Opinião de Martins Júnior: “O mais fiel Elucidário fílmico dos “600 Anos” – Em Machico, 5 de Outubro, 18 horas”

Martins Júnior recomenda, neste seu artigo, um documentário cinematográfico. (Foto LR)

Martins Júnior

Está na moda o genérico “600 anos”. E então é impressiva a azáfama de meter tudo – ‘desde o alfinete ao frigorífico’ –  nessa roda gigante que dá pelo pomposo nome de “600 anos”, como se nada de notório tivesse acontecido antes da gloriosa efeméride, ora em curso. Mas houve. Muitos foram os investigadores, os artistas, os poetas que, na modesta oficina do seu dia-a-dia,  desbravaram o desconhecido, percorrendo os trilhos de outrora, quer nos arquivos e incunábulos, quer no próprio terreno onde o povo escreve a sua história. Muitos foram os que (parafraseando Gomes Eanes de Azurara)  desvendaram “aquele espesso negrume” que Tristão e Zargo acharam ao aproximar-se da, depois chamada, “Ponta de São Lourenço”.

Situa-se neste grande friso da historiografia insular a obra de Leonel de Brito, “COLONIA E VILÕES”. O autor-realizador classificou-a de “documentário cinematográfico”. Mas é muito mais que um normal documentário para entretenimento de circunstância. Trata-se de um aprofundado labor heurístico, desde os primórdios do Achamento da Ilha até ao último quartel do século XX, numa síntese político-social e cultural focalizada no grande problema de fundo que inspirou o nome da película – o regime da colonia. A ruralidade profunda dá-lhe o mote, mas o seu desenvolvimento abarca em toda a linha a trajectória da luta de classes no arquipélago, personificada entre o autoritarismo do senhorio e o medo esclavagista sofrido pelo caseiro e a que a vitoriosa Revolução dos Cravos pôs termo entre 1974-1977, com a abolição do “leonino contrato” da colonia.

Os cenários são os da ilha, as personagens são autênticas, captadas no terreno e em tempo real, nisto consistindo a sua originalidade, diferentemente da pré-elaborada montagem de planos e actores. Daí que seja mais vívida e dramática toda a mensagem do guião, da autoria do jornalista Rogério Rodrigues, podendo considerar-se este documentário como o mais fiel Elucidário fílmico da história da  Madeira.

Andou perdido, exilado, enjaulado (a mando de quem?) durante mais de 40 anos. Feito em 1977, só em Fevereiro de 2018 conheceu a luz da tela no Teatro Municipal do Funchal e em 5 de Julho, após um mais acurado tratamento técnico por parte da Cinemateca Nacional e da Academia Portuguesa de Cinema, foi exibido em Lisboa na Barata Salgueiro.

É esta a jubilosa notícia que, por deferência do “Funchal Notícias”, trago aos seus leitores: Sexta-feira, 5 de Outubro, pelas 18 horas, será a vez de Machico receber nas instalações do Forum o precioso documentário “COLONIA E VILÕES”, com a presença do realizador Leonel de Brito e do chefe de Fotografia, Elso Roque.

Resta-me assinalar a feliz iniciativa da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia e de alguns munícipes em colocar a película no seu meio ecológico próprio, visto que os episódios-chave de toda a acção desenrolam-se na zona leste da Madeira. Excelente programa para as Festas do Concelho e para a evocação dos “600 anos”.