O intrigante Mistério do “jornal da casa”!!!

Não sei se por lei, se por decisão arbitrária dos proprietários de estabelecimentos de restauração, passou a ser interdita a existência e leitura dos jornais ditos “da casa”.

Pelos vistos, a medida tem vindo a ser tomada aleatoriamente, uma vez que alguns cafés disponibilizam o jornal como era usual antes da pandemia, ao passo que outros há que alegam ser interdito e determinado por lei, embora depois não saibam explicar a que lei se referem nem quem a decretou, razão que me leva a ter sérias dúvidas e naturais reservas sobre a segunda hipótese.

Até prova em contrário, parece-me bem mais avisado inclinar-me pela opção do bom-senso e algum receio dos referidos proprietários de que os jornais possam constituir um potencial veículo transmissor da Covid 19.

O mesmo tem acontecido, de há uns tempos para cá, com as revistas nas salas de espera dos consultórios, dos cabeleireiros, entre outros, mas, aqui, com a vantagem de uma pessoa não ter de voltar ao século passado ou à televisão a preto e branco, dada a sua desatualização.

Após algumas aturadas pesquisas na Internet a fim de deslindar o intrincado mistério do desaparecimento do célebre “jornal da casa” ou revistas com cheirinho a mofo de 1998, acabei por apurar que, até à data, não há qualquer deliberação ou lei nesse sentido quer a nível nacional, quer a nível regional.

A nível nacional, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apelou mesmo à leitura da imprensa, salientando que “o risco da transmissão do vírus [da covid-19] através do papel é muito pequeno”, afastando o perigo de contaminação do papel.

“O risco é, de facto, baixo. Devemos continuar a ler, a utilizar o suporte papel”, frisou, apelando diretamente a cafés e outros estabelecimentos e instituições para “continuarem” a assinar a imprensa, nomeadamente a regional. Sublinhou ainda que “Podemos continuar a ir às livrarias comprar livros, podemos continuar a ir às bibliotecas, podemos continuar a ler jornais ou revistas” em casa ou nos cafés ou noutros estabelecimentos”, salvaguardando que “cabe aos utilizadores terem algum cuidado no manuseamento de jornais e revistas e cumprirem as regras de higiene que deviam ter sempre, com Covid ou sem Covid”.

Com efeito, a Organização Mundial da Saúde e os principais institutos científicos e virológicos de referência internacional concluíram que a exposição à covid-19 através de papel de jornal é praticamente inexistente e que, por isso, o contacto é seguro.

Graça Freitas confirmou-o numa conferência de imprensa diária de 8 de junho. “O risco é, de facto, baixo. Devemos continuar a ler, a utilizar o suporte papel”, apelando diretamente a cafés e outros estabelecimentos e instituições para continuarem a assinar a imprensa. Desta vez, contrariamente a gaffes anteriores, Graça Freitas parece “ter feito o trabalho de casa”, baseando-se em dados científicos e não em insustentados e risíveis, quando não mesmo graves, “achismos”.

A secundar a fiabilidade dos dados científicos, três meses depois da declaração do estado de emergência, Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, confirmou igualmente que o risco de transmissão pelos jornais “é muito baixo”, embora recomende cuidados básicos como “higienizar as mãos depois da leitura”.

Para o clínico, há ainda que evitar o velho hábito de molhar (ou encharcar) o dedo na língua para folhear as páginas, “Isso é que não pode ser.” Sobre este velho hábito gostaria de reservar algumas linhas, em jeito de desabafo.

Antes de mais, a redução desse costume grosseiro, repugnante e muito pouco higiénico (para não dizer algo mais ácido) é um ganho a saudar e aplaudir de pé. Sem dúvida. Chapeau! Será que o uso em lugares estratégicos das páginas de jornal da pimenta mais ardente do mundo, a chamada Carolina Reaper, que segundo a “Escala de Scoville”, também chamada de “Unidades de Calor Scoville”, traduzida da sigla em inglês “SHU”, que serve para medir a quantidade de ardência de uma pimenta, assegura uma ardência em unidades de calor de 2. 200. 000 SHU, seria capaz de tirar aquele mau costume do dedo salivadinho que ninguém sabe por onde andou?

Não estou a dar ideias, mas aposto que seria coisa para escarmentar muitíssimos adeptos da saliva “do virar de página” ou um “virar de página” no uso e abuso da dita cuja. Estou mesmo em crer que muitos ficariam pela primeira “lambidela”, para além de serem premiados com uma recordação gustativa absolutamente inesquecível!!!

Cientificamente falando, pesquisas científicas das universidades de Bochum e Greifswald (Alemanha) asseguram que, “por ser poroso”, o papel “é uma das superfícies mais resistentes” aos vírus.

A comprová-lo podemos remeter para um artigo recentemente publicado no prestigiado jornal norte-americano New York Times, assinado pela editora de saúde Tara Parker-Pope, que cita especialistas mundiais, assegurando que “o risco de infeção pelo manuseio de papel é, atualmente, apenas teórico”. “Não há casos documentados de alguém ficar doente ao ler um jornal”, conclui. Quando muito, poderá ficar com a sensação de que o jornal esteve à chuva, a cheirar a alho ou a sovaco.

Assim sendo, não vamos entrar em alarmismos e embarcar em pânicos injustificados e doentios. Em face das evidências científicas e, apesar dos leitores cuspideiros militantes, tende piedade de nós e devolvei o estimado “jornal da casa”!!!

A concluir, só um último reparo, particularmente destinado aos super e hipermercados. Seria de toda a sensatez que se arranjasse um dispositivo, como já existiu, que não permitisse folhear os jornais ou revistas, lambuzando-as com toneladas de ADN, só faltando a alguns desses “frugais” que se recusam a pagar para consumir, uma cadeirinha de esplanada. Já tenho assistido a muitos casos e, porque tenho direitos de consumidor pagante, não tenho de pagar por um jornal que levo para casa e que andou repetidamente a ser “sovado”, “de borla” por mãos sovinas ou besuntadas de cuspo, secreções nasais esverdeadas ou vestígios piores. Fica a recomendação.