Xarabanda prepara iniciativa comemorativa “do braguinha ao ukulele”, com concertos e colóquios

“Do braguinha ao ukulele – Uma viagem com 150 anos” é a designação escolhida para o projecto da associação musical e cultural Xarabanda, que será desenvolvido entre os dias 23 do corrente mês de Abril, e 7 de Maio. Como é já sabido e comprovado por anteriores observações, foi o instrumento madeirense braguinha, levado por emigrantes madeirenses para o Havai, que esteve na origem do entretanto bastante popularizado ukulele. Ora, conforme salienta a “Xarabanda”, no corrente ano completam-se 140 anos da epopeia de 419 madeirenses que, largaram do Funchal a 23 de Abril de 1879 no veleiro britânico ‘Ravenscrag’ rumo ao Havaí em busca de melhores condições de vida”. Estes eram apenas alguns dos mais de quatro mil madeirenses que na altura emigraram para estas ilhas.
O grupo, quer fez a travessia do Atlântico e passou o Cabo Horn, era constituído por 176 crianças, 110 mulheres e 133 homens, e iniciou a 23 de Abril de 1879 o que seria uma viagem que durou quatro meses. Desembarcaram finalmente a 23 de Agosto em Honolulu “cantando, na alegria de pisar terra firme, acompanhados por um tocador de machete (braguinha). Estavam a entrar na génese do que é considerado o instrumento musical popular mais famoso do mundo: o ukulele”.

Estes são os factos que a associação se propõe celebrar, tendo em vista o interesse cultural, musical, histórico e etnográfico dos mesmos, recordando que em 1979, nos 100 anos da viagem do ‘Ravenscrag’, os municípios do Funchal e de Honolulu assinaram um protocolo de geminação. A 23 de Agosto de 2004, assinalando os 125 anos, o Havaí comemorou a vinda dos imigrantes madeirenses e da génese do ukulele, na data de chegada a Honolulu. O que os “Xarabanda” apresentam agora é a celebração na Madeira a 23 de Abril de 2019, dos 140 anos da partida do Funchal, contando para tal com o apoio da Secretaria Regional do Turismo e Cultura.

A comemoração assumirá várias vertentes, antes de culminar, a 7 de Maio, numa “Festa dos 140 Anos” na Fortaleza do Pico. Antes realizar-se-ão oficinas de formação para braguinha e rajão, para inventar tocadores e angariar novos, sob a direcção de Roberto Moniz, Roberto Moritz e Joe Sousa, na sede da associação, a 2 e 4 de Maio a partir das 10 horas. Os “Xarabanda” preparam também um momento musical, em programa da RTP Madeira, em horário nobre.

Está também prevista, pelos CTT, a emissão de uma colecção de selos e de um postal alusivo; a 23 de Agosto de 2004 foram celebrados, no Havai, os 125 anos do Ukulele na data de chegada dos madeirenses a Honolulu – 23 de agosto de 1879. “Dessa comemoração figuravam 2 selos emitidos pelo Correio do Havai, o primeiro de $8, em que constava o retrato do madeirense Manuel Nunes, o mentor da construção do Ukulele com base no Machete e o segundo de $5 com um grupo de havaianos tocando o Ukulele. A par dos selos foi criado um carimbo postal sobre o mesmo tema”. Agora é a vez de Portugal, no caso a Madeira, em particular, fazer o mesmo.

Previsto está também um concerto intitulado “Irmandade do Braguinha”, homenageando, a 2 de Maio às 21 horas, no Centro de Congressos da Madeira (Casino) os instrumentos tradicionais madeirenses e a diáspora, juntando músicos de diferentes regiões. Assim, participam o Braguinha/Machete – Madeira; o Cavaquinho do Minho, Portugal Continental; o Cavaquinho do Brasil; op Cavaquinho de Cabo Verde; o Timple de Canárias e o Ukulele de Havai.

Uma participação no cortejo da Festa da Flor também está a ser equacionada, com músicos e outros participantes no cortejo alegórico, a 5 de Maio, pelas 16 horas.

Paralelamente, realizar-se-á a antestreia mundial do documentário “LEGACY” de Nuno Jardim, jovem realizador cinematográfico natural de Lisboa, que, em viagem pelo Havai deparou-se com enraizadas tradições vindas da imigração portuguesa, iniciada no séc. XIX, para aquela região. Interessando-se pelo tema, fez diversas viagens de investigação e recolha, nomeadamente à Madeira. Sofia Maul narrará também, em forma de conto, a viagem dos emigrantes madeirenses para o Havai. A apresentação deverá decorrer a 6 de Maio, pelas 15 horas, seguida de uma mesa redonda sobre este documentário, num colóquio no auditório do Centro de Estudos de História do Atlântico.

Finalmente, e na já aludida Festa dos 140 anos, o objectivo é “proporcionar uma noite de convívio, com muita alegria e música
das Irmandades do Machete”, num evento aberto ao público na Fortaleza de São João Baptista do Pico (Funchal) a 7 de Maio pelas 19 horas.