William Shakespeare para sempre em cena

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Um pouco por todo o mundo está-se a comemorar ao longo deste ano de 2016, os 400 anos da morte do sublime dramaturgo e poeta inglês, de seu nobre nome, William Shakespeare. Para muitos entendedores da arte teatral, é considerado o maior dramaturgo de todos os tempos. Nasceu, provavelmente, a 23 de abril de 1564 em Stratford-upon-Avon e morreu, também, a 23 de abril de 1616 na mesma cidade. Após quatro centenas de anos da sua morte, a sua obra teatral continua a ser uma presença solicitada e obrigatória nos palcos em todo o mundo.
Shakespeare, foi, sem margens para dúvidas, um dramaturgo polifacetado que escreveu excelentes peças em vários géneros teatrais, entre comédias como: O Mercador de Veneza, Sonho de uma Noite de Verão, A Comédia dos Erros, Muito Barulho por Coisa Nenhuma, Noite de Reis, Medida por Medida, etc. Nas tragédias deixou-nos textos como: Romeu e Julieta, Júlio César, Otelo, Macbeth, António e Cleópatra, Coriolano, Rei Lear, e Hamlet, entre outros. E ainda dramas, tais como: Henrique IV, Ricardo III, Henrique VIII.
Os textos de Shakespeare são marcas de cultura que têm atravessado gerações e sobrevivido no palco – teatralmente falando – porque são histórias que apaixona-nos com a sua bela arte dramática. Com passagens, versos ou frases que ficaram na memória das pessoas. Quem não conhece a sua famosa frase “ser ou não ser, eis a questão” que faz parte da peça “Hamlet”. Esta é realmente uma das frases marcantes, profundas e até conhecidas da literatura dramática mundial. E quem já não leu, ouviu ou viu a tragédia Romeu e Julieta. Nomes que marcam a mais intemporal das histórias de amor. Por falar nesta obra é curioso pensar-se que “se Romeu e Julieta não tivessem morrido, a civilização ocidental não seria a mesma, garantem críticos literários e estudiosos da obra de William Shakespeare.” Fonte: http://super.abril.com.br/cultura/e-se-romeu-e-julieta-nao-tivessem-morrido).
A obra de William Shakespeare é tão rica e popular porque centra-se em situações presentes no meio da Humanidade e daí fazerem parte do reportório teatral das grandes companhias da arte dramática por esse mundo fora. Uma obra literária tão vasta com cerca de 40 peças e mais de 150 sonetos,  deixados por este mestre do teatro, que daria, certamente, para trabalhar teatralmente neste caso, durante anos e anos. Temas como o amor, vingança, o ódio, a morte, a traição, o ciúme, o poder, entre outras questões sociais e temas políticos são constantes nas obras Shakespearianas. É uma obra tão inspiradora que, de forma constante, tantos criadores por esse mundo fora, pegam nos seus textos através do teatro, da dança, do cinema, da música, da ópera, das artes plásticas e criam diversas performances artísticas.
As peças de William Shakespeare produzem uma teatralidade tão forte em cena, que leva a que estes textos sejam constantemente traduzidos e encenados em todo mundo, mesmo quatro séculos depois da morte do seu autor.
As obras Shakespearianas também têm sido reescritas e por vezes alvo de arranjos dramatúrgicos, mais ou menos livres, o que para muitos conservadores é uma calúnia. Quando se fala em clássicos da dramaturgia, parece que há um medo de adaptar – sem desvirtuar – os textos. Há os que se mantêm fieis à íntegra do texto, não cortando uma única palavra e, há outros – nos que me revejo – que preferem cortar algumas palavras, ou passagens de forma a adequar o texto ao grupo em questão e ao público-alvo. Obviamente, que os cortes não poderão ser feitos à bruta. No entanto, há que ter em conta que os textos originais foram escritos para uma determinada época que deve ser respeitada, mas também têm que ser percetíveis nos tempos atuais. É um assunto polémico, bem sei. E há que ter o maior respeito pelas obras que não são nossas. Por vezes, os textos são distorcidos e simplificados até dizerem o que a obra original não diz. A verdade, porém, é que muitas vezes, assistimos a espetáculos teatrais ditos clássicos – como os de William Shakespeare – que são uma “seca” autêntica, por terem textos massudos ou com passagens muito repetitivas. É importante ouvir a sabedoria dos entendedores da obra Shakespeariana, mas também temos que avançar com os nossos conceitos artístico-teatrais. Pois nas palavras sábias de William Shakespeare “aceita o conselho dos outros, mas nunca desistas da tua própria opinião.”
Atualmente, muitas peças de Shakespeare são encenadas numa perspetiva contemporânea. Até já se adaptou, e bem, em livros algumas obras para o universo infantil. Julgo ser muito pertinente adaptar ao palco, clássicos de Shakespeare para o público infantil. É uma forma bastante enriquecedora das crianças experienciarem o teatro do maior autor da dramaturgia contemporânea ocidental. Ao menos vão ficando com uma ideia sobre estas histórias que têm encantado a humanidade.
Infelizmente, na Madeira, assistimos há uma quase total ausência da representação teatral das peças de William Shakespeare, pelos grupos locais. Só aparecem no palco, ocasionalmente. E na Madeira temos uma razão acrescida para conhecermos bem e levarmos à cena as peças de William Shakespeare, pois este dramaturgo referiu na sua obra o nosso precioso vinho Madeira, como podemos constatar na peça “Henrique IV” onde Falstaff é acusado de trocar a sua alma por uma perna de frango e um cálice de vinho da Madeira.
No entanto, as comemorações dos 400 anos da morte de William Shakespeare não foram esquecidas em Portugal, pois entre outras iniciativas, numa parceria entre o Teatro Nacional D. Maria II, e o Teatro Municipal São Luiz, realizou-se um festival Shakespeare, denominado “Glorioso Verão”, entre 8 julho e 13 agosto.  Neste evento apresentaram-se diversos espetáculos a partir da obra de Shakespeare, ocupando diversas salas, mas também o espaço público da cidade.

A obra de Shakespeare também está, artisticamente, consagrada no cinema, como nos seguintes casos: “Romeo and Juliet” de Franco Zeffirelli; “Hamlet” de Laurence Olivier; “Macbeth” de Roman Polanski; “King Lear” de Peter Brook, entre outros.
Apraz-me esta ideia de em pleno século XXI continuarmos a realizar espetáculos, a partir da imemoriável obra de Shakespeare que morreu há 400 anos e que continua ”bem vivo”. Os temas shakespearianos continuam a agradar tanto a profissionais como a amadores porque são muito estimulantes, até para outras linguagens artísticas além do teatro, como a televisão, cinema, a ópera e literatura.
A grandeza dos textos de Shakespeare, tanto no teatro como na poesia, empela as pessoas a revisitar, esporadicamente, a sua obra. Temas tão ligados a essência do ser humano como a traição, o amor, a paixão, a vingança, o poder, o ódio, etc., serão eternos. Por isso é que importa conhecer o teatro e a poesia de William Shakespeare, para gozo próprio – estético ou outro – e aumentar assim a nossa cultura geral através do conhecimento destas obras. Para finalizar, deixo-vos com uma frase de William Shakespeare, que aprecio imenso: “O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e todas as mulheres são apenas atores.”