“Câmara de burocracia demora muito tempo a responder às pessoas”, acusa candidato do MPT em Santana

Santana-MPT-Eduardo Freitas B
O candidato do MPT à Câmara de Santana está preocupado com a desertificação do concelho.

Para assumir a candidatura à Câmara Municipal de Santana, o Movimento Partido da Terra confia o desafio a um jovem de 30 anos de idade, deficiente motor, natural do concelho, com muitas certezas naquilo que pretende abordar e com as dúvidas que normalmente atingem a juventude, uma faixa da população que está em clara desvantagem na perspetiva da vida que a espera e na esperança que os políticos não dão.

Eduardo Freitas confessa que o convite que lhe foi endereçado por Roberto Vieira, no sentido de se candidatar à Câmara Municipal, correspondendo a uma aposta do partido de apresentar candidaturas em todos os concelhos, veio ao encontro dos seus projetos pessoais, uma vez que “sempre quis ter esta experiência na política, ver como as coisas funcionam por dentro e aceitei depois de ponderar bem esta aposta”. Não está arrependido, afirma que “não tem corrido mal”, para mais tratando-se de uma primeira experiência, o que naturalmente deixa alguma insegurança por estar a pisar terrenos a que não estava habituado. “Às vezes ficamos nervosos, a língua trava, mas de resto tem sido bom”.

Pessoas da minha geração estão a emigrar

A grande lacuna que tem a apontar ao seu concelho prende-se com “a desertificação”, referindo mesmo que “existem freguesias que estão a perder pessoas, sobretudo pessoas da minha geração, quase todas estão a emigrar. Vão embora e muitas dizem-me que aqui não há nada para fazer, não há incentivos para que se fixem, é um problema grave para o futuro”.

Continua abordando a questão dos jovens, por ser realmente “importante”. Além de emigrarem, os poucos que ficam “enfrentam uma grande burocracia se quiserem montar uma empresa. É uma dificuldade e um custo muito grande, com taxas atrás de taxas. Conheço casos de jovens que estão emigrados, querem voltar para investir em explorações pecuárias, mas dão de caras com problemas, uma hora porque os encargos são muitos, outra porque a Câmara não permite fazer por causa do PDM. E assim as pessoas preferem ficar no país estão, dizem mesmo que lá já têm a vida construída e veem que se quiserem regressar têm ainda maiores dificuldades. Nem pensam voltar”.

Câmara com excesso de burocracia

Acusa a Câmara de excesso de burocracia e de “demorar muito a responder às pessoas”. Diz que essa atitude “é má tanto para os residentes como para aqueles que aqui pretendem fixar residência ou investir. Os processos têm que ser mais céleres, não podem constituir entrave ao pouco desenvolvimento que o concelho possa captar”.

Com o sonho da juventude ainda em mente e com a determinação que a vontade de vencer lhe dá, acredita naquilo que muitos já deixaram de acreditar há muito. Santana pode inverter o ciclo do isolamento, pode transformar-se de repente num concelho de investimento e emprego? Responde que sim, tem confiança nas pessoas, aquelas que demonstram força para levar o concelho para a frente. Sabe das dificuldades de emprego, sabe que os jovens emigram e sabe que é preciso combater a tal desertificação que fala. Mas também acredita: “Estou convencido que é possível. Basta simplificar processos. E assim que Santana mostrar que está aberta a investimento e para isso criar incentivos, vão ver que os emigrantes podem investir e até mesmo empresários que neste momento estão noutros concelhos, mas que futuramente poderão vir para Santana se houver atratividade de negócio. O que é preciso é fazer e não baixar os braços nem ficarmos resignados ao que temos”.

Parque Industrial vazio pode ter aproveitamento

Diz que o Parque Industrial “que está vazio, podia ser aproveitado”. Sublinha que “se dessem vantagens consideráveis, penso que aquele espaço poderia ser viabilizado, ter vida e dar retorno ao concelho, mesmo que não seja no imediato mas em preparação para o futuro. As vantagens diretas e indiretas seriam muitas”.

Campanha virada para as pessoas

O tempo de campanha do MPT, diz Eduardo Freitas, “será mais virado para as pessoas, com particular incidência nos agricultores”. Afirma tratar-se “da nossa base económica “, mas faz referência às dificuldades do setor e à forma como está a ser encarado hoje. “Aquilo que o agricultor recebe da venda dos seus produtos não cobre os custos de produção. Não dá. Além disso, muitos queixam-se que ainda têm que pagar para ir vender os produtos correndo o risco de serem parados pela polícia que ainda pede fatura da produção. São multados, ficam sem o produto e sem o carro. Por estas e por outras, as coisas não poderiam ser mais simples? Claro que podiam. Podiam e deviam”.

Problema dos caminhos agrícolas

Os caminhos agrícolas constituem outro problema. O candidato do MPT fala do que sabe, chegam-lhe queixas e muito concretas: “Há caminhos que foram reparados há pouco tempo e que já estão cheios de erva. Ninguém pode passar, nem um carro 4×4. A Câmara podia fazer alguma coisa, limpando o que é seu e procurando que os proprietários limpassem os seus terrenos”.

Eduardo Freitas entrou neste projeto num contexto em que os jovens estão alheados da política. É jovem e sabe muito bem as razões que levam os mais novos a “fugir” das instituições e do voto. Diz que “a política é um jogo de interesses, dos mesmos partidos, que acabam por não beneficiar a vida das pessoas”. Em Santana, neste mandato, houve mudança, mas está convencido que “o eleitorado pode alterar de novo o seu sentido de voto”. Não diz para quem, mas deixa a dúvida da avaliação que faz e daquilo que ouve no dia a dia.

É difícil passar ideias novas

Um eleitorado conservador, sobretudo no momento de dar confiança através do voto, cria enormes dificuldades aos pequenos partidos. “É dificil passar ideias novas, temos um eleitorado idoso, com medo de arriscar. E temos pessoas que votam pela opção partidária de família. Assim, é complicado. Por isso, queremos captar um eleitorado jovem, mas também muitos jovens emigraram e os que aqui estão dizem que é mais do mesmo e por isso não votam. Dizemos que não é bem assim, que o voto deles conta e muito, mas nem sempre conseguimos fazer passar a mensagem”.

As acessibilidades para os deficientes motores é um tema que Eduardo Freitas tem presente. Também ele sente dificuldades pelas barreiras arquitetónicas criadas a pessoas com mobilidade reduzida. Quer outra mentalidade. E apesar de reconhecer que as novas obras do concelho já atenderam a esta situação, diz que “por todas as freguesias ainda há muito para fazer, nos passeios e nas escadas, onde não há alternativa de acesso a pessoas com mobilidade reduzida. É preciso alterar isso ainda mais. Veja uma coisa simples e tão complicada. Os multibancos não estão preparados para serem usados por pessoas em cadeiras de rodas, como eu”.