Crónica de viagem: Szentendre (Santo André), cidade dos artistas

Rui Marote

A cidade de Szetendre (Santo André) é pequena em tamanho, mas bastante atraente, situando-se na margem do Danúbio, relativamente perto de Budapeste. Fica a meia hora da capital húngara de automóvel, sendo povoada por muitas igrejas e museus.

É um ambiente bastante curioso e susceptível de agradar a todos, misturando o interesse histórico com a natureza que a rodeia e pela proximidade do rio Danúbio que Strauss tanto celebrizou na sua valsa.

Fundada no século XI, a urbe teve o seu primeiro templo cristão consagrado a  Santo André, e o nome pegou. Até ao século XIV era uma aldeia sem grande relevância, mas nesse século o rei tomou posse do território da aldeia, e nos anos seguintes Szentendre conquistou vários privilégios. Durante o século e meio em que os turcos dominaram a localidade, a mesma acabou por se despovoar, com os seus habitantes mortos ou fugidos do domínio otomano.

Foram os sérvios – também eles refugiados da sua região por causa da ocupação turca – que vieram para a Hungria quando as terras magiares já estavam livres dos muçulmanos, enquanto o seu país ainda continuava sob a opressão Otomana. Chegaram em grande número no fim do século XVII e fixaram-se em Peste, na margem do Danúbio, em Buda (no vale de Tabán) e nas aldeias que tinham ficado vazias, como Santo André. Aproximadamente seis mil deles fixaram-se neste local.

Vinham com a ideia de um dia regressarem, e por isso tentaram guardar as suas tradições: os vários grupos de sérvios estabeleceram-se em diferentes partes da aldeia, formando assim mehalas — ou seja, bairros pequenos dentro da cidade. Mas rapidamente assumiram Szentendre como a sua nova pátria, e dedicaram-se a comerciar pelos rios.

A aldeia e os seus habitantes prosperaram, então, surgiram prédios mais bonitos e todas as mehalas construíram as suas igrejas, do culto ortodoxo e permanecendo até hoje. Santo André atingiu a sua máxima importância no século XVIII, depois estagnou. Mas é por causa disso que a cidade mantém até hoje o seu estilo antigo.

Como no século XIX já não se construía quase nada, hoje em dia o ambiente da vila evoca o século XVIII: encontramos aqui todo o romantismo e intimidade de outras épocas. É natural que Santo André tenha sido descoberta pelos artistas por causa da sua beleza e do ambiente que nela se vive: hoje tem a fama de ser a cidade dos artistas, vivendo ali muitos criadores húngaros, entre pintores, escultores, escritores, actores e etc.

Em muitas casas antigas abriram pequenos museus, e a aldeia tem colecções muito ricas, relevantes mesmo a nível mundial. Entre os locais mais conhecidos conta-se o Museu de Margarita Kovács, a ceramista húngara mais conhecida na época moderna, representando a art nouveau. O museu fica na rua de György Vastag, nº 1 (Vastag György utca 1.), na casa duma família sérvia. É um edifício típico do século XVIII.

Passeando pelas ruas da vila podemos ver também outros museus: por exemplo o Museu Ferenczy (Ferenczy Múzeum) é digno de atenção. Este museu apresenta as obras de quatro membros da família Ferenczy (aliás, durante várias gerações a maior parte dos membros da família eram artistas), fica na praça Maior (Fő tér), portanto no próprio centro de Santo André, a parte mais conhecida da vila.

A maior parte das ruas típicas desembocam nesta praça, tanto a rua Dumtsa, como a Bogdányi. Cada uma delas é formada por uma fileira de casas antigas de cores diferentes, os edifícios foram bem reconstruídas. Actualmente, em cada edifício funcionam lojas pequenas e tradicionais ou restaurantes, bares, cafés.

A igreja ortodoxa mais bonita do país também se encontra na praça Maior (Fő tér) de Szentendre. É uma igreja de sérvios, e é denominada Blagovesztenszka, o que significa Nossa Senhora da Anunciação. Foi construída em meados do século XVIII, em estilo barroco-rococó. O mobiliário e a parede de ícones são da autoria de Mihály Zsivkovics, que seguia a tradição sérvia.

Na praça mais importante, é possível encontrar uma cruz ortodoxa feita pelos sobreviventes da epidemia mais terrível de peste que afligiu a Hungria, em 1763. A construção da cruz foi financiada por uma Companhia Comercial dos Sérvios mais privilegiados da localidade. Nesta cruz não há nenhuma escultura porque a religião ortodoxa não o permite, mas tem imagens pintadas — o que é permitido — de vários santos ortodoxos.

Em frente da igreja de Blagovesztenszka há um beco que se esconde entre dois edifícios. Subindo esta rua pequena podemos chegar ao ponto mais alto de Santo André, onde se encontra a praça da Igreja (Templom tér) rodeada por um muro antigo, à beira do qual podemos contemplar os telhados da vila e o Danúbio. No meio da praça encontramos uma igreja consagrada a São João Baptista, o centro paroquial da cidade, quase a única igreja católica de Santo André. A sua construção começou há tanto tempo que não há memória, mas o prédio teve  obras pela primeira vez no século XVIII.

Este século deixou as suas marcas na igreja que — como toda a vila — reflecte o estilo barroco. No entanto o altar-mor já é rococó. Várias torres de igrejas podem avistar-se daqui, por exemplo a igreja de Csiprovacska, a de Pozsarevacska e a de Perobrazsenszka.

Já fora da própria cidade pode ser encontrado o Museu Etnográfico ao Ar Livre (Szabadtéri Néprajzi Múzeum) inaugurado em 1974. O museu apresenta mostra grande variedade de aspectos de cada região etnográfica da Hungria. Cada pormenor foi desenhado por especialistas que optaram por construir aldeias pequenas, embora não artificiais: as casas existiram algures na Hungria, de onde foram desmontadas e depois outra vez montadas no museu. Não só as casas são originais, mas também o seu mobiliário. Claro que nelas não habita ninguém. De tempos a tempos são convidados artesãos para mostrarem a sua profissão aos turistas de passagem.