O PS/M e as próximas eleições regionais de 2019

Decorreu na semana passada mais um Congresso do Partido Socialista da Madeira.
Um Congresso partidário é um acontecimento da mais alta relevância para a vida dum partido, quase tão importante como o dia das eleições nacionais ou regionais. Para além de oferecer uma passadeira vermelha acolhedora de vaidades e de luta por uma posição mais ou menos veladamente ambicionada, é um momento de encontro dos militantes e de afirmação de unidade e de fé nos destinos da associação política. Mutatis mutandis e salvo seja a comparação, sai-se do congresso como os penitentes após a confissão quaresmal, com aquela sensação de alívio, de paz e de fé num futuro risonho e salvífico. A vitória parece então estar garantida e logo ao dobrar da esquina do tempo.
E, no entanto, o Congresso do PS-M, de Fevereiro de 2018, foi especial, e a comunicação social, ávida de notícias novas, deu-lhe uma desusada cobertura, a que a Madeira não estava habituada. A vitória do candidato a líder que apresentara previamente o Dr. Paulo Cafofo como candidato à liderança do Governo Regional nas eleições de 2019 contribuiu para alimentar a esperança na vitória do PS-M no próximo acto eleitoral. O actual Presidente da Câmara Municipal do Funchal é um político ganhador, vai já no segundo mandato e reforçou a sua votação, para além de ser uma figura popular e irradiar simpatia. Acredita-se, assim, que poderá reunir não só os votos socialistas, mas os de outros partidos, bem como dos indecisos. O PSD-M, ao desenvolver uma campanha cerrada e constante contra o Dr. Paulo Cafofo, na Câmara Municipal do Funchal e na Assembleia Legislativa Regional, está a revelar que acredita nessa possibilidade.
O PS-M sempre foi um partido de “capelinhas”, de intrigas. Também é verdade que neste partido não existe o chamado “centralismo democrático” nem nunca teve um líder forte e muito menos com tiques de ditador. Durante tantos anos pareceu querer apenas um lugar de relevo na Oposição. E o tempo foi passando. Conseguirá Emanuel Câmara unir o partido? Diz-se, em linguagem futebolística, que não se deve mudar de treinador quando a equipa está a ganhar. A maioria dos militantes do PS-M resolveram não seguir esta regra. Foi uma aposta que, à partida, parece ser acertada. Na minha opinião, o Dr. Carlos Pereira continua a ser uma mais-valia para o partido. Resta saber se ele e os seus apoiantes conseguirão digerir a derrota e cerrar fileiras em torno dum projecto comum.
Basílio Teles, logo a seguir à vitória da revolução republicana, em 1910, prevendo o fenómeno da adesivagem, gritou bem alto “fechem as cancelas”. Muito do fracasso do Partido Republicano deveu-se a não seguir o conselho daquele militante de relevo. Julgo que o conselho ainda hoje é válido. O socialismo democrático constrói-se com socialistas, não com neoliberais encapotados, apostados na defesa de interesses pessoais. A dinâmica de vitória pode trazer para a ribalta do PS-M gente que em vez de servir a Madeira poderá querer servir-se apenas. Depois de 42 anos de domínio hegemónico e arrogante dum mesmo partido, julgo chegada a hora dum “aggiornamento” na política madeirense, com um novo rumo, com uma nova sensibilidade. Fará bem ao PSD-M uma cura de oposição, para que se reencontre, se redefina e perca a arrogância que o caracterizou. Mas alternância política não chega. É preciso uma alternativa diferente. Conseguirão o PS-M e o Dr. Paulo Cafofo construir essa alternativa? A Madeira precisa.