Quanto valem Albuquerque e Cafôfo para 2019?

icon-henrique-correia-opiniao-forum-fnEstamos, mais coisa menos coisa, a um ano das eleições Legislativas Regionais. Também em 2019, há as Legislativas Nacionais e as Europeias, sendo estas, em maio, como que uma primeira avaliação daquilo que poderá acontecer, relativamente ao próximo Governo Regional da Madeira. Um indicador, não obstante serem atos eleitorais diferentes e, por consequência, poderem expressar, no voto, resultados distintos. Mas serão momentos para aferir tendências, disso não tenhamos dúvidas.

A menos que haja uma “catástrofe política”, a perspetiva do eleitorado já está formatada para um determinado cenário, sem maiorias absolutas. A Madeira vive numa nova fase e os madeirenses não querem colocar “os ovos no mesmo cesto”, como diz o povo do alto da sua sabedoria. Já chega. Foi positivo num determinado período, mas o modelo esgotou pelos abusos próprios de uma “tropa” que tinha “carta branca” dos “generais” e deu cabo de muita coisa e de muita gente. E acabou por desbaratar capital do próprio partido.

Os partidos encaixam-se na política, criam raízes com as suas clientelas e cumplicidades, prepotências e outras excentricidades que o poder absoluto e a consequente impunidade permitem. Por isso, há um dia em que o eleitorado diz basta e divide “aquele mal pelas aldeias”, sendo que as aldeias, neste caso, não podem ser outra coisa que não os partidos, nesta partidocracia obsoleta em que a participação cívica é coartada de todas as formas e feitios.

Em 2019, dificilmente haverá quem ganhe de forma clara, vai precisar de ajuda de algum “fiel da balança”, havendo já movimentações nesse sentido, que se observam em pequenos acordos, nos Orçamento de Câmaras e no Orçamento da Região. Isso é visível, tem sido. Com o CDS-PP a assumir esse papel, agora com o JPP na “sombra”.

Mas nestas coisas de eleições, existem aspetos a ter em conta, sobretudo num contexto em que a votação ocorre em meios pequenos. O voto passa a ser muito pessoalizado, muito centrado no candidato, não tanto nas políticas, como de resto aconteceu durante décadas em que, claramente, Jardim ganhou sozinho muitas eleições. Podia mesmo dizer-se que, na altura, valia mais do que o PSD. Ao contrário do que acontece agora, em que Albuquerque, pelo que se sente e por aquilo que algumas sondagens apontam, vale menos do que o PSD, sendo por isso necessário articular com a máquina partidária para equilibrar estas forças a tempo de restabelecer, para as Regionais de 2019, um patamar de discussão que permita colocar Albuquerque em posição de discutir a vitória com o outro candidato, no caso Paulo Cafôfo, sem obviamente menosprezar quaisquer outros intervenientes. Mas em termos concretos e realistas, o que está em equação é Cafôfo ou Albuquerque.

As sondagens valem o que valem, mas dizem alguma coisa. E dizem, hoje, o que é comum ouvirmos, nas ruas, por parte dos cidadãos. Os dois candidatos têm problemas para enfrentar, têm as suas vulnerabilidades, mas também sabem, porque todos os indicadores apontam para isso, que as Eleições Regionais de 2019 prometem ser as mais disputadas de sempre. Nunca, anteriormente, a Madeira viveu um ato eleitoral com esta perspetiva de equilíbrio de forças para a liderança da Região. Mas também nunca o PS conseguiu reunir um candidato tão forte como Paulo Cafôfo, que apareceu vitorioso para a Câmara do Funchal e, hoje, ganhou enorme popularidade numa determinada faixa do eleitorado, além de beneficiar de um PSD não tão forte como já foi. Cafôfo, ao contrário de Albuquerque, vale mais do que o PS-M e pode congregar votos até do PSD-Madeira, mesmo com as alterações profundas nos orgãos da máquina social democrata, que tinham deixado o atual presidente da Câmara a correr sozinho e quando “acordaram” já ele ia a milhas. Uma estratégia que custou caro e que obriga o líder social democrata, como diz o povo, a “correr atrás do prejuízo”.

Albuquerque fez uma primeira parte de mandato muito inconstante, aparentemente sem “pulso”, um deixa andar de confiança excessiva nas escolhas, olhando o Governo com alguma sobranceria e deixando o partido à deriva, com gente escolhida por si, mas à deriva na mesma. Andou distraído. Já houve tempo em que isso era possível e dava sempre tempo, umas vezes para 60%, outras para 57%, outras para 70%, era sempre garantido. Hoje, não. Depois de Cafôfo, não.

A segunda parte do mandato está diferente, para melhor, mais assertivo, até no discurso, mas falta tempo. E daí, estarmos a assistir a uma “avalanche” de medidas, de apelos à unidade interna, de apoios, de uma Região a crescer, talvez agora há 64 meses, já foram 62 e 63 com repetições em atos públicos para o povo não esquecer, bem como uma descida “vertiginosa” do desemprego, mesmo com mais regressados da venezuela e muita gente sem emprego. Mas as estatísticas dizem, é que deve ser verdade.

Do outro lado, Cafôfo está em dois “tabuleiros”. O seu e o do PS-M. Parece que é um só mas são mesmo dois. Desenvolveu o mandato com alguns contratempos, os trágicos acontecimentos da queda da árvore no Monte foi um deles, o trânsito no Funchal, que teve as medidas com o mesmo ritmo dos carros na cidade, mesmo sem ser em hora de ponta, um pára, arranca e…muda, foi outro. Foram percalços inesperados, mas mesmo assim, o capital é de tal ordem, que consegue apanhar menos “pingos da chuva” do que Albuquerque. Pelo menos no cenário atual. E isso é importante para quem, como ele, aposta numa estratégia de mudança para 2019.

O próximo ano será, por isso e por muito mais, um ano de grande expetativa, em termos políticos. Vamos assistir, de um lado e do outro, com terceiros lados à espreita, à continuidade do cenário que já vem acontecendo. Apoios, medidas sociais, cumplicidades informativas onde o oficioso e o oficial se confundem diariamente, descaradamente, verbas de fartura como se nada pudesse acontecer para 2020. Um modus operandi que é, na generalidade, prática corrente de Governo e de algumas Câmaras Municipais, mas que tem, em determinados casos, o efeito pernicioso de dar dimensão e valor ao que não tem, correndo sérios riscos de um resultado diferente do que querem.

Será mais ou menos o jogar no “tudo ou nada” e quem vier a seguir pode fechar a porta… se conseguir.