José Manuel Rodrigues alerta para desigualdades sociais e destruição da economia

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O presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, sublinhou hoje no seu discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril no parlamento regional que este é o segundo ano em que se assinala a Revolução dos Cravos e as liberdades conquistadas, num contexto de pandemia.

“E se já é estranho vivermos condicionados nas nossas liberdades cívicas ao longo de um ano, é especialmente doloroso comemorarmos o Dia da Liberdade e da Democracia, mais uma vez, em estado de emergência e com restrições à livre circulação e à socialização”, declarou. ” Agora, mais do que nunca, sentimos o valor que têm as nossas liberdades individuais e o quanto elas nos fazem falta no
nosso quotidiano e, sobretudo, percebemos melhor a realidade do tempo dos nossos pais e avós, que viviam muito condicionados como cidadãos, por um regime que coarctava as liberdades”, salientou.

“Se, ao fim de um ano de pandemia, estamos cansados, estamos fartos, estamos exaustos pelas restrições e pelos limites às nossas pequenas liberdades diárias, imaginem o que foi viver durante quase meio século em ditadura, e sem Liberdade e sem Democracia em Portugal”, ponderou José Manuel Rodrigues, lembrando a proibição da livre circulação, das liberdades de reunião, de manifestação e de informação.

O presidente da ALRAM considerou ainda que o 25 de Abril “não é propriedade de um grupo ou de uma ideologia. A nossa democracia e liberdade são património de cada um e de todos os portugueses. É verdade que, não fora o 25 de Abril, corrigido no sentido da sua pureza original pelo 25 de Novembro, após uma revolução traumática, e nós continuaríamos entregues à governação de
Lisboa e ao livre arbítrio do Terreiro do Paço”, acrescentou.

Declarou ainda que, sem a Democracia e sem a Autonomia, a Madeira não teria
os índices de crescimento económico e social que hoje ostenta e os madeirenses e porto-santenses não teriam o desenvolvimento humano de que hoje beneficiam.

“Apesar de todos os erros e omissões, demos passos gigantescos no acesso à Educação, à Cultura, à Saúde e à Segurança Social, e hoje os nossos cidadãos têm uma qualidade de vida substancialmente superior à que tiveram os nossos
antepassados”, afirmou.

Prosseguiu para dizer que “as limitações às nossas liberdades, originadas pela
pandemia, poderão estar por horas ou por dias, com o alívio de algumas restrições, mas as suas consequências perdurarão durante muito tempo, não apenas na nossa memória, mas na vida de muitos dos nossos cidadãos que viram morrer os seus
familiares, sem a possibilidade de uma despedida ou de um simples adeus”.

“Muitos outros nossos concidadãos, contagiados pela COVID19, passaram por uma hospitalização forçada de que ainda estão a recuperar, pois alguns ficaram com sequelas inimagináveis, tanto do ponto de vista físico como a nível psíquico”, salientou. “E não podemos esquecer os doentes que, não tendo sido afectados diretamente pelo vírus, viram as suas cirurgias, tratamentos, exames e consultas atrasarem-se, com efeitos graves no seu estado de saúde”.

José Manuel Rodrigues elogiou os profissionais de saúde e as autoridades responsáveis, mas sublinhou que há muito a fazer para recuperar o tempo perdido neste ano e muito caminho a percorrer para voltarmos a ter as melhores respostas de cuidados de saúde às populações.

Lembrou ainda as “grandes e pesadas consequências desta pandemia na economia e na sociedade”, que levarão anos a ser ultrapassadas. “A economia madeirense está paralisada e vive a maior recessão desde a implantação da Autonomia”, disse. “O desemprego aumenta diariamente e atinge muitos agregados familiares”.
Quanto à pobreza e a exclusão, “cresceram acentuadamente, como demonstram os pedidos de auxílio à segurança social e às instituições de solidariedade”.

“Não vale a pena”, defendeu, “escamotear a verdade, pois ela está à nossa volta, nas nossas ruas, nas nossas cidades, nas casas de familiares, no trabalho de amigos, nos negócios de vizinhos, nas empresas de conhecidos, nos rostos dos nossos concidadãos com quem nos cruzamos nas freguesias e concelhos das nossas ilhas.
É a esta realidade que vamos ter de responder nos próximos meses e anos”.

Por isso, exortou os responsáveis pelo Governo Regional, a quando os financiamentos europeus chegarem, os aplicarem “muito bem, para iniciarmos uma nova era na vida da Madeira e do Porto Santo”.

“Infelizmente, alguns Parlamentos nacionais tardam em ratificar o que foi acordado pelos Estados membros, quanto à dotação dos recursos próprios, e enquanto isso não acontecer a Comissão Europeia não pode recorrer ao endividamento nos
mercados internacionais, que vai possibilitar as avultadas verbas para apoiar os países e as regiões”, lamentou. “Estes financiamentos já deveriam ter chegado, segundo as promessas então formuladas, e corre-se o risco de virem tarde
demais e assim ser muito lenta e especialmente penosa a recuperação da economia e a criação de emprego nas nossas ilhas”.

“Vivemos tempos de desânimo e de descrença no sistema político que, progressivamente, vão corroendo os alicerces do regime democrático. Se nada fizermos, avançarão os indesejáveis extremismos e populismos”, avisou, considerando que é necessário pôr a funcionar o “elevador social”, e que é hoje em dia inaceitável que alguém que trabalha engrosse as fileiras dos mais pobres.