do Teatro;

Quarto – Não tossirás nem te assoarás com grande ruído, escolhendo as pausas dos celebrantes do Santo Sacrifício do Teatro;

Quinto – Não te abanarás constantemente com o programa, distraindo os que estão, religiosamente, ao teu lado e, irritando os que estão no palco a celebrar o Santo Sacrifício do Teatro;

Sexto – Não comerás rebuçados, pipocas, caramelos, chocolates, pastilhas, comprimidos; tirando-os muito devagarinho, fazendo com o papel e as pratinhas o mais diabólico, satânico e herético ruido numa sala de espetáculos em que se celebra o Santo Sacrifício do Teatro;

Sétimo – Não levarás relógios com pipis eletrónicos, telemóveis e sacos de plástico que andarás constantemente a pôr, ora entre as pernas, ora no colo, perturbando os que celebram o Santo Sacrifício do Teatro;

Oitavo – Não lerás ou folhearás o programa durante a celebração do Santo sacrifício do Teatro para tentar saber qual é o nome de determinado ator, ou para tentar perceber a sequência do Santo Sacrifício do Teatro;

Nono – Não pedirás borlas ou insistirás em descontos, a que não tens direito, para assistir à celebração do Santo Sacrifício do Teatro;

Décimo – Não olharás «com grandes ventas» para o vizinho do lado, que achou religiosamente graça ao que tu não achaste, ou que, piamente e cheio de fé, se levantou para aplaudir, enquanto tu bates palmas por frete e já a pensar ir a correr tirar a porcaria do teu carrinho, ou a porcaria do teu sobretudo do bengaleiro, mais cedo, do que os outros.

Assim: Subirás puro aos céus! Ou assim: Poderás ir a 13 de maio à Cova da Iria ou assim, poderás ir e comungar no casamento real de sua majestade sereníssima Dom Duarte Pio João Miguel Gabriel Rafael de Bragança, chefe da sereníssima Casa de Bragança, Duque de Bragança, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, de Ourém, de Barcelos, de Faria, de Neiva e de Guimarães; e de sua Augusta Noiva Isabel Inês de Castro Corvello de Herédia. Ide e Espalhai a boa nova!”

É, sem margens para dúvidas, uma delícia, o humor acutilante de Mário Viegas, sobre os comportamentos inapropriados de muitos espetadores dos espetáculos de teatro.

Atualmente, acrescentaria a febre louca que muitos têm em filmar os espetáculos e usar as redes sociais em pelo espetáculo, perturbando o público que assiste e os atores que celebram o Santo Sacrifício do Teatro;

E ainda os que se levantam, mal o espetáculo começa para irem à casa de banho, desassossegando meia plateia e os que celebram o Santo Sacrifício do Teatro.

Neste mês do Teatro e sempre, vivam os espetadores que usufruem verdadeiramente os espetáculos de Teatro.