Crónica urbana: CR7 ‘Hórus vivo na Terra’

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Rui Marote

Já vi este filme em 1975. Ninguém pensava nessa altura na Internet, muito menos no Skype. Na altura, muitos destes governantes estavam no Externato da Apresentação de Maria ou no Lactário…

Foi quando Samora Machel entrou em Moçambique, através de Cabo Delgado, no norte, vindo da Tanzânia. Em Porto Amélia falou aos macondes e perguntou-lhes: “Quem é esta Amélia?” Silêncio absoluto. Decisão imediata: agora passa a chamar-se Pemba.

Ao entrar em Lourenço Marques, Samora fez a mesma pergunta: “Quem é Lourenço Marques?” A multidão não respondeu. Samora decidiu: Agora chama-se Maputo.

Nos primeiros meses de mandato resolveu alterar toda a toponímia da cidade. A Avenida Pinheiro Chagas passou a chamar-se Mondlane, a General Massano de Amorim passou a chamar-se Mao Tse Tung… Vamos ficar por aqui.

Já em Macau os chineses não alteraram os nomes das avenidas e ruas que antes da entrega à China tinham o nome em Português e em Mandarim e lá continuam.

Toda esta explicação deve-se a ter sido anunciado que o Aeroporto da Madeira passaria a chamar-se Cristiano Ronaldo. E também ao facto de já estar a correr uma petição pública que transcrevemos: “Independentemente de admirarmos ou não o Cristiano Ronaldo, a mudança do nome do aeroporto desta linda ilha para distinguir este jovem talentoso é uma medida desmesurada. A ilha da Madeira é grandiosa pela sua natureza e pelo seu povo no seu todo. Vamos nos unir para demonstrar aos políticos da nossa terra que o povo é soberano e tem orgulho no seu tão famoso AEROPORTO DA MADEIRA. Valorizemos o Cristiano Ronaldo, bem como todos os madeirenses com grandes feitos, mas sem que os restantes madeirenses percam a sua identidade“.

Quero recordar que nos anos 60, quando aterrávamos no Aeroporto, a hospedeira anunciava: acabámos de aterrar no Aeroporto do Funchal. E assim continuou longos anos, até o município de Santa Cruz se insurgir. Passou-se então a anunciar: acabamos de aterrar no Aeroporto de Santa Cruz – Madeira.

Passados alguns anos, o Aeroporto ficou a chamar-se somente Aeroporto da Madeira, que é conhecido internacionalmente.

Quero recordar um episódio bem recente, quando Miguel Albuquerque era presidente do município do Funchal. Comemoravam-se então os 500 anos da urbe e nessa altura eu era deputado municipal. Apresentei na Assembleia uma proposta para que o Dr. Fernão de Ornelas fosse condecorado, a título póstumo, com a medalha de ouro da Câmara no Dia da Cidade.

Recordo que caiu o Carmo e a Trindade naquela sala de sessões. Porque a proposta não saíra do partido da maioria, tentou-se desvalorizar aquele a quem chamei o nosso Marquês de Pombal. Sessão interrompida para reunião de líderes, porque queriam aprovar um regulamento de medalhas. Não retirei a minha proposta e consegui a muito custo a aprovação da medalha para Fernão de Ornelas.

Levou dois anos para que a Câmara, no Dia da Cidade, pudesse finalmente entregar aos familiares a condecoração. Foi necessário que o filho de Fernão de Ornelas, através do saudoso advogado Pontes Leça, escrevesse a Alberto João Jardim, para que fizesse um forcing junto de Albuquerque, o que veio a concretizar-se.