Coragem para a travessia do deserto

A crise caiu-nos à porta, com o novo coronavírus. Todos reclamam, ricos ou pobres. Entretanto, como consolo, fomos ouvindo o secretário regional da Saúde repetir, durante dias e dias, que “temos de aproveitar as oportunidades que o coronavírus nos dá”. E quais são elas? “Lavar as mãos, usar máscara e manter o distanciamento social…”

Já principiou uma “travessia do deserto” comparável à dos tempos bíblicos. Esperemos que não leve 40 anos, como a do povo judeu. Porque até os próprios participantes nessa “travessia” reclamaram, ao ponto de dizer que seria melhor que o Senhor os tivesse matado no cativeiro do Egipto. E para números 40, já basta a “quarentena”, de que tanto ouvimos falar e que, se não demorou entre nós 40 dias, como originalmente, não deixou por isso de ser menos penosa.

Esta “praga”que estamos a enfrentar leva-nos ao desemprego, ao empobrecimento, à fome, ao roubo, à doença e até ao suicídio. O povo em desespero continua a cobrar aos governantes, que não têm poderes divinos para fazer chover do céu o “maná” para alimentar estes ilhéus.

As nossas reivindicações são outras, mas muitas: subsídio de desemprego, lay-off, reforma antecipada, mobilidade, apoios para tudo, sempre a cobrar etc… Apesar da tecnologia existente, o mundo está longe. Esquecem-se que o saco do governo não é sem fundo e que a teta da vaca de Bruxelas está lentamente a secar.

A nossa galinha de ovos de ouro –o Turismo- eclipsou-se. Por enquanto, está dar uma volta por outros lados. Por quanto tempo não sabemos. Fala-se em turismo interno a reboque de uma brilhante ideia: implementar um subsídio de mobilidade para os continentais nos mesmos moldes dos ilhéus.

Mas é uma pescadinha de rabo na boca. Qual é o governo “louco” que paga férias cá dentro? Quem vai apresentar um projecto de lei para abolir as taxas do aeroporto na Assembleia da República? Quem paga?

Até quando iremos continuar de chapéu na mão, como coitadinhos? Vamos à luta. Os discursos dos nossos governantes são bonitos mas não têm aplicação prática.

O presidente Reagan tem uma frase célebre: quando uma pessoa ou empresa gasta mais do que ganha vai à falência… Quando um governo gasta mais do que recebe, manda-te a conta. Ou seja: seremos sempre nós a pagar as soluções…

Aliás, a solução para isto é quase sempre a austeridade, uma herança maldita que temos de enfrentar. Não é cortando nas áreas básicas, na saúde na educação mas cortando “na própria carne”. Se fosse um governo Passos Coelho, já estávamos a pão e água…

Arregacemos as manga. Não esperemos que bandos de codornizes venham cobrir o arquipélago da Madeira para que possamos alimentar a nossa família. A palavra de ordem é trabalhar … trabalhar.

Temos de nascer de novo. O que significa ter a oportunidade de recomeçar a vida, ter uma nova oportunidade. Não enterremos a cabeça na areia como  a avestruz. A arma neste momento para combater o vírus e a crise é voltar à normalidade e perder o medo, mas com prudência.