Biotecnologias azuis da Região Autónoma da Madeira reconhecidas com prémio da União Europeia

(*Com LC)

algas 1A UBQ, uma microempresa madeirense, viu a importância do seu trabalho ser reconhecida pela União Europeia ao ser premiada com uma bolsa no final do ano passado.  A segunda parte desta bolsa está prestes a ser entregue já que a previsão da sua atribuição tem a data limite de Janeiro 2016, possibilitando assim a expansão da investigação e comercialização do suplemento mineral de iodo, produto principal da UBQ.

A UBQ Laboratórios Industriais Iodo Bem está a posicionar-se no mercado das biotecnologias azuis, dedicando-se à produção de farinhas e extratos naturais, obtidos a partir de macro-algas marinhas, alimento rico em iodo, sendo este um micronutriente essencial ao funcionamento do organismo e principal produto desta empresa.

A necessidade de ingerir iodo e a sua deficiência na dieta são temas muito relevantes já que a sua carência causa graves problemas para a saúde humana. Uma das principais funções do iodo no organismo tem a ver com a síntese das hormonas da tiroide. Estas hormonas são responsáveis pela regulação do metabolismo celular, nomeadamente da taxa de metabolismo basal e temperatura corporal, e exercem um papel determinante no crescimento e desenvolvimento dos órgãos, em particular do cérebro.

Daí a importância do projecto “Blue Iodine”, que foi aprovado no dia 5 de Dezembro de 2014, tendo sido sujeito ao Instrumento de Financiamento das PME criado pela Comunidade Europeia, no âmbito do programa Horizonte 2020. Desta maneira, a UBQ tornou-se a segunda empresa portuguesa e a primeira madeirense a conquistar este financiamento destinado a promover a Investigação e Desenvolvimento (I&D) e Inovação no tecido empresarial. Nas segundas fases de candidatura foram submetidas à UE  4565 PMEs europeias propostas de projecto, que tiveram uma taxa de aprovação de 5,6%, sendo o projecto Blue Iodine da UBQ um dos projetos aprovados.algas isoplexis

Para concepção do projecto “Blue Iodine”, a UBQ contou com assistência do Banco de Germoplasma ISOPlexis (BG ISOPlexis) da Universidade da Madeira, onde o Professor Doutor Miguel Ângelo Almeida Pinheiro de Carvalho é o coordenador.

Em entrevista ao Funchal Notícias, o administrador da UBQ, Dr.João Dionísio, salientou que a mais-valia desta empresa posiciona-se também no fato de ter conseguido extrair o iodo das algas através métodos naturais e não através de químicos. Neste momento, as algas utilizadas provêm não só dos mares da Madeira mas também de fora através das parcerias internacionais.

No entanto, com esta nova bolsa, está previsto a construção de estaleiros industriais na costa marítima madeirense onde serão instalados tanques e plataformas para a criação e desenvolvimento das algas que pertencem ao mapa marítimo das macro-algas na parte sul da Madeira, mapa este já elaborado no âmbito deste projeto.

De todas as algas que se encontram na costa madeirense destacam-se três, pelo seu alto valor nutricional e químico, pertencentes ao banco de ADN do Iodo Bem, marca patenteada da UBQ.

algas2

As condições de mar e clima da região são propícias à produção em cativeiro de propágulos de macroalgas e crescimento do organismo em condições de semicativeiro, refere o administrador da empresa.  O objetivo é fornecer tratamentos   naturais a partir das macro-algas de modo a proporcionar ao nosso corpo um desenvolvimento equilibrado e saudável, tendo sempre como base as biotecnologias azuis. Desta forma, este projeto pretende alcançar um nicho de mercado na produção de farinha de macroalgas com propriedades nutracêuticas e fabricar extratos naturais capazes de colmatar as carências nutricionais e minerais já detectadas em Portugal e em outros países da Europa.

Num artigo de 2012, da  Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, intitulado de, Aporte do iodo nas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, pode-se ler na conclusão:

“O estudo do aporte do iodo, nas crianças das escolas e nas grávidas das Regiões Autónomas, põe em evidência uma nítida carência de iodo, nas duas populações e nas duas regiões, mais marcada nos Açores. Todas as iodúrias observadas são significativamente inferiores às verificadas no Continente. Na ilha de São Miguel, onde foi possível comparar as iodúrias atuais com as da década de 80, observa-se uma apreciável melhoria no aporte iodado nas crianças. Tendo em conta o potencial efeito nocivo da carência iodada, nomeadamente durante a gravidez, no desenvolvimento neurocognitivo das crianças, torna-se indispensável proceder nas duas Regiões Autónomas e com caráter urgente, à suplementação iodada nas grávidas e à profilaxia iodada através a iodização do sal em toda a população.” Este mesmo artigo refere ainda que a proximidade do mar não impede a carência de iodo e “os resultados identificados nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira são concordantes com os obtidos no Reino Unido. A elevada pluviosidade com o seu efeito «leaching», acentuando o fraco teor iodado dos solos, pode explicar em parte a carência iodada encontrada. O facto das populações, por um lado ingerirem pouco peixe e por outro lado terem uma alimentação oriunda da própria Região, o que tem maior relevo nos Açores, são certamente outros fatores a ter em conta.”

algas laboratório Zior funchal

Mas estas carências de iodo na população da Madeira já tinham sido detetadas nos anos 60 do século XX, pelo laboratório industrial Zior, cujo diretor técnico era Roiz Dionísio, que se dedicou à investigação das principais carências nutricionais humanas. Este fato foi detetado através de análises de sangue, urina e fezes de um grupo de crianças madeirenses. De maneira a combater essa deficiência, este laboratório produziu um produto em forma de xarope, ao qual deu o nome de Iodarsol. Nesta altura, o nível das carências de iodo detetadas eram semelhantes ao do estudo do artigo acima referido. Hoje o produto está totalmente reformulado e chama-se Iodo Bem e acabou por tornar-se o produto principal do laboratório da UBQ. João Dionísio retomou assim o trabalho feito pelo Laboratório Zior, e com esta bolsa da União Europeia concedida  ao projeto Blue-Iodine, pretende aumentar o número de equipamentos industrias nos laboratórios assim como o número de investigadores a trabalhar na área das macro-algas.

algas iodo bem

Segundo o administrador da UBQ, nesta fase o produto já se encontra em vários restaurantes da cidade, além de se encontrar à venda em lojas de produtos naturais. Em vista está também uma parceria com a Socipamo para a distribuição do pão Iodo Bem, com iodo extraído das algas, tudo de iodo de natural, nada de sintético, realça João Dionísio. Esta produção está destinada às crianças do ramo escolar para combater a carência de iodo.

A UBQ está também em vias de iniciar conversações com a Insular Moinhos para a produção de esparguete de algas, além de ter sido também contatada por uma companhia de alimentação para cães.

Uma parceria já assente é entre a UBQ e a empresa J.Nelson Abreu para a distribuição e divulgação dos produtos Iodo Bem.

O laboratório tem em vista a produção de outro suplemento alimentar na base no iodo, assim como a extração dos sucos das macro-algas da Madeira. Com este cenário em vista, a UBQ já constituiu parcerias europeias para a exportação do Iodo Bem para o laboratório Bionorica, na Baviera, Alemanha. Estão também em formação outras parcerias ao nível da Península Ibérica e Continente Português, feitas através da intervenção da União Europeia, para a comercialização dos seus produtos além-fronteiras, como prémio de mérito dos Laboratórios Iodo Bem.

João Dionísio