Não acontecia há pelo menos oito anos um pedido de audiência por parte de um presidente de Câmara ao Representante da República para a Madeira, o último tinha sido precisamente Miguel Albuquerque, hoje presidente do Governo Regional. Agora, Miguel Silva Gouveia, presidente da Câmara do Funchal, pediu para ser recebido por Ireneu Barreto e a audiência acontece amanhã, 6 de dezembro, pelas 10.30 horas.

Esta deslocação de Miguel Silva Gouveia ao Palácio surge num contexto de grande crispação política entre Câmara do Funchal e Governo Regional, entre Coligação Confiança autárquica e a coligação governamental formada por PSD e CDS. Uma nova realidade política regional que já resultou em tensos episódios recentes.

De facto, a última Assembleia Municipal, conturbada, onde o PSD e o CDS se juntaram para aprovar o plano de obras da Câmara mas ao mesmo tempo para chumbar o Orçamento, a verba para esse mesmo plano, veio desencadear uma onda de protestos, uma posição da Associação de Municípios da Madeira, liderada por Ricardo Nascimento, que chegou a ser eleito pelo PSD e que na última eleição foi escolhido através de uma lista de cidadãos, na Ribeira Brava, mas também um alerta, por parte de Miguel Gouveia, no XXIV Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses, pedindo que a ANMP “defenda a autonomia local, não só no continente português, mas igualmente na Madeira, onde essa autonomia ainda está por cumprir”.

Além disso, a decisão do Governo de assumir uma resolução para tomar conta do espaço da Placa Central para organizar o Mercadinho de Natal, na sequência de um “braço de ferro” com a Autarquia, provocou inúmeras reações por parte da Câmara, acusando o Governo de interferência nas áreas de competência do Poder Local, abrindo “um grave precedente” para outras situações do género em termos de futuro.

O próprio episódio ocorrido aquando da liderança de Alberto João Jardim, que regionalizou temporariamente estradas municipais para resolver o diferendo com a Câmara do Funchal, quando era presidente da Câmara Miguel Albuquerque, foi apontado como um dos factos que na altura foi alvo de crítica por parte de Albuquerque, que hoje ratifica uma decisão idêntica relativamente ao processo Placa Central.

Desconhece-se o teor da audiência de Miguel Gouveia a Ireneu Barreto. Sabe-se apenas que foi a pedido do próprio presidente da Câmara e que certamente não será para cumprimentos de Natal, que ficarão para outra altura.