As carpideiras…

Nada melhor do que começar este artigo de opinião com a famosa canção brasileira dos anos 50, uma marcha de Romeu Gentil e Paquito, na interpretação de Jackson do Pandeiro: “Quem não chora, quem não chora não mama! ” Esta marchinha, que animou muitos Carnavais, aplica-se às mil maravilhas ao que temos visto constantemente na Madeira, face ao Governo central. Agora a questão é a Covid-19, mas de qualquer modo, com pandemia ou sem pandemia, a música dos governantes regionais é sempre a mesma. A palavra de ordem é reivindicar, embora queiram mandar cá sozinhos. Mas a música também diz, a certa altura: “Você chora, chora de barriga cheia, o dinheiro está na meia”…
Os nossos governantes do rectângulo não ouvem as nossas preces. Faz lembrar uma história que nunca abandonou a minha memória. De 1927 a 1929, o governador geral da Índia era o general Massano de Amorim, nome que conhecia de uma placa toponímica na ex -Lourenço Marques em Moçambique, hoje Mao Tse Tung, por deliberação de Samora Machel, que substituiu todos os nomes de avenidas. 
Quando visitei Goa há mais de 20 anos, pela primeira vez fiquei a conhecer quem era Massano de Amorim, que os goeses não esquecem. Reza a história que os organizadores das das festas de São Francisco Xavier foram recebidos pelo representante português de forma original, quando lhe foram solicitar uma ajuda monetária para os cantantes dos festejos.
Resposta imediata de Massano de Amorim: “Não tenho dinheiro para aqueles que choram, muito menos para aqueles que cantam”. No ano seguinte, os festeiros voltaram à residência oficial do Governador, solicitando desta feita um apoio para o transporte de peregrinos. Resposta implacável: “Quem tem fé, vai a pé”. 
Hoje, no século XXI, continuamos nós, madeirenses, de mão estendida para o Terreiro do Paço, e vamos chorando neste vaso de lágrimas, com recadinhos para lá e para cá, pedindo ao domingo ao Presidente da República a sua intervenção junto do Primeiro Ministro e na quarta e na quinta-feiras criticando que o mais alto magistrado da Nação nada fez. 
Os nossos deputados na Assembleia da República pouca influência têm. Nos últimos anos, deixámos de ter lobbies e passamos o tempo nas choraminguices, como se fôssemos carpideiras. Não vejo os Açores, com nove ilhas, serem como aqueles meninos que estão constantemente num choradinho e com birras. Se há alguém que merece uma estátua “não colonizadora” nesta Madeira em marcha (e não para vandalizar ou cortar a cabeça) é o engº António Guterres, hoje secretário-geral da ONU, que, não esqueçamos, colocou a zeros a nossa dívida. E olhe-se que foi um primeiro-ministro socialista mimoseado como “tonto” por Alberto João Jardim…
E continua a choradeira: “Quem não chora não mama, segura a chupeta, que eu “tô que tô”…”