UMAR considera preocupantes resultados de estudo nacional sobre violência no namoro, no qual a RAM também participou

A União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) veio tornar públicas, e comentar, as conclusões do estudo nacional “Violência no Namoro 2018”, no qual, refere, a Região participou pela primeira vez, com o testemunho de alunos de quatro escolas de vários concelhos, nomeadamente Funchal, Câmara de Lobos, Ribeira Brava e Machico.

No ano passado, refere a UMAR, apenas uma escola da Região do concelho de Câmara de Lobos aceitou participar neste estudo. “Tendo em conta a diferença significativa no tamanho e composição da amostra do estudo no ano de 2017 comparativamente com a de 2018 (65, 1 concelho versus 216 jovens, 4 concelhos), não vamos comparar aqui directamente os valores obtidos”. Mas a instituição considera preocupante que “21% dos/as jovens, que já tiveram ou estão numa relação de intimidade, já sofreram violência psicológica numa relação de namoro, havendo uma grande discrepância entre raparigas (30%) e rapazes (12%). Também é de realçar que 20% dos/as jovens já foram perseguidos/as numa relação de intimidade. De realçar que, em todos os tipos de violência, com excepção da violência sexual, as raparigas sofreram mais violência do que os rapazes”.,

Os dados da Madeira estão incluídos nos Resultados Nacionais do Estudo da Violência no Namoro. Esta adenda constitui, assim, o relatório distrital, apenas com os dados obtidos na Madeira, para análise mais pormenorizada da situação regional no que diz respeito à violência no namoro.

Esta recolha de dados foi feita através de questionários anónimos, distribuídos por técnicas especializadas e preenchidos pelos/as jovens na sala de aula. “Tendo em conta que são, na sua maioria, menores de idade, todos/as os/as jovens tiveram consentimento dos/as encarregados/as de educação  para participar no estudo”, explica a UMAR.

As perguntas envolveram as categorias que se seguem:

Violência psicológica: insultar durante uma discussão; ameaçar que bate ou abandona; humilhar.

Controlo: proibir de sair sem ele/a; obrigar a fazer algo que não quer; proibir de vestir uma peça de roupa; proibir de estar ou falar com um/a amigo/a ou colega.

Perseguição: Procurar insistentemente; perseguir; esperar à porta de casa ou escola; telefonar insistentemente.

Violência física: magoar fisicamente deixando marca; empurrar e esbofetear sem deixar marca.

Violência sexual: Forçar a ter relações sexuais; pressionar para beijar à frente de outros/as.

Violência nas redes sociais: Pegar no telemóvel, entrar no facebook (ou outra rede) sem pedir autorização; partilhar através da internet fotografias íntimas, vídeos e/ou mensagens sem autorização; insultar através das redes sociais/internet.

216 jovens  das escolas da Região Autónoma da Madeira, participaram, com uma idade média de 15 anos.

Por outro lado, analisou-se o que pensam os jovens da violência no namoro, se tem legitimidade, ou não.

Relativamente à legitimação da violência, em toda a amostra, que inclui os/as jovens que já tiveram ou não relações de intimidade, os números são ainda mais preocupantes. “Indicam que é urgente uma mudança de mentalidades no que diz respeito à violência de género, um trabalho profundo na prevenção primária da violência de género. Note-se que 85% dos/as jovens inquiridos/as consideram, em relacionamentos de intimidade, normal a violência física, 79% consideram normal a violência psicológica, 69% consideram normal a violência sexual, 68% a violência através das redes sociais, 62% a perseguição e 60% o controlo. É preocupante verificar que, apesar das raparigas e mulheres serem mais vítimas de violência de género, são as raparigas que neste estudo mais legitimam todos os tipos de violência, ultrapassando, em percentagens, os rapazes em todas as categorias”, sublinha a UMAR.

Dos dados analisados do Estudo Nacional da Violência no Namoro, onde se incluem também os da Madeira, salienta-se, como primeira conclusão, que dos/as jovens que já estiveram numa relação de intimidade, 56% sofreram actos de vitimação que configuram a violência no namoro.

Há uma percentagem importante de jovens que legitima aquele comportamento como normal numa relação de namoro. Neste estudo, 68,5% do total de jovens aceita como natural pelo menos uma das formas de violência na intimidade. Esta normalização das situações descritas reproduz legitimação social da violência nas relações de intimidade. Salienta-se que esta legitimação é ainda mais frequente nos/as jovens que identificaram ter sofrido actos de vitimação (76,9%).

A partir destes resultados, refere a UMAR, compreende-se que a violência no namoro está presente quer pela experiência vivida nos relacionamentos íntimos — com a vitimação entre 6% (violência física) e 18% (violência psicológica) – quer pela legitimação e naturalização destes comportamentos, em que os dados se situam entre 8% (que legitimam comportamentos de violência física) e 29% (que legitimam comportamentos de controlo). Note-se que, na amostra da Região, até a violência física que deixa feridas ou marcas é legitimada por alguns/algumas jovens (87%), havendo apenas a diferença de 1% entre raparigas e rapazes (maior incidência nas raparigas).

Pode, também, concluir-se que a naturalização da violência é maior nos rapazes em todas as formas de violência estudadas. Em relação à violência sexual, a diferença entre rapazes e raparigas é significativa, uma vez que a legitimação destes comportamentos, pelos rapazes, é de 34% e, pelas raparigas, de 16%.

Os comportamentos de controlo apresentam-se como os mais legitimados, por jovens de ambos os sexos (29%), sendo a proibição de vestir determinadas peças de roupa o comportamento mais legitimado (40% dos/as jovens).

A violência nas redes sociais, enquanto dimensão (relativamente) nova nas relações de intimidade, mostra resultados alarmantes, tanto na legitimação 24% – quase um quarto de jovens – considera normal esta forma de agir no namoro; como na vitimação (12%).

A perseguição compreende um conjunto de comportamentos que é legitimado tanto por rapazes (35%), como por raparigas (19%).Esta legitimação pode advir do facto de, na nossa cultura, estes comportamentos não serem considerados violência (apesar de já criminalizados) e serem muitas vezes romantizados, sendo, portanto, um assunto que deve ser reflectido pelas pessoas que têm a responsabilidade da educação dos/as jovens.

“Através da comparação com os dados nacionais do ano passado, podemos observar que tanto a legitimação como a vitimação da violência tiveram uma ligeira subida”, diz uma nota de imprensa.

Perante estes resultados permanece a necessidade e urgência de uma intervenção com os/as jovens, o mais precoce e continuadamente possível, no sentido de prevenir a violência sob todas as formas, prossegue o comunicado.

Finalmente, é pertinente referir que não podem desvalorizar-se quaisquer formas de violência, já que estas têm repercussões a vários níveis para os/as jovens; e que desconstruir a normalização/legitimação destes comportamentos será minimizar a probabilidade de jovens se manterem em relações violentas e promover relações pautadas pelo respeito e igualdade.

Estes resultados revelam-se importantes para educadores/as, docentes, pais, mães, encarregados/as de educação e para a sociedade em geral, particularmente porque nos indicam o panorama real da situação portuguesa no que à violência no namoro diz respeito; mostrando a enorme necessidade de prevenção primária a este nível, em todo o território português, conclui o comunicado da UMAR.