Veja em 19 fotos a “dor de alma” que é a Capela de Nossa Senhora da Saúde… ou o que resta dela!

Chega a doer o coração como é que se deixa um património do século XVII chegar a este estado de degradação.

A capela barroca de Nossa Senhora da Saúde, no Funchal, fundada em 1659 pelo Dr. Pedro Cardoso Valdavesso e sua mulher, D. Maria Gondim está no estado de degradação que as imagens documentam.

Propriedade privada, escondida no interior de uma garagem, a capela está à mercê do tempo e dos saqueadores.

Dela já desapareceram algumas preciosidades como o sino, a cruz de pedra e a pia de pedra branca de água benta colocada à entrada da capela.

O espólio da capela desapareceu, foi saqueado ou deteriorou-se.

A capela deu nome ao Largo da Saúde, em São Pedro, outrora também chamado Largo do Marquês, em memória do Marquês de Castelo Melhor, também conde da Calheta e um dos representantes do ramo principal dos descendentes de João Gonçalves Zarco.

Trata-se de uma construção única, do século XVII, com cripta particular, com um levantamento feito pelo falecido Dr.  António Aragão, talha brasonada, raríssima, datada do século XVII, da família Gondim e Valdavesso.

A Capela estava inserida na Quinta da Vinha, que lhe era anexa e, onde mais tarde os Miles tiveram uma fábrica, por sinal a primeira fábrica de cervejas da Madeira.

Com efeito, foi no Solar de Cintra ou Solar da Vinha  que, desde 1872, se instalou, na residência da família Valdavesso, a primeira fábrica de cervejas da Madeira, a “Miles & Cª. H. P.”, por Henry Prince Miles. Disso dá nota uma publicação de Maio de 1996, na revista Atlântico, a propósito dos 125 Anos de Cerveja na Madeira.

Em março de 2015 e em maio de 2017, o Funchal Notícias denunciou a situação. Mas nada mudou até hoje. Antes pelo contrário, a degradação acentuou-se.

Em 2017, o Governo Regional adquiriu, num antiquário madeirense, uma peça pictórica anteriormente pertencente ao retábulo desta capela. Apenas um fragmento do puzzle. A capela era rica em telas, azulejaria, talha e, em 1661, passou a ostentar um retábulo de talha dourada.

A obra de talha é/era uma manifestação de um novo gosto na decoração de pequenos templos, com um arco superior interrompido por nicho (ladeado pelo Sol e Lua com rosto humano prefigurando o Antigo e o Novo Testamentos) a ocupar o espaço de fundo do altar-mor.

À frente da capela funcionou uma serragem que, entretanto, encerrou. Os herdeiros dos proprietários repartiram algumas peças e imagens da capela.

Como chegou a descrever José de Sainz-Trueva, com dezanove nichos para imagens, rico em simbologia alusiva à invocação da capela, o retábulo de Nossa Senhora da Saúde é exemplar, testemunhando a influência da moda espanhola e do novo estilo que revitalizaria a talha portuguesa, dando-lhe cunho nacional.

Segundo Santos Simões, a capela teve cobertura de azulejos polícromos do século XVII, restando apenas uma cercadura para tapete coberta pelas partes laterais do retábulo.

Nas paredes da capela existiu uma colecção de estampas votivas e registos de santos, impressos nas mais variadas técnicas e de diversos autores, ali deixados por devotos e fiéis. Ladeando o altar, na sua parte inferior, dois painéis armoriados ostentam, à esquerda, as armas do Dr. Pedro Carvalho de Valdesso, Juiz dos órfãos da cidade do Funchal, e à direita, as de sua mulher.

No chão da capela, uma lápide tumular em pedra da ilha, com epitáfio gravado, cobre a única cripta particular conhecida na Madeira  em edificação semelhante.

Há muitos anos atrás, foram ali encontrados dois cadáveres da família Valdavesso, sepultados no século XIX , ainda com restos de vestuário e calçado.

Pedro Carvalho de Valdavesso  faleceu no Funchal, na freguesia de São Pedro, a 3 de de Julho de 1679.

A lápide tumular encomendada em 1660, dezanove anos antes da sua morte, mostra claramente a intenção de se fazer sepultar na companhia de sua esposa, que mandara erigir a capela de Nossa Senhora da Saúde.

Hoje, tudo isto é história, memória e falta de consideração.