Quanto vale um quarto de tempo?

ricardo

Um ano não é muito tempo! Na vida de hoje, representa cerca de 1,33 por cento da sua duração individual. Num mandato de um governo representa mais, um quarto desse quadriénio. Mesmo assim não é determinante para se fazer uma avaliação final! O frenesim jornalistico à volta dessa data teria assim pouco sentido. O surpreendente, porém, é assistir a um discurso dos governantes neste aniversário, como se fosse um balanço, como se tivessem de prestar contas agora. E fico a pensar na razão deste discurso justificativo. E a resposta está naquilo que hoje se denomina de gestão de expectativas. Há um ano, com a posse, o Dr. Miguel Albuquerque renascido para a politica na onda da renovação, das ideas arejadas, das posturas europeias, elegantes e civilizadas, tinha na mão a chave para o que se previa novo. Trazia a juventude de uma postura e um discurso muito bebido na história das oposições regionais (o funcionamento democràtico, a construção do novo hospital, o fim do proteccionismo do jornal da madeira, por exemplo). Embora com ligeira dúvida, houve uma confiança generalizada, um sentimento colectivo de desafogo e um desejo de mudança que levou o Dr. Miguel Albuquerque ao cimo da avenida do infante.

Com as expectativas altas, a ideia que se cistaliza é que cheirou a pouco essa renovação. Em muitos dos cargos decisores mantêm-se as mesmas pessoas. E havia tanta malta jovem na expectativa! Os procedimentos são os mesmos (veja-se a nomeação dos dirigentes e as relações económicas do Governo) e sonhava-se com o sistema da meritocracia e de transparência na administração regional. As alterações politicas são mais ajustamentos do que reformas e a Madeira precisa tanto destas. A gestão da politica regional faz-se nos jornais a quem agora se paga de forma igual, mas não se deixou de protocolizar favores.

Há um governo descoordenado, de altos e baixos, de disputas de mediatismo, de frenesins, de incompetências, de amigos e de suspeições. Há um Governo que renega o pai, mas usa da herança por ele deixada. Há um conjunto de políticos num coro sem ensaio nem harmonia, ou, mais correctamente, sem maestro nem pauta!

E o que faz o Dr. Miguel Albuquerque? Vagueia nas ondas das reacções e nas promessas de um dia que nunca é hoje! Picado aqui, solta a adrenalina, sossegado ali, plana na mornice das musicas que adora. Low profile por estilo e por falta de entusiasmo. Nota-se que gosta de estar onde está, mas não sente necessidade de se esforçar a não ser quando espicaçado. Preocupa-se, se calhar excessivamente, com as finanças, dando a ideia de ter receio de ousar. Deixa os seus secretários em roda livre e espera que sejam coordenados por telepatia!

É assim estranho analisar este ano de governo. Não por uma natural precocidade, num mandato que ainda tem três anos para durar. Mas por sentir que o Governo vive na prancha de quem acha que basta surfar. Aos excessos musculados do jardinismo sucedeu um relaxamento descompressivo e paralisante. Falta vitamina, falta arrojo, falta politica!

Numa palavra é um Governo sem sabor, sem condimento e que não conseguiu eliminar nem calorias nem toxinas. Vai sobrevivendo!