Teatro Baltazar Dias acolheu concerto comemorativo do 50.º Aniversário do 25 de Abril

Decorreu hoje, dia 25 de abril, o “Concerto comemorativo do 50º Aniversário do 25 de Abril”, pela Orquestra Clássica da Madeira, no Teatro Municipal Baltazar Dias.

A Orquestra Clássica da Madeira aceitou o repto lançado pela Câmara Municipal do Funchal, através do Teatro Municipal Baltazar Dias, para apresentar uma proposta artística que refletisse a obra de alguém, neste caso de um compositor, que tenha vivenciado as dificuldades do regime que vigorava antes do 25 de abril.

A proposta recaiu sobre a criação musical de Fernando Lopes-Graça com incidência em quatro obras-chave da sua escrita musical. Lopes-Graça, que frequentou o Curso Superior do Conservatório de Música de Lisboa, foi discípulo de Adriano Meira no piano, Tomás Borba na composição e Luís de Freitas Branco nas Ciências Musicais, tendo frequentado classes de virtuosidade com Viana da Mota.

Nos anos 30, década crucial para o seu desenvolvimento e notoriedade, por várias ocasiões não pode seguir em frente por repressões da polícia política, sendo inclusive preso. A repressão por parte do regime cresce, sendo que na década de 50 as Orquestras Nacionais são proibidas de interpretar obras da sua criação, assim como lhe são retirados os direitos de autor, entre outras perseguições por razões políticas, tendo inclusive uma ficha criminal desenvolvida pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado, revelada posteriormente após a Revolução, sendo esta composta por largas dezenas de páginas de espionagem diária do seu dia-a-dia.

Ainda no final dos anos 30, parte para Paris onde amplia os seus conhecimentos musicais, estudando composição e orquestração com Koechlin, sendo obrigado a regressar a Portugal após dois anos por recusa da nacionalidade francesa.

Sendo considerado um dos maiores compositores e musicólogos portugueses do século XX, Fernando Lopes-Graça, influenciado pela música popular portuguesa à qual dedicou muito do seu estudo, deu continuidade ao trabalho do compositor e musicólogo Francisco de Lacerda. A sua obra, que abrange várias formas musicais e dedicada a vários instrumentos e constituições instrumentais, deixa-nos um legado da sua extraordinária capacidade criativa, personalidade inconformada e compositor dedicado.

Fernando Lopes-Graça foi agraciado nos anos 80 com a Ordem Militar de Sant´Iago da Espada e com a Grande-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, como reconhecimento pela sua vida dedicada às várias áreas da cultura.

A Orquestra Clássica da Madeira tem neste propósito de celebração homenagear também uma das grandes figuras do Século XX das Artes em Portugal que foi Fernando Lopes-Graça.

Neste âmbito e pegando neste momento extraordinário que é os 50 anos da comemoração do 25 de abril, a OCM incluiu no seu repertório mais quatro obras importantíssimas da literatura musical portuguesa, contribuindo assim, também, para a difusão e conhecimento destes valores criativos que fazem parte do acervo cultural do nosso País.

Num projeto em parceria com a Câmara Municipal do Funchal, através do Teatro Municipal Baltazar Dias, o maestro Rui Pinheiro que tem uma colaboração regular com a Orquestra há mais de uma década; e como solista, em estreia com a Orquestra Clássica da Madeira a reconhecida pianista portuguesa Marta Menezes que deu a conhecer ao público madeirense o concertino para Piano e Orquestra de Fernando Lopes-Graça.

De referir ainda que no âmbito da parceria entre a Associação Notas e Sinfonias Atlânticas, na qualidade de gestora da Orquestra Clássica da Madeira, e o Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, Engº Luiz Peter Clode, a pianista Marta Menezes está a ministrar masterclass de piano com entrada gratuita aos alunos deste estabelecimento de ensino e demais interessados.

Foi este o concerto que a Orquestra Clássica da Madeira, que contou com 55 músicos em palco dos quais 3 são alunos do Conservatório – Escola das Artes da Madeira, no âmbito da sua iniciativa de há mais de dez anos em proporcionar oportunidades aos jovens na integração em regime de estágios artísticos-pedagógicos com a Orquestra, juntamente com os artistas convidados, preparou para comemorar a democracia, lembrando alguns dos seus principais valores, a paz, liberdade, civismo, solidariedade, diálogo, tolerância, respeito, justiça, igualdade, responsabilidade, participação.