Memórias: jornalismo madeirense pioneiro na foto digital

Em 1999 era editor fotográfico do Diário de Noticias. A redacção do matutino tinha 4 repórteres fotográficos. As nossas máquinas eram analógicas de filme 35mm. Recordo que o Diário tinha uma despesa mensal em filmes e ampliações em papel  que ultrapassava os 400 mil escudos.
Reuni com o director e administrador da empresa para acabar com o papel e os filmes. Sabia que em breve a Nikon lançaria no mercado a primeira máquina profissional digital, em especial para o jornalismo e desporto, com um sensor de 2.7 megapixels, substituindo as câmeras de filme 35mm.
O corpo da máquina tinha o valor de 1.400 contos. As objectivas  Nikkor que usávamos nas máquinas analógicas, eram compatíveis.
Não houve luz verde para avançar, pois o investimento era grande, embora os jornalistas fotográficos todos os meses deixassem de receber o subsídio de material, mais uma verba abatendo ao valor da máquina.
Os meus colegas não aderiram, recusando adquirir esse novo equipamento.
Eu gostava de estar na linha da frente e por iniciativa própria a primeiro “body” que chegou a Portugal foi para a Madeira -Rui Marote.
Era Julho do ano 1999 .Estava ansioso e a nova câmera não  tinha data de chegada.
Em Janeiro de 2000 contactei um amigo piloto aviador madeirense da Air Macau, a saber se a Foto Nice  na Rua da Barca já tinha a nova Nikon D1 para venda, e qual o preço.
Resposta positiva: existe e custa 1280 contos. Fiz uma transferência bancária urgente, uma vez que o amigo piloto vinha de férias em Fevereiro.
Uma semana antes fui informado que a máquina encomendada ao representante da Nikon em Portugal tinha chegado.
Tinha agora duas “crianças” na mão e fiquei sem saber como pagar esta última, que acabei por receber uns dias antes da chegada da encomenda de Macau.
Eu não sabia nada do funcionamento. Recordo que recebi a máquina na Rua dos Ferreiros e que de imediato coloquei uma objectiva  e no Largo do Chafariz  fiz uma série de disparos para a Sé Catedral.
Resultado: as imagens captadas não apareciam…
Cheguei a temer que existisse uma avaria… Telefonei para Lisboa, falei com o agente, e fiquei a saber que era necessário comprar um cartão – lexar compact flash de 160 megas. Nessa altura nem se falava em “gigas”. O valor era 180 contos. “Rui Marote estás metido numa embrulhada”, pensei.
Tipo “Egas Moniz” com a corda aos pescoço, falei com o administrador do DN e dei conhecimento da alhada que estava metido. Propus a venda de uma máquina ao Diário, e que foi aceite. Assim nasceu o digital no Diário de Noticias. Mas fui criticado pelos meus colegas  durante vários meses.
Porém, a Madeira foi pioneira na fotografia digital. Pensei sempre em grande e poupei à empresa milhares de escudos mensais.