Corso carnavalesco fez a cidade vibrar de alegria e animação

 

Fotos: Alfredo Rodrigues

Foram em grandes doses a animação e a alegria que encheram hoje o Funchal, com o desfile do tradicional corso carnavalesco. Com uma forte inspiração no Carnaval brasileiro, muitos foram, entretanto, os motivos madeirenses que este ano, em que se assinalam os 600 anos da descoberta do arquipélago da Madeira, motivaram os diferentes grupos participantes. Usos e costumes e elementos marcantes da história destas ilhas atlânticas estiveram bem expressos nas fantasias exibidas pelas várias “troupes” e nas temáticas escolhidas pelas mesmas para decoração dos seus carros alegóricos.

 

A abrir o desfile esteve a troupe de João Egídio, homem conhecido das muitas decorações em alturas festivas. Com o tema “Anos Dourados”, as roupas dos elementos que desfilaram, roupas essas bastante reduzidas, de resto, mostraram uma forte inspiração dionisíaca, com origem portanto, nas antigas festividades que, conta-se, dariam mais tarde origem às festas profanas que culminaram no Carnaval como hoje o conhecemos.

Seguiu-se a este animado grupo a troupe “Geringonça”, evocando o “Carnaval de outros tempos”, com as cores dos fatos a lembrar os loucos anos 20 do século passado, nas tonalidades de vermelho e preto. Além desta evocação daquela época rica em festas e alegria de viver, estiveram ainda patentes outras roupagens mais típicas do Carnaval brasileiro. Este foi um dos grupos que trouxe muita gente para a baixa citadina, com os seus 190 figurantes.

Os Cariocas surgiriam em seguida, incumbidos do “Resgate da Alegria”. E bem tentaram resgatá-la, sendo, de resto, os seus esforços bem sucedidos. A troupe trouxe muita cor, com 150 figurantes nesta “escola de samba” fundada em 1980, marcada por uma forte inspiração do Carnaval de Terras de Vera Cruz e que mostrou roupas muito elaboradas. A motivar os seus correligionários, entre os quais se podia ver muita beleza feminina, o inestimável professor Tibúrcio, presente no carro alegórico.

A Associação Animad, uma agremiação motivada pela defesa da causa animal. trouxe pelo seu lado o tema “Heróica”, de inspiração, portanto, épica. Os elementos deste grupo carnavalesco apresentaram-se criativamente vestidos à moda de antigos deuses ou guerreiros.

Veio depois a Associação Cultural Império da Ilha, que foi buscar o tema histórico do “ouro branco”, ou seja, o açúcar. Recorde-se que foi a riqueza açucareira que potenciou a economia da ilha e motivou a burguesia de então a adquirir belas obras de arte flamenga que ainda hoje adornam as paredes dos nossos museus. Aliás, uma grande exposição dos museus da Madeira, denominada, precisamente, “As Ilhas do Ouro Branco”, está neste momento patente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Os tempos áureos do comércio do açúcar na Madeira foram, então, evocados por esta troupe, que apresentou fantasias de inspiração animal, procurando lembrar os escravos africanos que vieram, então, trabalhar na apanha da cana na Madeira. Outros figurantes apresentavam-se, de forma divertida, vestidos de cozinheiros, enquanto outros exibiam o verde em abundância, representando a cultura da cana de açúcar. Muitas cores diferentes estiveram, de resto, presentes, como o vermelho, ou o amarelo.

 

A desfilar pela primeira vez esteve o “Fitness Team”, um agrupamento que se estreou este ano com o tema “Terra à Vista”, com os figurantes a desfilar ao som de ritmos mais modernos de dança, vestidos de azul. Bem conseguido foi o carro alegórico em forma de barco, simbolizando a descoberta insular. Outras cores também estiveram patentes, como o verde, o azul ou o castanho.

O grupo “Sorrisos de Fantasia” inspirou-se no tema “Madeira, do fogo ao paraíso”, tentando recriar as próprias origens vulcânicas da Madeira. Com roupas de inspiração greco-romana, inspiradas nos antigos deuses da mitologia, a troupe trouxe também figurantes com vestes decoradas com uvas, representando a produção do vinho que tornou o nome da Madeira famoso em todo o mundo.

Esta troupe caracterizou-se pela presença de cores quentes, como o vermelho, o laranja ou ou amarelo, a recordar o fogo e a lava primordiais. Outras roupas, bastante imaginativas, recriaram também a ideia da avifauna do arquipélago.

Já o grupo “Tramas e Enredos” trouxe a ideia de “Retalhos da Ilha”, propondo trajes de época, a lembrar o tempo dos Descobrimentos, além de exibir os trajes carnavalescos mais convencionais. O carro alegórico era particularmente feliz, decorado com a cana de açúcar e com um belo lobo marinho à frente.

A encerrar este movimentado desfile, ao qual assistiram múltiplas personalidades, entre as quais o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, e o embaixador da Bélgica, Boudewijn Dereymaeker, que chegou a falar à RTP, que transmitia o evento em directo, veio a conhecidíssima Caneca Furada. Uma das principais instituições do Carnaval na Madeira, escolheu o tema “600 anos em festa – Fim de ano na Madeira”, trazendo muitos figurantes, cerca de duas centenas, a encerrar o percurso com muita animação e folia. A inspiração principal dos fatos foi a representação do fogo-de-artifício próprio do fim de cada ano, vivido no Funchal e que tem uma imagem turística internacional de grande relevância.