Jardim no ‘day after’ presidencial: Sampaio da Nóvoa “é um ‘Tino de Rans’ para académicos”

alberto-joao-jardim-07O ex-presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim escreveu, esta tarde, a sua análise política pós-Presidenciais.

Diz que Sampaio da Nóvoa era “um “Tino de Rans” para académicos” que “recebeu o apoio do Presidente do Partido Socialista e dos ícones do regime que são os três primeiros Presidentes desta III República, não se percebendo ainda como Eanes, tido como próximo da ‘Opus Dei’, alinha com tidos próximos da Maçonaria”.

Eis o artigo denominado “AGORA, PENSAR POLITICAMENTE A MADEIRA”

“Se vês alguém com fome, não lhe dês peixe. Oferece-lhe uma cana e ensina-o a pescar”
Mao Tse Tung

Até às eleições autárquicas de Outubro 2017, está encerrada a exaustiva maratona de três eleições ano, quatro contado com as internas do PSD/Madeira.
Esperemos que nenhum indesejável incidente político nos faça ir às urnas antes das eleições autárquicas.
Marcelo Rebelo de Sousa ganhou umas eleições presidenciais em que Passos Coelho engoliu o candidato que não queria – chamava-o “catavento” e falhara o apelo a Rui Rio – em que o Presidente agora eleito se desmarcou da deriva liberal do grupo que ocupa o PSD nacional. Depois da actual solução governativa em Lisboa, a vitória de Marcelo reequilibra o espectro político português.
Se mais de metade dos Portugueses se desligaram do sistema político-constitucional vigente, a verdade é que faltou um candidato anti-sistema. Os Portugueses sabem as razões porque não avancei e ainda bem que fiz apelo à confiança em Marcelo Rebelo de Sousa.
O desprestígio do sistema político em que ainda vivemos, revela-se em por um lado serem permitidas todas estas candidaturas exóticas à Presidência da República, mas a inaceitável e antidemocrática partidocracia vigente apenas permitir a candidatura aos Parlamentos, se proposta por um Partido!
Venceu merecidamente a inteligência e a bagagem política, jurídica e cultural de Marcelo. Saúda-se a dignidade, o nível e a pedagogia da candidata Maria de Belém, face à exploração dos sentimentos mais reles, boçais e invejosos que marcam o estado a que chegou a sociedade portuguesa.
O regime e o Partido Socialista, por muita hipocrisia com que o tentem disfarçar, tinham o seu candidato, Sampaio da Nóvoa, cujas habilitações não estão esclarecidas. Recebeu o apoio do Presidente do Partido Socialista e dos ícones do regime que são os três primeiros Presidentes desta III República, não se percebendo ainda como Eanes, tido como próximo da “Opus Dei”, alinha com tidos próximos da Maçonaria.
Sampaio da Nóvoa foi-lhes uma má escolha. É um “Tino de Rans” para académicos, donde também nada de novo sai, mesmo espremido, um vulgarismo sem inovação e criatividade.
Somando os vários da área socialista, é uma derrota para o PS, tal como Passos Coelho não ganha.
O ex-padre Edgar foi o “flop” que já se antevia, para o efeito bastando conhecê-lo e às suas “proezas” por cá. No Continente souberam que alinhou com os capitalistas exploradores da “Madeira Velha” contra a Revolução Tranquila. Nem metade conseguiu da habitual “votação garantida” do Partido Comunista!
E o “score” na Madeira é uma mera e saudável manifestação regionalista que, em todas as outras eleições diferentes, nunca conseguiu, nem de longe, nem de perto.
Os comunistas do “bloco de esquerda” não cresceram em relação há meses atrás, mas a arrogância burguesa que cultivam – ao contrário do PCP – bem como a cumplicidade da comunicação “social”, montam-lhes uma imagem de “sucesso”, superexagerada em relação à sua verdadeira dimensão.
