Comunicação social? Branqueamento em marcha é dinheiro em caixa!

Ilustração de José Alves.

O Estepilha não consegue alcançar a razão de tamanho alarido com o último roulement na comunicação social madeirense. Se o objetivo dos negócios empresariais nos media buscam a pluralidade da informação, qual é então o engulho?

Das duas uma: ou é dor de cotovelo à madeirense ou então a malta tem de ir buscar a cura para o ressabiamento. Curem-se, por favor, que já vai sendo tempo! É que, analisando imparcialmente e deontologicamente a notícia da renovação no jornalismo, como diria a ERC, tudo parece mais transparente do que a própria água.  Os players do negócio estão acima de qualquer suspeita e só a partir de agora é que a livre concorrência editorial começa a funcionar na Madeira. Parem tudo e apaguem o histórico que isto agora é que é a sério.

Está bem, o Estepilha ainda poderá condescender e supor algo absurdo para não parecer naif. Talvez, e só talvez, possa haver uma semelhança aqui e acolá. Mas nada de substancial que viole o primado da independência, valha-nos Deus! Uma folha de cálculo aqui, outra folha de cálculo acolá, uns trails das autarquias de um lado, a opinião dos governantes do outro, uma newsletter da tecnologia daqui, um Panda do outro lado, um piscar de olho aos emigrantes endinheirados daqui, um acenar a outros com o fitness do outro lado, uma miss a apresentar a gala dos globos de ouro da máquina branqueadora “lave mais…”, a culinária gratuita do outro lado… e, assim, num passinho lento e certeiro, como sabem os doutores do jornalismo económico, a notícia sai embrulhada para o leitor no estrito cumprimento da objetividade, rigor e interesse público. É só o que se precisa. Como diria Sophia de Mello Breyner Andresen, quando se renuncia à poesia, à santidade e ao amor, vale tudo.

O jogo já está todo na mesa? Não. Ainda agora começou, avisa o Estepilha. Vêm aí mudanças de fundo em nome desse paladino da informação que é o pluralismo e a livre concorrência, há  muito ansiada. Ainda ninguém o disse abertamente – o segredo é a alma da folha de cálculo – mas segue-se a operação de maquilhagem Channel: mudar umas peças para que o leitor fique com a ilusão ótica de que parece que tudo deu efetivamente uma cambalhota e até vale a pena. Com o passar do tempo, porque o que importa ver é quem corre para a maratona e não para os 100 metros, a folha de cálculo com o saldo é aquela que falará mais alto nas reuniões. Se for deficitária, há que trabalhar mais e melhor para equilibrar as contas e entra em cena a operação “branqueamento em marcha, é dinheiro em caixa”.  Tudo muito suavecito, despacito, como eles aprenderam na Venezuela nas noitadas com os empresários e políticos numa irmandade jornalisticamente independente, ou então short and sweet, à moda de Sua Majestade, para que o leitor continue a pensar que, na dúvida, vale a pena.

Contestações? Nem pensar. A oposição ou entra no jogo ou só os seus espelhos de casa difundem as suas iniciativas. Outros, ainda da oposição, recuperam dos milhares que injetaram nesta imprensa independente no tempo da vacas gordas e depois, a tal folha de cálculo, descartou-os no pós desaire eleitoral como será o fatum de alguns de agora. Outros órgãos de comunicação social a dizerem que o rei vai nu? Impossível. Se vier do Funchal Notícias, dirão solicitamente e em bélicas prosas, sempre com muita seriedade, modéstia e espírito cristão,  que vem de gente que nada percebe de jornalismo e que padece do ressabiamento crónico e de quinhentos telhados de vidro. E os demais jornalistas, obrigados ao serviço público e também vítimas deste joguete, só têm de saber dançar a música e desfrutar do arraial para o vencimento não falhar. Consulte-se o histórico e veja-se a listagem dos despedimentos porque os estágios profissionais compensam. A população em geral? Luta com impostos e mais impostos para fazer face a uma luta diária e tem mais que fazer que abrir os olhos para denunciar seja o que for. Esgotou-se-lhe a paciência e forças para aturar o negócio da comunicação social.

Mas o Estepilha, que paga para trabalhar, estará vigilante para assistir ao arraial até os festeiros terem dinheiro para pagar todos os foguetes.