Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta para “perigos” do cigarro eletrónico e faz recomendações

CIGARRO-1O tema começa a preocupar a comunidade científica mundial. E deve começar a preocupar a generalidade da população. Já há mortes nos Estados Unidos em consequência da utilização dos cigarros eletrónicos. Casos de registos de diversas patologias já são às centenas. Além disso, o uso é cada vez mais desenvolvido por jovens e uma grande percentagem de menor idade.

A situação é de tal ordem preocupante que a Sociedade Portuguesa de Pneumologia emitiu ontem um comunicado onde lembra precisamente que “nos últimos dois meses tem vindo a ser reportado nos Estados Unidos um número crescente de casos de doença respiratória grave, de causa desconhecida, mas associada ao uso de cigarros eletrónicos. Até 6 de setembro as autoridades americanas detetaram um total de 450 casos e 5 mortes confirmadas, com uma apresentação clínica variada, mas tendo como ponto comum a todos o uso de produtos relacionados com cigarros eletrónicos (dispositivos, líquidos, cápsulas de enchimento e cartuchos)”.

O mesmo comunicado aponta que “apesar de variável, a doença apresenta algumas caraterísticas comuns: sintomas respiratórios (tosse seca, falta de ar, opressão torácica), sintomas gastrointestinais (náuseas, vómitos ou diarreia) e sintomas gerais (febre, perda de peso, fadiga).1 É muito relevante que as idades afetadas são bastante jovens e um terço tem menos de 18 anos (na série publicada variaram entre 16 e 52).2 Quase todos os casos reportados necessitaram de hospitalização, cerca de um terço com ventilação mecânica e nalguns casos até oxigenação extracorporal por membrana. A investigação de agentes microbianos (bactérias e vírus) é consistentemente negativa; alguns casos responderam a terapêutica corticóide, mas não se conhece um tratamento dirigido à causa da doença”.

A SPP revela que “apesar do número de dispositivos e líquidos diferentes disponíveis no mercado ser elevado, em cerca de 80% dos casos os doentes consumiram produtos com nicotina e derivados da Cannabis, como o tetrahidrocanabiol (THC) ou o canabidiol (CBD). Desconhece-se se a doença é provocada por toxicidade de algum destes compostos, por aditivos ou contaminantes desconhecidos ou por outras substâncias formadas quando se dá o aquecimento e vaporização dos líquidos”.

Diz a Sociedade que “até ao momento não se conhecem casos semelhantes fora dos EUA. No entanto, dada a grande disseminação destes produtos e fácil acessibilidade, é provável que surjam noutros países, incluindo Portugal”, apontando como prevenção algumas recomendações que neste momento constituem alerta para evitar a generalização do uso daqueles cigarros, que têm a componente aparentemente apelativa de não fazer mal, ao contrário dos cigarros convencionais. O que, como se viu, pode ser errado e pode ser tão grave.

A Sociedade Portuguesa de Pneumologia transmite, assim, algumas recomendações, mesmo tendo em conta que “a investigação relativa a este surto mantém-se em curso”. Não obstante, a SPP reitera a convicção de que “a melhor forma de proteger a saúde respiratória é respirar ar limpo. A inalação de compostos químicos presentes no vapor dos cigarros electrónicos representa um risco real. Assim, a SPP emite as seguintes recomendações:

  1. O uso de cigarros electrónicos é perigoso e não é recomendado.
  2. Deve ser especialmente evitada a sua utilização por grupos mais vulneráveis, como as crianças, adolescentes, adultos jovens, grávidas, idosos e doentes respiratórios crónicos.
  3. É especialmente perigosa a utilização de dispositivos adquiridos fora do comércio regulado, a sua utilização modificada ou a adição de líquidos ou óleos contendo derivados da cannabis ou outros aditivos.
  4. Os consumidores de cigarros eletrónicos que desenvolvam sintomas respiratórios agudos devem procurar o médico e fornecerem-lhe informação sobre o produto que consomem.
  5. Os médicos que assistem doentes com quadro clínico semelhante devem obter informação detalhada sobre o uso destes dispositivos e comunicá-lo às autoridades de saúde, em caso de suspeita.