Raimundo Quintal: marginal da Calheta é zona de risco

Raimundo Quintal

O geógrafo e ambientalista Raimundo Quintal considerou hoje, em declarações ao Funchal Notícias, que a ocupação hoteleira e de serviços da zona na marginal da Calheta aconteceu sem garantias de segurança e contrariando uma tendência humana de evitar aquele local para residência, ao longo de cinco séculos.

Antigamente, disse, havia uma povoação na foz da ribeira, e depois uma outra pequena povoação, situada onde está o novo hotel, onde existia anteriormente um engenho.

“A verdade é que durante tantos séculos, em toda aquela frente nunca houve construções, havia grutas na rocha onde se guardavam os barcos… As pessoas sabiam que aquela escarpa era extremamente instável, e que ali era uma zona de risco”, refere Raimundo. Por isso nunca se fixaram populações naquele espaço, nem se desenvolveram grandes actividades, aponta. “É com a autonomia e com os dinheiros fartos que se começam a construir hotéis, zonas para carros, uma série de coisas, a marina… e as pessoas convenceram-se de que colocar redes de protecção é suficiente. Tem-se verificado que não é”.

O conhecido ecologista refere que aquela área é de facto de elevado risco de desabamentos, “daquilo a que o povo chama de quebradas”.

A prova disso, salienta, é que “ora caem rochas aqui, ora ali… e não é só no Inverno que isso acontece, porque há de facto uma instabilidade muito grande”.

O forte aquecimento nestes dias, admite, “pode ser uma pequena ajuda para haja esses desabamentos”.

Até agora, constata, não tem morrido ninguém, mas com o aglomerar de pessoas e de actividades naquela zona, motivada pela praia, “o risco de acontecerem acidentes mortais é grande”.

Aquele segmento litoral, entre a foz da ribeira da Calheta, e a foz da outra ribeira, nas proximidades de onde está instalado o novo hotel, é “verdadeiramente perigoso”.

“Foi de facto muito arriscado, um abuso em relação à natureza, terem-se construído uma série de coisas naquela área, pensando-se que se dominava a natureza… não é possível. A lei da gravidade é bem mais forte, bem mais poderosa, do que a vontade de instalar actividades ali”. Por isso, alerta, aquela área será sempre perigosa.