De vagabunda a princesa

Fotos: “Patinhas felizes”/Patrícia Loja -ANTES
Fotos: “Patinhas felizes”/Patrícia Loja -ANTES

Helena Mota

Quando há cinco meses foi encontrada num terreno baldio, com um ferimento grave na zona do peito, ninguém diria que a pequena cadela de raça indefinida viria a ser hoje um exemplo de sobrevivência e um caso de sucesso na adoção de animais maltratados.

 “Bloo”, diminutivo da palavra bloom, que em inglês significa florescer, é na verdade um caso de resistência e de como é possível nascer para uma nova vida, depois de anos de negligência e abandono. Ao fim de apenas cinco meses na sua nova família, difícil será adivinhar a história desta pequena cadela, ao que parece abandonada e presa numa casa devoluta, durante anos, aos pretensos cuidados de um casal de toxicodependentes.

Patrícia Loja, a sua nova dona, revela que “Bloo” entrou na família a 22 de outubro passado de forma inesperada, mas natural. “Não fomos nós que a adotámos. Ela é que nos escolheu logo no primeiro dia em que a vimos na clínica”, conta. “Mesmo com o peito todo suturado e muito magra, teve logo uma reação de alegria, de como se nos conhecesse desde há muito.”

No historial de “Bloo” consta que terá tentado fugir da casa onde se encontrava, caindo num terreno baldio. Na queda, terá espetado um ferro na zona do peito que, só por mero acaso, não foi fatal. Felizmente, foi encontrada por uma voluntária da “Ajuda Alimentar Cães” que a transportou rapidamente para uma clínica veterinária. Para além do tratamento ao ferimento, foi também sujeita a esterilização, tudo a expensas daquela associação.

Quando Patrícia Loja a conheceu, ainda em recuperação na clínica, após um alerta para adoção por parte da associação “Patinhas felizes”, a pequena cadela corria o risco de voltar à rua por falta de interessados em acolhê-la. Naquela altura, Patrícia ainda hesitou. Não queria ligar-se novamente a um animal, após o desfecho trágico que meses antes havia vitimado a sua anterior cadela. A decisão pelo abate, devido a situação clínica terminal, tinha deixado a família emocionalmente fragilizada e Patrícia sabia que tanto o marido como a filha não seriam favoráveis à chegada de um novo cão, ainda mais naquelas circunstâncias.

A verdade é que “Bloo” conquistou Patrícia Loja logo no primeiro encontro. “Foi sobretudo o seu olhar meigo e o focinho”, confessa, revelando a sua surpresa inicial quando olhou para a identificação do animal: SA. “Pensei que era um nome muito esquisito para um cão”, recorda com humor. Mas, afinal, eram as iniciais que designavam a sua triste situação. “Sem Abrigo. Fiquei chocada.”

Passados estes meses, a família está satisfeita com o que considera ser um caso de sucesso. Recuperou totalmente do ferimento, ganhou peso e uma pelagem mais espessa, mantendo a mesma atitude de vencedora. “É a nossa princesa. Estamos completamente rendidos. Nunca pensei que um animal de sete anos se adaptasse tão bem e depressa a novas pessoas e rotinas”. Após as primeiras semanas de adaptação, “Bloo” tornou-se a mascote da casa, aprendendo rapidamente as regras de higiene e de bom comportamento. Segue a dona para todo o lado. “Ela é a minha sombra”, conta. “Costumamos dizer a brincar que a “Bloo” vive de carinhos. Anda sempre atrás de nós à procura de atenção, de um afago na cabeça. Não precisa de grande manutenção.”

Nem todos os casos de adoção têm um final feliz como o de “Bloo”. Neste em particular, a personalidade do cão, o carinho e a persistência dos novos donos foram decisivos no sucesso da integração.

Fotos: “Patinhas felizes”/Patrícia Loja - DEPOIS
Fotos: “Patinhas felizes”/Patrícia Loja – DEPOIS