Comparando com a História só do PSD/Madeira e a sua tradicional relação com os resultados eleitorais nacionais, o resultado de Marcelo cá obtido, é preocupante face ao que se seguirá de eleições. A desastrada estratégia fracturante dos dirigentes regionais do PSD só serve para agradar a oportunistas que vieram para o Partido com intuitos de “Abreu dá cá o meu”, ou para se escudar em indivíduos inscritos que não são sociais-democratas, nem autonomistas, mas vão servindo desde que lhes paguem as quotas.
Venho escrevendo – e mantenho – que não é possível um futuro melhor para o arquipélago sem uma maior Autonomia Política e sem o Estado resolver com Justiça a pseudo “dívida da Madeira”.
Como também mantenho que um alto nível de Emprego, no futuro pressupõe o Estado português aceitar as duas condições anteriores – o que pode fazê-lo, se quiser, pois não se trata de dimensões que comprometam a Unidade Nacional, nem perturbem a Conta do Estado.
Condições imprescindíveis para vingarem os vectores possíveis de criação expressiva de postos de trabalho: o Turismo, o Centro Internacional de Negócios, os Serviços/Inteligência e Construção Civil.
Para quem considere ser este o caminho da Madeira, se não A quiser confinada à pequenez da falta de ambição que se descortina numa entalada – por vontade própria – República Portuguesa, forçosamente tem de escolher entre uma política fortemente reivindicativa em Lisboa e em Bruxelas, como se fez no passado, mesmo “politicamente incorrecta”, ou ficar numa postura assistencialista de derramar subsídios, aceitar ser uma das “províncias” e entreter a malta com propaganda.
Ainda agora se viu na questão das “águas”, o teor colonialista da actual direcção nacional do PSD.
A escolha é inevitável e cada vez menos adiável.
Todos reconhecemos que é difícil, comparado com o imediatismo conservador e rotineiro. Mas o desafio reside entre a Utopia de desafiar a História, ou então aceitá-La conformado.
Temos sempre presente que a demonstrada dialética da mesma História, faz com que a utopia nunca se concretize no pleno desejado. Mas nada se altera para mais próximo do que idealizámos, se não houver confronto entre as teses estabelecidas e o nosso esforço de as contrariar.
Por tudo isto é que entendo a Madeira não dever perder a postura reivindicativa intensa, e até provocadora, ante Lisboa e Bruxelas.
E, a par, não se descapitalizar em políticas subsidiaristas de eleitoralismo estagnador, estilo anos Carlos César dos Açores. Como não deve instalar uma economia artificial, onde do deslumbramento inicial com os subsídios para abrir a porta, sucederá o fracasso num mercado assim tornado irrentável mesmo para os que antes estavam bem e que depois se afundaram na excessiva concorrência anomalamente despoletada.
E também não deve a teimosia negativa, deixar os investimentos que criam Emprego e completam o que ainda falta estruturar necessariamente, para, num processo estranho de afirmação pelo “fazer diferente”, acorrer a iniciativas “novas” não comprovadas como minimamente capazes de distribuir mais rendimentos pelos que residem no arquipélago.
Depois, ainda mais errada é a opção pela despesa com uma inflacionada criação de “comissões”, “organismos”, grupos “disto ou daquilo”, num imediatismo de agarrar o que a propaganda debita e de amarrar prebendados ao redil eleitoral, numa leviandade de estudar, descobrir ou definir o que há muito está estudado, descoberto ou definido. Ou então já existindo o que possa fazer isso.
Estas são as minhas convicções deste momento para a Madeira. Não se trata de combater politicamente seja quem for, pois ideológica, civilizada e coerentemente não posso estar ao lado da Oposição que a Madeira tem.
Mas não afasto as obrigações de cidadania, as quais a idade não reduz e muito menos a experiência permite desleixá-las.
Ciente, também pelo longamente vivido, que é mais fácil falar de fora, do que no posto de responsabilidade.

Funchal, 25 de Janeiro de 2016

Alberto João Cardoso Gonçalves Jardim”