Luísa Sousa partilha com os alunos da Escola Jaime Moniz o seu livro “Um Caminho para Todos”

Luísa Sousa partilha ideias com a turma do Curso Técnico de Ambiente, CEF 61.

A Escola Secundária Jaime Moniz, através dos Cursos de Educação e Formação e do Curso de Línguas e Humanidades/Turma 47 do 12.º ano de escolaridade, proporcionou aos seus alunos um encontro com Luísa Sousa, autora do livro Um Caminho para Todos – Diário de uma peregrina no Caminho de Santiago. Foram três palestras individuais, também enquadradas no tema “Interculturalidades”, desenvolvido no âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento do 12.º ano do ensino regular (turma 47).

Luísa Sousa é uma madeirense que partilha a experiência de ter percorrido a pé o famoso caminho, desde Sevilha até São Tiago de Compostela ou Via de La Plata, ao longo de mil quilómetros, durante 42 dias. Mais do que focar-se no trajeto, Luísa Sousa partilhou com os estudantes as múltiplas aprendizagens que viveu nesta exigente jornada, os encontros inesperados, as lições de vida, a descoberta de lugares e pessoas e ainda a necessidade de superar os obstáculos diários. Neste tempo de pandemia, estas palestras feitas individualmente a cada turma, por força das restrições sanitárias, proporcionaram aos jovens algumas lições de vida do peregrino, nomeadamente o saber viver com pouco, o saber apreciar a generosidade de desconhecidos, a superação das dificuldades, o espírito de resiliência e a importância de fazer o caminho que seguramente mudará vidas. Nada fica igual depois de trilhado o caminho. Afinal, o caminho é o ponto de partida para redescobrir tantos outros caminhos para a vida.

Sempre com um sorriso nos lábios e com um grande sentido de humildade, Luísa Sousa tem vindo a dar o seu testemunho nas várias escolas do território continental português, deixando assim sementes para futuros peregrinos. O caminho é uma proposta desafiante para crentes e não crentes. Além deste desafio, tem vivido outras experiências de missão fora de Portugal.

Luísa Sousa sempre teve uma empatia pela ideia da peregrinação, aliás como crente que é. Mas não tinha hábitos de fazer caminhadas e muito menos de caminhar dias e dias a fio. No entanto, a passagem por Santiago de Compostela aconteceu a 25 de julho de 2006, quando ainda estudava na Universidade do Porto. Esta ida a Santiago foi edificante e transformadora. A convivência com os peregrinos e o abraço à estátua de São Tiago de Compostela foram experiências enriquecedoras que mudaram a sua atitude. Ao testemunhar a alegria dos peregrinos que chegavam à Catedral, a vitória da superação das dificuldades do caminho e a euforia contagiante despertaram a madeirense para a tomada de decisão de também fazer o caminho. Mas esta intenção só se tornou realidade em 2010. Poderia ter chegado a Santiago de Compostela através do conforto dos transportes públicos. Mais rápido e cómodo. Mas, também guiada por uma força superior, fez-se à estrada, arriscou, quis sentir na pele a experiência transformadora dos peregrinos. E assim começou a caminhar uma mulher, sem hábitos de exercício físico, mas movida por uma força interior inexplicável. Luísa Sousa começou por fazer o Caminho Português, a partir do Norte de Portugal, o mais curto, inferior a uma semana, mas o mais marcante: “Foi o caminho mais marcante porque me deu confiança para fazer tudo aquilo que veio depois. Pude verificar que o caminho é acessível a todos e que tinha perdido muito tempo a pensar no assunto”. Naturalmente que as dificuldades existiram – climas instáveis, bolhas nos pés, cansaço extremo… – mas não são essas coisas que alimentam as memórias mas sim a superação das dificuldades, o encontro com pessoas generosas e solidárias e a hospitalidade e amabilidade de desconhecidos…”

A palestra com os alunos do Curso Técnico de Informação e Animação Turística, CEF 6 2.

O Caminho mais longo e exigente, trilhado em 2014, Via de La Plata e Caminho Sanabrês, está relatado no livro que publicou Um Caminho para Todos, editado em 2016. É o diário, na primeira pessoa, de uma vivência singular na estrada ao longo de mil quilómetros, durante 42 dias, até Santiago. Uma vez chegada à meta, Luísa Sousa confrontou-se com “um misto de emoções, a alegria da chegada e da vitória, a incerteza sobre o que fazer depois desta meta”. A este respeito, insiste muitas vezes na ideia de que não é a meta que importa, nem sequer o percurso ou o caminho, mas sim o que muda no interior de cada peregrino, já que ninguém fica indiferente às aprendizagens que testemunhou. Aliás, ao participar na celebração eucarística, na Catedral de Santiago, lembra-se das palavras do sacerdote: se o caminho não mudou nada a vida do peregrino, então não o fez verdadeiramente.

A partilha pelo Google Meet com a turma 12.º ano 47 (ensino regular), que tem o regime do ensino à distância.

As lições de vida transmitidas aos estudantes foram inúmeras e valiosas. Desde logo, o facto de não ser preciso ter tanta coisa à nossa volta para viver. O peregrino caminha de mochila às costas, com o essencial, e vai superando as privações do dia a dia, também com a generosidade de tantos desconhecidos, o que destrói o mito tantas vezes divulgado pela comunicação social de que os estranhos são um perigo ou uma ameaça. Depois, refere a preletora, o caminho é acessível a todos, pois está bem sinalizado e preparado para acolher os peregrinos, com albergos adequados.

Além da experiência do caminho, Luísa Sousa tem vivido outra igualmente rica: a experiência das missões. Assim, o caminho abriu vários caminhos para outras vivências. Uma delas partilhada com os jovens foi a experiência de voluntariado em Calcutá, ao longo de mais de um mês, entre outras. Não são apenas coisas boas que se vive, no terreno. Há “espinhos”.  “Mas não é a dificuldade que fica na memória. O que ressalta é o amor e a alegria, o ser positivo e acreditar que vale a pena o que se está a viver”. Retomando os versos de um poema espanhol, Luísa Sousa insistiu neste ponto: “Caminhante, não há caminho.! Faz-se caminho ao andar…”

As palestras com os alunos dos cursos CEF 1 e 2, tipo 6, 12 ano, foram presenciais, enquanto a turma 47 do 12.º ano assistiu à conferência pelo Google Classroom/Google Meet. A partir destas palestras e da leitura da obra publicada pela autora, os jovens farão as suas apresentações orais, no âmbito da disciplina de Português. A escritora ofereceu ainda o seu livro à biblioteca da Escola Secundária Jaime Moniz.

A experiência de fazer o caminho: o ponto de partida para uma mudança interior.

 

A Catedral de Santiago de Compostela: a meta dos peregrinos.