D. Nuno Brás esclarece que não há grupo de padres intocáveis nas mudanças paroquiais

Fotos FN, Lúcia Pestana.

Neste tempo de ordenações e mudanças sacerdotais na Diocese do Funchal, não escapa ao crivo da crítica o facto de haver um núcleo restrito de sacerdotes que já é visto como “o grupo dos intocáveis” porque o Bispo não os muda há anos, quando a regra é fazer mudanças com maior frequência. É questão para, nesta entrevista ao FN, questionar o Prelado da Diocese sobre se efetivamente esse “grupo de intocáveis” existe. D. Nuno Brás sorri antes da réplica.  “Creio que não há nenhum intocável e creio que ninguém pensa em ser intocável, espero eu. A questão é mais complexa, ou seja, se um sacerdote está bem numa determinada paróquia ou serviço, por que hei-ide estar a mudá-lo e a criar instabilidade naquela comunidade e na vida daquele sacerdote e depois na outra comunidade para onde irá. Portanto, a questão é esta. Como é óbvio, não faço referência a casos concretos, mas habitualmente essa é que é a questão. As pessoas estão bem, estão bem! Quando a pessoa quer sair, diz e eu procuro fazer as mudanças, umas vezes dentro das vagas que estão abertas, outras vezes pedindo, eventualmente, a alguém, até como ajuda ao colega. Mas não há ninguém intocável, nem sequer o próprio Bispo. Assim como o Santo Padre me enviou para o Funchal, quando disser, amanhã vais para outro lado, pois eu vou. Nem sequer o Bispo é intocável”.

Sacerdotes solitários?

Outro tema que urge abordar prende-se com os comentários que por vezes vêm ao debate de que os sacerdotes estão um pouco solitários, “abandonados” a uma rotina ou máquina de trabalho pastoral e com falta de formação… os profissionais das demais classes têm de fazer formação contínua, os sacerdotes é só retiro anual e ficam entregues à sua sorte?

O Bispo do Funchal separa as questões. “Falemos primeiro da solidão dos sacerdotes. A vida do sacerdote é necessariamente uma vida de solidão. O facto de não constituir família traz sempre consigo uma solidão, claro que sim. Uma solidão que pode ser vivida como peso mas também como uma realidade positiva, porque essa solidão nos torna mais disponíveis para o serviço de Deus e do próximo. Depois, existe também a solidão que marca muito a nossa sociedade contemporânea. O nosso mundo está cheio de gente solitária, de gente que vive para si, de gente que vive consigo. Eu não digo que não haja um ou outro sacerdote que não sinta também esta solidão que é marca da nossa cultura. Bom, depois existe também esta solidão daquele que é muito eficiente, tão eficiente, tão eficiente que ninguém o consegue acompanhar. Sim, tem uma comunidade, mas ao meu ritmo, às minhas decisões e isso traz consigo também uma solidão muito grande. Agora, eu creio que a formação que os nossos sacerdotes recebem, e o próprio ministério sacerdotal, o próprio estar com Deus, o próprio sacramento da Ordem enquanto presença de Deus, convida-nos sempre, em primeiro lugar, a termos Deus connosco. Como dizia Santo Ambrósio, eu nunca estou sozinho e como dizia o Papa Bento XVI, na sua primeira homilia do seu ministério, aquele que acredita nunca está só. Depois existe a companhia da própria comunidade. Creio que, às vezes, isto falha, ou seja, podem eventualmente ver a comunidade, de uma forma inconsciente, como fregueses e não como pessoas que caminham connosco e que nós havemos também de conduzir, estão connosco, partilham connosco as coisas bonitas e menos boas da comunidade cristã. A vida comunitária, qualquer que ela seja, pode ser olhada como um fardo mas também como uma realidade muito positiva e que é para nós testemunho da própria fé. Depois aqui há modos de viver e ser… como todos os seres humanos, os sacerdotes são pessoas complexas. Nisso não ficam menos complexos só por causa de serem sacerdotes. Nós somos pessoas muito complexas, assim como os sacerdotes, uns mais solitários que outros, uns que têm a companhia de mais pessoas que outros, uns que vivem esta dimensão da partilha e da amizade dentro do próprio presbitério… eu sei que há sacerdotes que, quando veem um colega mais triste vão ter com ele e oferecem-lhe a sua ajuda. Existirá também o contrário, digamos, má língua sacerdotal, poderá existir, eventualmente, mas habitualmente o Bispo não sabe dessas coisas porque não se dizem aos Bispos… [risos]

Formação dos padres

Funchal Notícias: Esta Diocese tem-se preocupado com a formação dos sacerdotes?

Dom Nuno Brás: Claro que sim. A Diocese oferece três retiros anuais de uma semana.

FN: Mas essa formação não será muita teológica ou teórica…?

DNB: Não. Portanto, podem frequentar esses retiros. Depois, de dois em dois meses existe a proposta de uma reflexão, retiro, oração, habitualmente no Seminário do Jasmineiro e vão os sacerdotes que quiserem. Além disso, temos aquela semana de formação para atualização do clero e leigos. Por exemplo, neste ano, foram conferências muito distintas umas das outras, todas elas muito interessantes e a escutar com muito proveito. Depois existe a responsabilidade do próprio sacerdote de ler, atualizar-se… Para além de todos os cursos, palestras e encontros que a Conferência Episcopal propõe. Claro que o facto de sermos uma ilha coloca alguns obstáculos mas não é impossível. Sim, há muita oferta formativa e penso que também há procura.