Afinal, qual é a lógica da batata?

Não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Esta é uma filosofia que se aplica em qualquer situação, política, social, ambiental, económica, etc. Por isso, quem exerce o poder deveria ter a inteligência para garantir uma justa distribuição dos recursos e a sustentabilidade do processo de desenvolvimento.

Nos setores económicos, há muitos anos que a agricultura tem sido desprezada.  As medidas para o setor primário são avulsas e sem critérios, muitas dessas medidas parecem ‘fatos à medida’ para servir interesses avessos ao sucesso do setor. O resultado tem sido esta oscilação entre avanços e recuos, em função do acaso.

O que temos visto tem sido uma governação dependente de subsídios estatais e dos fundos comunitários. Pior que isso, dependente dos interesses particulares, partidários e eleitoralistas. Ora, a política do amiguismo e clientelar, além de criminosa, não garante sustentabilidade no processo de desenvolvimento da Região.

Recentemente, fomos a Santana, para verificar uma realidade escondida por detrás da propaganda da maioria PSD, agora com o CDS embutido. Constatámos largas dezenas de toneladas de batata doce a apodrecer na terra e nos armazéns. Um agricultor, entre outros, mostrou cerca de 80 toneladas de batatas, irremediavelmente perdidas.

Há coisas que não se entende, mas que podem ter alguma razão que se desconhece. Por isso, em relação à estratégia de governo, frequentemente, as pessoas interrogam-se sobre a lógica da estratégia do executivo para o desenvolvimento. Então, qual é a lógica da batata?

Em relação à produção regional não basta o show-off dos selos do “produto da Madeira”, das obras para gastar cimento e alcatrão, a pretexto do desenvolvimento do setor primário. Não basta açambarcar os fundos comunitários em projetos desenhados para uma certa clientela partidária, mantendo a atividade aberta, enquanto dura o prazo obrigatório para sacar os milhões.

A maioria, inimputávelmente, continua a governar para interesses instalados. Continua a alimentar as clientelas na mesa do orçamento da Região.  Tudo gravita em função de interesses que não os do bem-comum.

A maioria no Parlamento rejeita, com os enganosos argumentos de sempre, todas as propostas do grupo parlamentar do PS, nestas e noutras áreas da governação.

A propósito, a maioria PSD/CDS, chumbou, entre outras, as seguintes propostas: direcionar produtos com dificuldades de escoamento para as instituições de solidariedade social; definir critérios de aquisição de produção local para as cantinas e refeitórios da Região; criar o estatuto da agricultura familiar; definir critérios para garantir que a sidra madeirense, “produto da madeira”, fosse produzida com fruta regional.

Enfim, é claro que precisamos de uma estratégia para a sustentabilidade da produção regional. Uma estratégia integrada que dê confiança aos homens e às mulheres que trabalham na terra e investem as suas poupanças. Que torne o setor primário atrativo para os jovens agricultores. Uma estratégia pensada para desenvolver a economia de forma rentável, para fixar as populações às localidades, para escoar os produtos, para cuidar do ambiente e diminuir a dependência das importações. Uma estratégia para agricultura que passa, também, pela indústria transformadora. Mas, a maioria tem-se revelado manifestamente incompetente para tamanha tarefa.

Moral da história. Afinal, para esta maioria que governa, a lógica é mesmo uma batata.