“Não posso aceitar que grupos económicos joguem nos dois tabuleiros, passámos de ilhas afortunadas para ilhas com fortunas”

“Alguém já fez as contas, desde 2012, sobre qual foi o prejuízo para a Economia regional resultante do facto de não haver operação ferry?” Foto Rui Marote

A ligação marítima de passageiros, entre a Madeira e o continente, será uma prioridade do programa de governo a apresentar pelo JPP. O “ferry” tem sido tema alargado de debate, de divergências assumidas pelo Governo Regional, relativamente ao Governo da República, que fazem perdurar um impasse que, numa primeira análise, deixa os madeirenses sem grandes opções. Até ver, mantém-se o figurino de 2018, com operação “ferry” nos meses de verão e com custos suportados pelo Governo Regional. Quanto ao resto que configura o conjunto de propostas do Juntos Pelo Povo, Saúde e Mobilidade são outros dos temas que o partido que teve a sua génese em Gaula irá debater ao longo do ano e ter particular atenção na sua estratégia visando um 2019 de eleições.

Dúvidas sobre os custos operacionais do “ferry”

Élvio Sousa, em entrevista ao Funchal Notícias, faz uma avaliação de todo o processo “ferry” e não está convencido que “os custos operacionais sejam aqueles que dizem constar dos estudos, que nunca vi. Tive oportunidade de falar, há algum tempo, com o senhor Armas, que me disse ser suficiente a isenção de taxas portuárias para que a operação fosse viável, nem precisava de incentivos . O “ferry” precisa, não só de passageiros, mas de carga agregada, como forma de garantir sustentabilidade. E é preciso não esquecer que o armador, até 2012, já detinha 10% da quota de mercado. O que estamos a criar, no discurso político, é uma realidade diferente, a de que para haver operação “ferry” é preciso ajudas do Estado. E alguém já fez as contas, desde 2012, sobre qual o prejuízo para a Economia regional resultante do facto de não haver operação ferry? Já fizeram algum estudo sobre isso? O único estudo que estão a fazer é para analisar as indemnizações compensatórias”.

Passámos de ilhas afortunadas para ilhas com fortunas

O secretário-geral do JPP interroga-se se não deveria ter sido o próprio presidente do Governo Regional a sair da Região e estabelecer contactos com operadores, no sentido de “apurar a possibilidade de haver operação ferry, sem esperar que o Governo da República definisse custos operacionais para a via marítima. E todos sabemos a resposta centralista do Governo da República, através da posição da ministra do Mar, que acha que a continuidade territorial extingue-se pela via aérea, quando a realidade mostra que o ferry deve ser mesmo uma prioridade”.

Élvio Sousa abarca, também, uma crítica relativamente a situações adjacentes que, em sua opinião, estão a condicionar a economia da Madeira: “Não posso aceitar que os grupos económicos joguem em dois tabuleiros e estejam a condicionar a Economia da Região em termos de futuro. Hoje em dia, com o PSD como único responsável, mudámos o conceito de ilhas afortunadas para ilhas com fortunas. Objetivamente, temos taxas aéreas das mais caras, taxas aeroportuárias das mais caras, além da questão do monopólio dos portos. Esta situação deve ser resolvida urgentemente”.

Região a assumir o transporte marítimo de mercadorias

O dirigente partidário defende que, em relação ao transporte marítimo de mercadorias, a Região deveria tomar conta do assunto, colocando acima de tudo o superior interesse da Madeira. A” lei refere que quando está em causa a garantia da modernidade, a concorrência e o preço das mercadorias, a Autoridade Portuária Pública pode chamar a si essa atividade. Não podemos aceitar que tenhamos um frete a condicionar toda a fatura portuária e que assim permanece já há muitos anos. E neste setor, quer o PS quer o PSD estão altamente condicionados”.

