Estepilha: construir e destruir, quem paga!?

Rui Marote
Estepilha, os nossos políticos são notáveis. Uns constroem, outros destroem e o povo exclama: “Quem paga!?” Ninguém é responsável…
O campeonato para o “Funchal sempre À frente” ainda vai nas primeiras jornadas e a prioridade é “destruir” . O que nos suscita mais historietas das nossas. Nas vésperas de uma inauguração no centro de São Vicente, um campo de ténis e um “comboio de carruagens” (lojas) numa das margens da ribeira a cargo da responsabilidade da Sociedade de Desenvolvimento do Norte, entrevistámos diversos trabalhadores, trabalhando na altura para um matutino regional.
Falámos com um residente que tinha deixado a agricultura para ser servente de construção civil. “As obras estão a acabar. Vai voltar a ser agricultor?”, era a pergunta. “Nem pensar!, respondeu. “O Dr. Alberto João vai mandar escangalhar com isto tudo e nós vamos começar de novo!”
Na altura rimos, mas essa “profecia” é, nos dias de hoje, uma realidade.
Nos anos 80 desloquei-me várias vezes ao Sul da Holanda em visita a um irmão que residia em Sittard, nas proximidades de Maastricht , Heerlen e  Valkenburg. Nunca tinha visto tanta gente andar de bicicleta. Era uma autêntica China na Europa. As ciclovias ao longo das estradas eram mais movimentadas do que as auto estradas e muito bem assinaladas e respeitadas por peões e veículos.
Os  madeirenses não têm o hábito de se deslocarem nestes velocípedes. Em rapazinho, o velho Almirante Reis era o viveiro das bicicletas para alugar e aprender a andar. No Porto Santo, em tempos “pré-históricos” este era o meio de transporte privilegiado naquela ilha. Sou do tempo em que, para andar na rua de bicicleta, era necessária uma carta de condução, e submeter-se a um exame oral de código e de condução ao redor do edifício municipal. O examinador era o Sr. Ferraz.
Nas últimas semanas, os jornais nacionais fizeram eco: “Crianças vão aprender andar de bicicleta na rua”. O manual técnico prevê aprendizagem em espaço fechado entre o 1º e 4º ano mas logo a partir do 2º ciclo de escolaridade a instrução passa para “espaço público” e zonas de “baixa e alta densidade”.
Cada criança recebe ainda a Cartilha da Mobilidade Activa Ciclável, uma forma divertida de apreender as regras e boas práticas do uso da bicicleta como meio de transporte, eficaz, ecológico, económico, e com vários benefícios para a saúde e bem-estar do utilizador.
Nós, entretanto, e ainda cheirando a fresco, vamos destruir o que foi construído com o intuito de diminuir o tráfego poluente e sonoro na zona nobre onde está instalado o nosso parque hoteleiro, a galinha dos ovos de ouro da ilha.
Pedro Calado relembrou que esta alteração ao projecto fora um “compromisso” assumido durante a campanha eleitoral. Destacou a “revisão” que foi efectuada ao “projecto” e que permite dois sentidos aos automobilistas, em concreto, na zona superior ao Hotel Baía Azul, em que só estava previsto “o sentido Funchal-Câmara de Lobos”.
As razões para esta alteração devem-se a um conjunto de situações que segundo o autarca, “não eram admissíveis” e que colocavam em causa a mobilidade de toda aquela zona oeste da cidade, uma área com muito trânsito e forte crescimento habitacional, explicou.

A ciclovia está porém terminada. A obra avaliada em um milhão e 100 mil euros euros e estruturada em três fases, o troço A entre o Largo António Nobre e a Travessa do Valente, o troço B desde a Travessa do Valente para oeste, contemplando ainda a Rua Simplício Passos Gouveia e a Rua St. Helier, até à inserção deste arruamento com a Monumental, o troço C desde o final do B até à zona de ciclovia já existente e sobranceira à Ponta da Cruz, incluindo ainda o reordenamento urbanístico de toda a zona em frente ao Fórum Madeira – a autarquia já pode iniciar a remoção do troço de ciclovia, na Ponte do Ribeiro Seco, que será transformada numa faixa prioritária para veículos de segurança e socorro, táxis e transportes públicos, o que deverá acontecer dentro de um mês e que terá o custo de 150 mil euros.

A tudo isto chamo “nadar em dinheiro”. Quando estive na Assembleia Municipal era prática corrente levar ao poder deliberativo autorizações para contrair empréstimos à banca, executar as obras e contrair dívidas para mais tarde alguém pagar. A música e os músicos são os mesmos, Estepilha…