Carnaval/Carnavais

A tradição mantém-se: vem aí o Carnaval!

O Carnaval da Madeira tem hoje em dia uma repercussão mundial, pelo que muitos nacionais e mesmo estrangeiros marcam a sua presença na Ilha para assistir a uma espécie de grandiosidade que, de ano para ano, repete-se com novos “grupos”, guarda-roupa luxuoso, com muito bom gosto e jovens lindos; embelezados ainda mais pelo colorido e a música que acompanha cada escola de samba.

Por volta dos anos 50, havia grupos de trapalhões que se juntavam na Rua da Carreira, lançando “confettis” ou mascarrando-se uns aos outros. Era assim o Entrudo.

Com a chegada do “25 de Abril”, deu-se um grande impulso, que se deve ao ex-secretário do Turismo João Carlos Abreu…; e, assim, apareceram os primeiros “cortejos”, com a organização a cargo de Nini Andrade; mais recentemente, a arquiteta do ambiente Isabel Borges tem sabido dar um cariz muito pessoal, do pleno agrado de todos quanto acompanham o longo cortejo carnavalesco.

Nestes dois últimos anos, temos vindo a acompanhar os grupos pela televisão, quer “in loco”, estes festejos que atraem mais e mais forasteiros.

As crianças pequeninas e jovens, dá gosto de ver como se portam tão bem e, acompanham os “corsos”, cheios de entusiasmo e “dignidade”, querendo assim competir com adultos, mais velhos, de cada escola de samba. As flores, também são indispensáveis como fator importante neste desfile.

Este ano, o Carnaval vai brilhar ao longo da Avenida do Mar com trajo primaveril, embora não se possa ainda prever o tempo que agora é tão incerto, afetado pelas condições climatéricas.

Mas, relembrando agora outros Carnavais antigos, o Entrudo, sem luxos e com a simplicidade natural. A tradição nas aldeias, onde jovens e adultos se mascaravam com roupas antigas dos seus antepassados e, assim, se divertiam nos 3 dias que lhes eram destinados.

Lembro-me que desde criança, e tenho fotos desses anos, ao colo de minha mãe em Alcobaça, onde meu pai lecionou durante dois anos. Tinha um fato de minhota colorido. No ano seguinte, tinha a antiga varina da Nazaré. Guardo esses trajos que ainda serviram às minhas netas.

Registo também o facto da minha mãe que estava a preparar-se com o meu pai para um baile de terça-feira de Carnaval e o meu nascimento impediu-os de ir ao baile…  Nasci numa terça-feira de Carnaval!

Depois, em Lisboa, com os meus 5/6 anos, a minha mãe Maria Elisa arranjou-me o trajo da viloa da Madeira e disso também guardo tudo, as fotos. Quando já tinha 8 anos, ainda em Lisboa, comecei a acompanhar os meus pais ao Carnaval que se concentrava na Avenida da Liberdade e, aí o meu fato era de varina estilizada; ansiava pelo Carnaval em que me podia permitir usar “baton” e verniz nas unhas.

Ao longo da Avenida e no Rossio concentravam-se as crianças e atirávamos saquinhos de “confettis” e serpentinas. E as bisnagas com água ou perfume serviam para nos molharmos uns aos outros.

Mais tarde, acompanhava meus pais aos cinemas, onde havia sempre no intervalo dois filmes, guerras de “confettis”, serpentinas e sacos com areia que se atiravam dos camarotes. Acontecia, por vezes, que as bisnagas vinham com perfumes e, então, era agradável.

Em adulta, ia aos bailes de Carnaval com grupos de amigos e amigos, uns da Madeira, outros de Faculdade, e fazíamos “assaltos” a casas de pessoas nossas amigas. Eram então: o Rui Pereira, a Evelyne, o Justiniano Canelhas, a Maria do Carmo, a Chica, eu e o Américo, ainda namorados. Também havia bailes nas Faculdades e recordo um a que estivemos presentes na Faculdade De Economia, com o meu ainda parente Tomás Cunha Santos. Esses tempos idos deixaram saudades.

O Carnaval ou Entrudo manifestou-se no Funchal com trapalhões disfarçados com roupas velhas, na maioria vestidos de negro, e os fantasmas. Nas casas particulares, organizavam-se “assaltos” que mais não eram do que amigos ou familiares que combinavam entre si, aproveitando os 3 dias de “carne vale” para se divertirem, trazendo até mantimentos para as noites; e, a música surgia dos velhos gramafones. Entre os participantes e os que tocavam. Era um divertimento saudável e as crianças apareciam vestidas com as mais variadas fantasias, ainda saídas das mãos das progenitoras.