Caloteiros até na hora da morte: agência funerária ficou “a arder” com 50 mil euros de dívidas

funera6O assunto  é mórbido mas ninguém pode escapar à sua inevitabilidade. A morte faz parte da vida mas acontece também que se dá o insólito de haver famílias que acumulam calotes dos funerais junto das agências funerárias da Região. Uma realidade que nem ao humor negro se presta.

O principal responsável de uma agência funerária da cidade, com mais de meio século de existência, enfrenta uma dívida dos clientes da ordem dos 50 mil euros. Apesar de não querer se identificar, alerta para a circunstância de, como ele, outras agências atravessam situações financeiras muito delicadas, por conta de quem solicita a realização dos funerais e não paga o que deve.

Há ainda outros contornos problemáticos. O Instituto de Segurança Social da Madeira atribui a cada família, por funeral, um subsídio da ordem dos 1275 euros para comparticipar nas exéquias. Acontece que muitas são as famílias que recebem o subsídio, usufruem do funeral feito pela agência e nunca pagam os créditos em dívida. Um assunto que é do conhecimento das próprias autoridades mas que não se responsabilizam pelos atos posteriores dos utentes.

A situação é de tal maneira grave que o nosso interlocutor chegou a um ponto que, face ao passivo elevado, só passa o recibo – que permite levantar depois o subsídio na Segurança Social – após o pagamento do serviço encomendado. Nem todas procedem assim mas a maioria já optou por esta solução para não ter de fechar as portas.

Outro dado que não deixa de ser curioso é que os indivíduos mais abastados são os principais caloteiros, afiança-nos este empresário com larga experiência no setor. Como é do conhecimento geral, as famílias poderão optar por um funeral modesto com participação na comunicação social, que vai ao encontro do valor que a Segurança Social paga, mais coisa, menos coisa, consoante os casos, se leva ou não outros ornamentos. No entanto, há famílias a escolherem um serviço da agência funerária com urnas de luxo e outros “adereços”, mas a conta fica por saldar. Compete depois às funerárias arcar com este problema, quando são elas que adiantam os valores para a publicitação, na imprensa, dos mortos e promovem o respetivo serviço.

funer1“Diga-me como vou recuperar estes 50 mil euros de dívida? Nunca se recupera. O funeral foi feito e as participações. Telefona-se às pessoas e, ou não atendem ou então alegam que vão pagar e pedem dias para o fazer. Mas nada chega à tesouraria. Somos nós que temos que arcar com esta dívida e, como se sabe, as empresas não nadam em dinheiro e para terem as portas abertas pagam os seus impostos ao Estado que não espera por nós”, relata este agente funerário.

Recurso para a justiça para recuperar os créditos em dívida? O sorriso irónico desponta imediatamente do outro lado: “Só os custos para apresentar uma ação em tribunal e a maçada e demora da nossa justiça à portuguesa mandam logo ficar quieto”.

Participações em saldos

Um dado positivo para a população é que, dada a concorrência entre jornais na Região, o custo elevado das participações – chegava a orçar os 150 euros por cada publicitação – está mais acessível, ficando-se entre os 40 e poucos euros num dos jornais e 50 e poucos euros noutro.

Ainda assim, apesar da baixa de custo, atendendo às dificuldades económicas das famílias e à concorrência entre a imprensa, há cidadãos que teimam em não saldar as contas por um serviço que foi dignamente realizado. A ponto de se recomendar o bom senso à população no sentido de fazer contas à vida e optar por um serviço de acordo com a sua disponibilidade financeira, até porque, na hora da morte, “há que agir com dignidade a todos os níveis”.

 

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Crematório a funcionar

Cada vez mais, a opção de cremar os seus mortos por parte das famílias é uma realidade. Está longe de ser a maioria que prefere o modelo tradicional. Mas também a este nível, o FN sabe que, há cerca de um ano, muitas eram as críticas pelo facto de o crematório de São Martinho não conseguir dar resposta, rapidamente, a todas as solicitações porque não funcionava sempre. No entanto, este agente funerário garantiu que a questão está ultrapassada. Todos os dias há cremações e, quando a máquina avaria, a solução é recorrer ao frigorífico e, se a avaria for mais demorada, o corpo vai para o Porto Santo e o serviço é concluído. No entanto, a este nível não se registam reclamações, pelo menos que este agente tenha conhecimento.

Há mais de 50 anos a trabalhar na Região, o nosso interlocutor não esconde o seu desencanto perante o caráter de algumas famílias. Ressalva, contudo, que “não é a maioria, mas que há um número já significativo que não cumpre as suas obrigações”. Por isso, recomenda que todos os colegas sigam “a solução de emitir recibo após o pagamento à agência, sem o qual não poderão beneficiar do apoio da Segurança Social”. Mas é um assunto que deixa ao critério da concorrência.