Director clínico do SESARAM preocupado com aumento de casos de Covid-19 e eventual sobrecarga

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O director clínico do Serviço de Saúde da RAM (SESARAM) está preocupado com o aumento dos casos de Covid-19 e com o impacto que esse crescimento pode ter na capacidade instalada nos serviços. O dr. Júlio Nóbrega salienta que essa capacidade não está, para já, posta em causa, mas admite, numa breve entrevista ao Funchal Notícias, que se a progressão do número de infectados com o novo coronavírus continuar nos moldes que se têm visto no arquipélago, não demorará muito até que a capacidade de acolhimento eventualmente se esgote e que o Governo Regional tenha de contratualizar com os privados, para aumentar a oferta do número de camas disponíveis para doentes Covid-19.

É que o número de pessoas infectadas com o novo coronavírus tem crescido substancialmente, conforme se tem visto ultimamente, estando provavelmente relacionado este aumento, com um relaxamento dos comportamentos da população durante o período de Natal e fim-de-ano, acrescido pelo regresso dos estudantes e de emigrantes à Região. Pelo seu lado, Júlio Nóbrega só pode constatar a realidade matemática. Por enquanto, diz-nos, a situação está ainda longe do descontrole, em termos de assistência médica. No Hospital Dr. Nélio Mendonça há uma capacidade instalada de cerca de uma centena de camas, distribuídas por vários espaços. Criada com uma capacidade de trinta camas, a Unidade Polivalente para doentes Covid-19 do Hospital foi sendo progressivamente ampliada até alcançar este número. Segundo os últimos números, há actualmente 71 internados. Entretanto, na cave da Consulta Externa criou-se mais um espaço, para internamento de doentes suspeitos, ou seja, que tenham estado em contacto com casos positivos e aguardem confirmação de testes. Aí há 32 quartos individuais, uma vez que estes doentes não podem estar em contacto uns com os outros. Por baixo da Urgência, está-se a criar ainda 12 camas em isolamento, e 4 quartos com pressão negativa. Por outro lado, no Hospital dos Marmeleiros há umas 72 camas destinadas a doentes Covid-19, ainda não ocupadas. E quem poderá vir a ocupá-las? Júlio Nóbrega explica-nos que tais leitos se destinam a acolher doentes Covid sem necessidade de cuidados intensivos.

A questão dos Cuidados Intensivos é precisamente uma outra que tem suscitado dúvidas, nas informações divulgadas pela Secretaria Regional da Saúde e Protecção Civil. Nota-se um crescendo nas mortes de pessoas que não são atribuídas à “Unidade de Cuidados Intensivos Covid”, pessoas que morrem ou em casa, ou na Unidade Polivalente. Isto suscita dúvidas junto do leitor. Porque é que estas pessoas não chegaram à “última linha”, os Cuidados Intensivos? Não lhes foram dispensados os mesmos, porquê?

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Júlio Nóbrega diz não saber esclarecer a situação das pessoas que morreram em casa, mas quanto à das outras pessoas, explica-nos o que acontece. Em primeiro lugar, há aparentemente um equívoco quanto ao funcionamento da dita “Unidade de Cuidados Intensivos Covid”. É que o que existe, de facto, é uma Unidade Polivalente para a Covid-19, com diversos espaços dentro dos quais os doentes são tratados em função do seu estado de gravidade. Há doentes que dentro desta Unidade Polivalente, recebem Cuidados Intensivos. E há outros que não, até porque tal não seria ético. O médico intensivista dá-nos exemplos: pessoas muito idosas, acamadas, ou muito doentes de outras patologias, notoriamente no fim da linha, e a quem o proporcionar cuidados intensivos seria apenas prolongar artificialmente, e eventualmente dolorosamente, uma existência sem quaisquer perspectivas de melhoras. Esses pacientes não são submetidos a todos os processos dos Cuidados Intensivos.

Por outro lado, a todos o que não se encontram nestas condições, os Cuidados Intensivos são proporcionados, sempre na perspectiva de uma desejável melhoria e recuperação. Neste momento, diz-nos o médico, o número de pessoas com Covid-19 no Hospital Dr. Nélio Mendonça que estão a ser submetidos a Cuidados Intensivos é muito baixo. Apenas duas estão a recebê-los, números de ontem.

Júlio Nóbrega constata que de facto a grande maioria das pessoas nas quais a Covid-19 se manifesta mais gravemente pertence a um grupo etário mais idoso e fragilizado. Mas há excepções. Há casos de pessoas que já morreram no SESARAM, que se encontravam na casa dos 60 e eram autónomas. A pneumonia causada pela Covid-19 agrava-se e pode ter resultados inesperados.

Uma preocupação do médico prende-se de facto com a progressão muito grande que o novo coronavírus tem registado nos últimos dias, com os números continuamente a aumentar e a ameaçar a capacidade hospitalar instalada. Outra prende-se com a inexistência de profissionais médicos para dar resposta a uma eventual sobrecarga do número de doentes hospitalizados. Por enquanto, garante, não há falta de profissionais de saúde, médicos e enfermeiros, na Região. Mas isso, assume, pode vir a acontecer, obrigando mais uma vez as instâncias governamentais a procurar atrair para a Região outros profissionais.

Neste momento, uma altura em que inclusive isso é insistentemente perguntado por certos partidos políticos, o director clínico do SESARAM afiança que, por causa da Covid-19, e mau grado o adiamento de alguns actos médicos como cirurgias, “não está a ser limitada nenhuma actividade”.