Além do mais, em 2014 a zona histórica da cidade com os seus prédios característicos, nomeadamente o monumento Porta para Meca, integrou a lista do Património Mundial da Unesco.
Tudo porque esta urbe tem-se reinventado ao longo de centenas de anos, transformando-se numa das mais importantes rotas comerciais do Oceano Índico e entrada de muitos peregrinos muçulmanos, chegados por via marítima, e que têm Meca como destino.
Possui um conjunto de arquitectura multicultural significativa, em prédios erigidos ao longo de séculos.
Tentei arranjar alguém para me acompanhar nesta “peregrinação” e recebi a resposta de ser louco. A idade avança e os reflexos hoje já não são os mesmos. Ou é agora ou “jamais”! Está decidido: não posso olhar para trás e aquele chavão que já publiquei noutras reportagens está sempre na mente: “Viajar enriquece a Alma e empobrece os bolsos, mas caixão não tem gaveta…”
Porquê agora? No mês de Fevereiro as temperaturas são 20 ou 22 graus centígrados, enquanto em Junho as temperaturas atingem os 45 ou 50 graus. A 22 de Março é impossível devido ao Ramadão que se prolonga ate 20 Abril. O movimento de peregrinos é assustador e nos terminais do aeroporto de Jeddah não pode haver enganos.
O Terminal Sul é apenas para a Saudi Airlines. O Terminal Norte é para as companhias aéreas estrangeiras. Distam uns quilómetros um do outro e os táxis entre ambos não são baratos (embora me tenham dito que há um shuttle bus). Há ainda o Terminal Hajj, destinado aos peregrinos em viagem para Meca.
Tudo isto tem de ser programado com régua e esquadro…
Como sempre vou na minha companhia de eleição, a Turkish Airlines, com uma escala em Istambul onde estou familiarizado com o novo aeroporto. Se fosse em outras companhias, a partida de Lisboa tinha duas escalas e mais horas no ar e no chão.
A viagem não decorreu dentro do programado. A partida de Lisboa que estava marcada para as 16h35 sofreu um grande atraso, em virtude de estar a nevar no aeroporto de Istambul. As aterragens estavam limitadas e tive de aguardar a confirmação, a verificar-se cerca das 18h10.
As 4h40 de voo, no entanto, decorreram maravilhosamente, chegando a Istambul já no dia seguinte devido ao fuso horário. Eram 2 horas da madrugada e a partida para Jeddah era à 01h30. Dei o voo por perdido.
O novo aeroporto de Istambul é uma autêntica “cidade“: efectuar um transfer requer boa preparação física. A caminhada é longa na busca do portão de saída. Consultei o placar de partidas e assinalava última chamada. O avião ainda cá está, afinal! Como acredito em milagres,“haja fé…”. não custa nada tentar. Cheguei à porta F3 e o voo não estava ainda encerrado! Uma longa fila de peregrinos estava ainda a embarcar. Sou mais um a engrossar a fila. Quando cheguei com o passaporte e cartão de embarque, respirei fundo. Desta safei-me!
Na pista o Airbus 300/300 aguardava-me. No seu interior, um mar de gente de pé no corredor. Descobri o meu assento que estava ocupado, com as hospedeiras desorientadas para sentar os passageiros. Levantar um ancião peregrino é tarefa que deixei às mesmas… Numa longa espera do tipo “daqui não saio daqui ninguém me tira”. Lugar recuperado, o avião saiu as 03h15 da madrugada. Mais uma que fica para a história. O meu companheiro de viagem era um londrino de origem paquistanesa que efectuava pela primeira vez uma visita a Meca e Medina com os pais. Mantivemos um diálogo e perguntou a minha nacionalidade. Veio logo à baila o CR7. O mais curioso é que pensou que eu era muçulmano. Respondi ser cristão… Devia ser o único. O avião era uma autêntica Mesquita. Os lavabos transformaram-se em vestiários. Entravam homens e saíam vestidos de túnica branca e as mulheres vestidas de negro. Durante 3h30 assisti a um recital de versos do Alcorão nos écrans do avião, com as luzes do avião apagadas. Um autêntico coro até o avião aterrar. No aeroporto desta cidade saudita, 60 “guichets” com funcionários de fronteira passam a pente fino os visitantes. Embora munido do visto, fui fotografado e as impressões digitais das duas mãos tomadas e digitalizadas, num processo muito demorado até que surja finalmente o barulho do carimbo na folha do passaporte e asd últimas palavras do funcionário fronteiriço: Bem-vindo.
O tempo está a contar, entretanto: tenho seis dias para a descoberta desta cidade ao contrário das mil e uma noites… Não espero encontrar o Ali Babá, nem o Aladdin nem o Sultão Shahryar…
Como uma noite sempre passa (após a meia noite) de um dia para o outro, tem-se no final que incluir um dia a mais. Assim, 1001 noites equivalem a dois anos, 8 meses, 3 semanas e (6+1) dias = 4 semanas = 1 mês; ou seja: 2 anos e 9 meses. Isso é que era tempo para uma boa visita.
Também não dá para encontrar o meu conterrâneo CR7, que está a 941,9 km e de avião 1h55…
Mas, mãos à obra: vou começar pelo bairro histórico Al-Balad no coração de Jeddah.
Jeddah é uma jóia. Bela e decadente, faz-nos recordar um pouco Havana, quando se percorre o bairro de Al-Balad. Em parte é moderna e vibrante como Beirute quando se entra na zona norte da cidade e nasce a chamada Corniche.
Al -Balad é motivo mais do que suficiente para uma visita a Jeddah. Para lá das belíssimas varandas (ver fotos) de madeira, trabalhadas à mão, e que marcam a paisagem do centro histórico, há outras atracções.
Magníficos exemplares de mashrabiya (ou roshan) as sacadas de madeira trabalhadas à mão são típicas da arquitectura local.
Al-Balad é dos locais históricos mais fascinantes que alguma vez visitei. Sem surpresa, integra a lista de de património Unesco na Arábia Saudita.
O curioso é que não são as atracções turísticas que fazem Al-Balad um bairro diferente. O maior prazer da velha Jeddah é simplesmente circular pelos seus becos e ruelas e deixar-se perder no labirinto urbano de Al-Balad explorar (com cautela) prédios quase em ruínas, observar as incríveis janelas de madeira, caminhar sem rumo. Jeddah proporciona uma série de experiências e de emoções marcadas pelo contacto com gente incrivelmente hospitaleira. As pessoas são diferentes num país que apesar das grandes mudanças recentes é ainda conservador.
Na próxima crónica falarei de outros locais: a Porta da Cidade Bab Jadid, o SouK Al Alawi, a casa – museu Nassif, a Nova Corniche, a Mesquita Al Rahma, restaurantes e mercados.