Separar as águas

 

Agora, tudo ficou mais claro. O actual presidente da Câmara Municipal do Funchal está disponível para encabeçar a lista do PS às próximas legislativas regionais, perfilando-se como candidato a presidente do Governo Regional da Madeira.

Há muito que se desconfiava desta sua intenção. Eu próprio, num artigo aqui publicado em 26 de Julho de 2017, a propósito de uma sondagem sobre as eleições para a Câmara do Funchal, escrevi que Paulo Cafôfo deveria elucidar os funchalenses se tencionava ou não cumprir integralmente o mandato para o qual se recandidatava. Então, a resposta parecia ser sim, e os eleitores confiaram-lhe o voto para presidir à Câmara durante um mandato.

Contudo, perante calculada e cortejada oportunidade política, traçada pelas imperiosas eleições no PS, logo o compromisso com os funchalenses foi posto de lado, porque a maioria dos militantes socialistas acredita que, com Paulo Cafôfo, há a possibilidade de conquistar o poder regional, aspiração, na verdade, também acalentada por muitos cidadãos não filiados naquele partido.

Não se discute a ambição de um cidadão, nem tão-pouco o não cumprimento integral do mandato para o qual mereceu o voto da maioria dos eleitores, facto que não é inédito. As circunstâncias ditam as oportunidades e a política, tantas vezes, foge aos desígnios da coerência da palavra dada, em nome de outros valores, mais ou menos generosos.

No entanto, há questões que merecem ser analisadas. Paulo Cafôfo foi eleito para a CMF através de uma coligação de diferentes forças partidárias, perante as quais tinha também o compromisso de assumir a presidência durante um mandato. A sua nova postura obriga as forças da coligação autárquica para o Funchal a repensarem a sua participação no projecto «Confiança», dado que o pressuposto fundamental da mesma – servir o município durante quatro anos – deixou de existir.

Quem quiser sobreviver politicamente, terá de assumir uma posição neste novo, mas previsto cenário. Ou continuará vinculado à coligação, que ficou sem cabeça, na expectativa de eventual coligação para as regionais, onde obterá migalhas, ou lutará pelos interesses dos munícipes do Funchal, marcando a sua identidade, mas sem os impedimentos que, com frequência, as lógicas dos acordos eleitorais, impõem.

Por outro lado, não deixa de ser importante analisar até que ponto não há uma sobreavaliação, por parte do PS-M, no seu posicionamento para as regionais. O efeito das políticas do governo de António Costa é favorável, mas o confronto Lisboa-RAM trará ao de cima o debate autonomista e as tentativas de interferência do Centro no poder regional, pelo que se impõe, aos novos protagonistas, profundo conhecimento das questões mais contundentes e adequada competência técnica.

A onda, que envolveu um candidato independente, apoiado por diversas forças políticas, para um segundo mandato autárquico no Funchal, poderá não se repetir para a Assembleia Legislativa da Madeira, porque se mostra bem diversa a dinâmica do próximo acto eleitoral.

Até lá, há muita pedra para partir…, embora se sinta, junto do eleitorado, significativa vontade de mudança. Ganhará quem mostrar saber interpretar e corresponder a essa vontade.