Tetrápodes são “sala de chuto” de viciados na droga e refúgio de sem-abrigo

Rui Marote
O espectáculo desumano é deprimente e constrangedor na zona dos tetrápodes da frente de mar do Funchal, nas imediações de uma praia de calhau próxima do teleférico. Viciados em drogas habitam os espaços entre aquelas grandes estruturas de betão, a lembrar homens das cavernas do Paleolítico. Foi para ali que nos direccionou uma transeunte, desgostada pelas cenas que se veem, apelando para reportagem de denúncia.

Muitos percorrem o calçadão da Sá Carneiro da Avenida Sá Carneiro até à zona da Fortaleza de São Tiago, exercitando a corrida ou caminhando para manter a forma física. Passam pelos acessos aos pontões resguardados de centenas de tetrápodes, alheios ao que se passa no interior daqueles labirintos. Ali, estes despojos humanos injectam-se no silêncio somente quebrado pelo vai-vem das ondas que ali embatem.

As imagens que publicamos nesta reportagem são elucidativas desta autêntica “sala de chuto”. Ali há alguns indivíduos que se servem, também, do carro da metadona que estaciona nos jardins do Almirante Reis. A substância ajuda a substituir a dose habitual dos heroinómanos. Mas outros preferem o “cocktail” original.
O número dos que lá “vivem” tem aumentado. Os nossos governantes estão de costas viradas ao fenómeno, e a Polícia Marítima e a PSP ignoram.

Nos finais dos anos 70 fiz imensas reportagens sobre famílias que viviam em furnas fora da área central do Funchal. Era uma pobreza envergonhada. O Governo e a edilidade conseguiram por finalmente um travão àquela degradação construindo bairros habitacionais. Continuam a estar previstos para os próximos anos grandes investimentos na área habitacional.

Hoje o problema da sociedade, a par da pobreza, é também outro flagelo, a droga, agravada como escape do desemprego galopante e da exclusão social. Parece que ninguém é responsável, mas o fenómeno dos drogados e dos sem-abrigo está enraizado mesmo às portas da cidade. Muitos comentam o problema, prometem e nada fazem. É uma hipocrisia.