“Temos 111 mil cidadãos da Madeira e do Porto Santo sem médico de família, têm sido anunciado cortes de verbas, temos mais de 30 mil cidadãos à espera para cirurgias, consultas e exames de diagnóstico. Isto é um flagelo”. Foto Rui Marote

Mas o homem que encabeça a lista do Juntos Pelo Povo às Regionais de setembro vai avisando: “Podem ter a certeza que os madeirenses vão saber estas coisas, pela minha voz e pela voz de outros candidatos. O PSD e o PS devem explicar publicamente se estão ao lado da população ou se estão contra a população, se defendem um sistema que baixe o custo de vida ou se defendem esta verticalização do setor, com a República a assistir , impávida e serena, a esta situação”.

É vergonhoso deixar resolução dos assuntos para o pós eleições

Naquilo que se prende com o modelo de mobilidade, outra das situações pendentes com a República, volta atrás para lembrar que “em outubro de 2015, fizemos as primeiras alterações como projeto para a Assembleia da República, nomeadamente a anulação do teto máximo, fim do reembolso em 60 dias, a possibilidade de os estudantes poderem viajar a baixo custo. O PSD foi o único a votar contra e estávamos com poucos meses desde a entrada em vigor do novo modelo de mobilidade, feito pelo Governo Regional e pelo Governo da República, então do PSD e do CDS-PP. Mais tarde, houve um acordo, na Assembleia Regional, para a elaboração de um projeto comum, a enviar à Assembleia da República, mas que neste momento está há meses numa comissão especializada para voltar à votação final. Isto é vergonhoso e não se pode admitir, até tenho consciência que isto é mesmo deliberado para deixar a resolução dos assuntos para o período pós eleitoral”.

O Governo da República está a prejudicar os madeirenses

Élvio Sousa não poupa, também, o Partido Socialista. “Já faz como o PSD fazia, relativamente às Autarquias que não eram da sua cor política. Neste momento, o Governo da República, do PS, está a prejudicar os madeirenses. Como também o PSD regional prejudicou as Câmaras nos investimentos, basta fazer as contas”.

A Saúde será, por assim dizer, uma “bandeira” forte do JPP na confrontação eleitoral com o Governo de Miguel Albuquerque, com números que não deixam margem de manobra quanto à motivação da crítica e quanto à realidade que o panorama do setor, nas diferentes vertentes, apresenta. Esses números expressam, segundo refere o secretário geral do JPP, que “temos 111 mil cidadãos da Madeira e do Porto Santo sem médico de família, têm sido anunciado cortes de verbas, temos mais de 30 mil cidadãos à espera para cirurgias, consultas e exames de diagnóstico. Isto é um flagelo e para combater essa preocupante realidade, temos soluções que serão apresentadas em breve, mas que passam, fundamentalmente, pela contratualização com privados, mas também pelo cumprimento doo horários por parte dos médicos, uma situação que muitas vezes é descurada”.

Listas de espera aumentavam enquanto se discutia o novo hospital

O novo hospital enquanto prioridade regional é pacífico na perspetiva do JPP. A questão, como acentua Élvio Sousa, é que se “perdeu muito tempo a falar sobre quem cumpriu ou não cumpriu, fermentou-se sobre mais 50 milhões, menos 50 milhões e lá está mais uma situação em que o Governo da República não foi honesto. E enquanto se discutia mais ou menos verbas para o novo hospital, as listas de espera iam subindo”.

É este o cenário de “combate” que o JPP vai traçar para o desafio eleitoral de duas eleições, as Regionais e as Nacionais, uma vez que não vai concorrer às Europeias. Élvio Sousa nunca imaginou a dimensão atual, quando na Junta de Freguesia de Gaula foram lançadas as raízes que vieram dar, mais tarde, no JPP. “Quando criámos o movimento em Gaula, começámos a assistir, por parte da população, a reações como se estivessemos perante um partido político. E nunca pensei que existissem 13 mil cidadãos que votassem em nós. As pessoas compreenderam e acho que acabámos por trazer algo de diferente à política na Madeira. E até acho que o Juntos Pelo Povo é um projeto que ainda não mostrou aquilo que tem para mostrar”.