General Carlos Perestrelo lança livro no qual diz que foi “torpedeado” pelas chefias militares

O general Carlos Perestrelo queixa-se de ter sido “torpedeado” pelas hierarquias militares no seu livro intitulado “Fogo Cruzado – O Último Governador Militar da Madeira 2017-2019”, que juntou hoje à tarde um público apreciável no Savoy Palace. O major-general, que foi exonerado pelo Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, por ter feito transportar um canhão para um torneio de golfe, diz que nesta obra, prefaciada pelo antigo presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, quis sobretudo transmitir o que foi a sua experiência de comando na Zona Militar na Madeira e, simultaneamente, no Comando Operacional. À comunidade madeirense, agradece o reconhecimento por um mandato que, afirma, procurou desempenhar da melhor forma.

Alega ter conseguido transmitir, sobre as Forças Armadas, mensagens inéditas “cujos obreiros foram os meus militares”, mas por outro lado, e no processo que conduziu à sua exoneração, denuncia “o silêncio das chefias militares, que foi marcante para mim até aos dias de hoje, pois estamos a falar de gente minha contemporânea, e amigos de família, e quando não protegeram um dos seus generais, ficam marcas de amargura” assumiu.

Carlos Perestrelo sentiu que “tinha que escrever qualquer coisa, sempre com muita elevação”. Aliás, salienta, praticamente não faz acusações infundadas, preferindo expressar as excelentes relações institucionais que teve, inclusive com os órgãos de comunicação social. No entanto, não se coibiu de apontar o dedo à comunicação social que, em seu entender, o prejudicou, inclusive citando nomes de jornalistas e de jornais.

Os cinco meses de silêncio após a sua exoneração, confessa, custaram-lhe. Iniciou o projecto do livro essencialmente fruto deste episódio de final do mandato, mas nele procurou verter também experiências mais positivas. Sente que muitos madeirenses lhe demonstraram solidariedade, desde autarcas ao Governo Regional e à Assembleia Legislativa da Madeira, cujos votos de louvor “o marcaram para sempre” e constituíram uma “recompensa” pelo trabalho que efectuou na Região.

O general afirma deixar no livro os factos e proporcionar também aos leitores a possibilidade de lerem os seus sentimentos, e fazerem o seu juízo. “Uma coisa é clara: a minha entrega à instituição militar foi incondicional durante 40 anos de serviço, com sacrifício da própria família, e naturalmente uma pessoa sente que é injustiçada”.

“Tenho a noção clara de que fui injustiçado. Não sei quem teria sido exactamente o responsável. Provavelmente eu até fui um meio para atingir um fim. Tenho dificuldade em aceitar que alguém não tenha carinho por mim, porque eu fiz tudo para estabelecer boas relações com todas as instituições, nomeadamente com as credenciadas chefias militares”, referiu o general ao Funchal Notícias.

Questionámos o porquê de Carlos Perestrelo ter subtitulado o livro “O último governador militar”, quando na realidade o último a exercer esse cargo, na Madeira, foi Carlos Azeredo, já lá vão longos anos. “Eu chamo praticamente àquilo tudo uma alegoria, toda a história do “Fogo Cruzado”. O último governador militar porquê? Porque a função do cargo de um único oficial general na ilha como unidade de comando, independentemente do nome, não é relevante. O Palácio de São Lourenço deixou a marca na população de um governador militar, e eu fiz questão, no momento em que passam a existir dois oficiais generais na ilha (…) [salientar] que eu fui o último, porque agora há dois. Não sei se o ciclo pode voltar outra vez atrás”, duvida. “O general comandante ainda é considerado por muita gente como o governador militar da ilha”, acrescenta.

Carlos Perestrelo, durante o seu mandato, desenvolveu várias iniciativas destinadas a dar visibilidade às Forças Armadas, incluindo saltos de pára-quedas na Região. Aliás, ele mesmo é general páraquedista, habilitado além disso com o curso de “Ranger”.

Terminou o mandato sem honra nem glória, e a ser alvo de chacota a nível nacional, por ter levado um canhão para um torneio de golfe no Santo da Serra, com propósitos promocionais da instituição militar. Lamenta que a comunicação social nacional tenha alinhado pelo diapasão da chacota, que o fustigou após décadas de serviço como severa injustiça, até porque não é a primeira vez que entidades civis são convidadas por militares a disparar peças de artilharia, o que se costuma chamar “puxar o cordão”. Foi substituído como Comandante Operacional da Madeira pelo contra-almirante Dores Aresta.

Hoje à tarde vários elementos da “sociedade” madeirense marcaram presença no lançamento do seu livro, incluindo empresários, secretários regionais, o comandante da PSP e outras entidades. Alberto João Jardim, o prefaciador do seu livro, diz que o general foi alvo de “uma trama inadmissível”. Visado na notícia de um matutino, que originou o escândalo nacional, o general diz no livro que inclusive foi contactado na altura pelo sócio maioritário desse mesmo matutino, mostrando-lhe solidariedade e desagrado com a notícia.