Perfila-se uma “geringonça” à escala regional, no horizonte

 

 

Texto e fotos: Luís Rocha

O cabeça-de-lista da coligação PSD/CDS, Miguel Albuquerque, deu o dito por não dito e recusou hoje demitir-se, apesar de a “Somos Madeira” não ter alcançado a maioria. Portanto, anunciou esta noite, causando aplausos, o que pretende fazer é formar um governo de maioria parlamentar, cuja constituição ainda permanece por apurar, uma vez que terá de ser devidamente negociado.

Em todo o caso, ia adiantando Luís Montenegro, já antes de Albuquerque falar, os PSD-CDS recusam aliar-se ao “Chega”… sendo certo também, logo à partida, que parecia não haver muito interesse nisso da outra parte.

E, por falar, em falta de interesse, refira-se Nuno Melo: o líder centrista nacional enfatizou também na sua mensagem a vitória alcançada, mas os jornalistas não quiseram saber dele para nada… a não ser o Correio da Manhã e o Funchal Notícias. “Uma vergonha para o jornalismo”, lamentavam os centristas. “Fizeram-lhe aqui o que nos fazem a nós lá no continente”, comentavam outros militantes do CDS-M.

Os jornalistas do continente bem procuraram “espremer” Montenegro, salientando que Albuquerque “tinha passado a campanha toda a dizer que se demitia”, se não obtivesse maioria absoluta; mas o líder nacional do PSD desvalorizou. “Do ponto de vista político”, disse, o apoio manifestado pelo povo da Madeira foi muito significativo.

“Não sou daqueles que se escondem quando os momentos são menos bons”, declarou. “Um dos factos mais notórios desta noite eleitoral é que o secretário-geral do PS desapareceu, evaporou-se. Onde anda?”, questionou, desviando as atenções.

Hoje ganhámos nós”, afirmou, partilhando “responsabilidade nestes resultados”. Todavia, disse que “não se iria imiscuir nas decisões do PSD/Madeira e do seu líder”, quanto a decisões de coligação.

“Nós não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega, porque não precisamos”, fez questão de deixar bem claro.

Enquanto Albuquerque não falava, um silêncio sepulcral tinha caído sobre a sede da campanha “Somos Madeira”, instalada, curiosamente, no Instituto do Vinho, vizinho à sede social-democrata. Os muitos apoiantes ali instalados estavam suspensos do que iria dizer o líder, e comentava-se à boca pequena que muitos “deviam estar a fazer contas à vida”. Iria ou não demitir-se, era a pergunta que ficava no ar. E os próprios social-democratas, em conversa, admitiam, quando lhes retrucávamos ser isso muito improvável: “Mas ele prometeu que se demitia…”

Porém, para alívio de muitos, Miguel Albuquerque acabou por colocar a ênfase na vitória: “Estas eleições foram ganhas de forma expressiva pela coligação “Somos Madeira”, frisou, assumindo ter merecido a confiança dos madeirenses e porto-santenses.

“Ganhámos em 52 das 54 freguesias. Se isto não é ganhar umas eleições, digam o que é”, desafiou.

E assim o panorama político-legislativo fica agora por definir nos seus contornos mais detalhados, por um governo presidido por aqueles que, salientou o líder do PSD-M, enfrentaram a pandemia e recuperaram a economia madeirense, que vão agora estabelecer pontes aos seus aliados de conveniência, numa espécie de “geringonça” à escala regional, na qual se admite que venham a participar quer a Iniciativa Liberal, quer o PAN… todas as possibilidades parecem abertas, menos ao Chega.

Albuquerque deixou, finalmente, ao terminar o discurso, um cumprimento democrático aos seus adversários políticos.