Vamos lá!

Não sei porquê. Se porque me sobeja tempo se pelo excesso de informação. Mas sei que os meus pensamentos estão a ganhar vida própria. Disparam para todos os lados. E andam com os chakras desalinhados.

Tenham paciência.

Não sou adepta das teorias de conspiração ou absurdas. Não consigo conceber que tenham sido os extraterrestres a construir as pirâmides Maias ou a matar o JFK. Com a ajuda do Fidel Castro.

Mas esta coisa das máscaras tem muito que se lhe diga. A generalidade dos chineses e macaenses usam máscaras no combate ao vírus. E estão a dominar o bicho. Isso não quererá dizer alguma coisa?

Ah, que não, diz a OMS.

Que só são necessárias para os que estão infetados. Mas se há possibilidade – que há – de estar infetado sem sintomas, se usássemos todos máscara, isso não diminuiria massivamente a propagação? Parece-me que sim.

Que, segundo a OMS, também devem ser usadas por quem cuida de quem está infetado. Mas então se não serve para proteger os que não estão infetados. Em que ficamos?

A verdade é que isto é muito conveniente. Porque, à exceção dos países asiáticos, ninguém tem máscaras. Porque não se comprou. Porque não se investiu na Saúde. Como assim, não é novidade para ninguém. Seria melhor assumir isso com hombridade. Melhor do que nos fazer passar por idiotas.

Assim não vamos lá.

As saudades que tenho de uma espetada. Com milho frito e tudo. E de estar sentada com amigos numa esplanada a beber uma imperial. Com tremoços.

Ontem lia que o Estado Português enviou para alguns centros de saúde da Zona Norte material de proteção para os profissionais. Não fazem mais que o seu dever, claro. Só que não havia máscaras, óculos nem álcool. Apenas óculos de sol, folhas de acetato e molas para prender. Uma máscara de proteção improvisada. Assim à Macgyver.

Foi a este ridículo que chegámos. Uma pouca vergonha. Para não dizer o que diria o meu saudoso avô Tony (leia-se Tanim), uma pouca de merda.

Assim não vamos lá.

Pensar que odiava ir ao supermercado. E agora sinto tanta falta de lá ir. Pegar nas coisas sem medos. Sem ter de lavar as mãos depois como uma maluca, quase até ficar sem pele. Com calma escolher o que preciso, sem ter de olhar por cima do ombro para ver se está alguém a menos de 2 metros de mim.

Hoje vejo que as marginais de Póvoa do Varzim e Matosinhos se encheram de gente a passear. Entendo a necessidade de ar livre. Até porque isto, queiramos quer não, será mais maratona que sprint. Saí de casa com as miúdas, aqui mesmo perto de casa. Para desfrutarmos do verde, das árvores, do ar puro. De um resquício de liberdade. Mas só depois de me assegurar que não estava lá absolutamente ninguém.

Custa-me, pois, perceber o que se passou na cabecinha destas pessoas. Chegam lá e vêem centenas de pessoas. Mas agora já estamos vestidos. Até trouxe os meus ténis novos, presente do dia do Pai. Mais vale ir.

A sério? Não vêm notícias? Não sabem o desespero que se está a viver em Itália e em Espanha? Os relatos de terror que fazem os profissionais de saúde desses países? Não sabem que os 1.600 infetados e os 16 mortos em Portugal não são só números? Que são pessoas, pais, mães, filhos? Que poderiam ser os vossos?

Assim não vamos lá.

Conclui finalmente, neste meu tempo em casa, o que sempre soube. Há tarefas que adiamos com a desculpa de não termos tempo. Na verdade, pura e simplesmente não as queremos fazer. E não, não vou organizar fotografias. Por mais tempo que tenha.

Foi declarado o estado de emergência e o Governo de António Costa tratou de tomar as medidas para o concretizar. Estive a ler atentamente o decreto. Então, não se pode sair de casa. Exceto para quase tudo. Quando as exceções são mais que as mães, esvazia-se a regra.

Tudo fecha. Tirando tudo o que não fecha. Como é que estabelecimentos de venda de cosméticos, de flores ou jogos sociais podem ser de primeira necessidade? Tenham noção, por favor.

Se não têm a coragem e a verticalidade para tomar decisões difíceis, não podem estar onde estão. E, por favor, não chamem a vós todas as competências para o fazer, ao arrepio da verdadeira autonomia regional. Deixem quem sabe o que faz, fazê-lo.

Assim não vamos lá.

Para espanto de todos – especialmente meu – o isolamento social deu-me uma vontade sem precedentes para fazer bolos. Eu que fujo da cozinha como o diabo da cruz. Não é extraordinário que isso só aconteça quando não posso ir comprar os ingredientes necessários?

O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembra que “os consulados e embaixadas não são agências de viagens”, em resposta à preocupação dos portugueses que estão retidos em países fora da U.E. e que não conseguem regressar Portugal. Há ministros deste Governo que precisavam realmente de usar máscaras. Mas à prova de som.

Assim não vamos lá.

Porque carga de água decidi pôr verniz gel nas unhas, mesmo antes da pandemia? Nunca tinha feito e tinha de fazer agora? Não podia ter ficado quieta? Não basta ter de andar, nos próximos tempos, com cabelos brancos, ainda vou andar com pontas de gel nas unhas, porque não sei tirar isto? Que pontaria.

Os passageiros que chegam aos aeroportos da Madeira e Porto Santo vão fazer quarentena na Quinta do Lorde e no Hotel Vila Baleira. Mesmo que sejam residentes.

Comentava alguém quão irresponsáveis eram os pais que insistem em trazer os filhos de volta à Madeira. Se fosse eu fazia exatamente o mesmo. Lamento, mas queria tê-los debaixo da minha asa, especialmente neste cenário quase dantesco. Tomando as devidas precauções.

Por isso percebo perfeitamente os pais que estejam desgostosos com esta medida da quarentena fora de casa.

Mas parece-me perfeitamente proporcional ao Bem maior que visa proteger. E estarão, presumo, bem instalados. E comunicáveis a todo o tempo.

Porque, mesmo para os mais conscientes, um isolamento completamente eficaz numa casa onde vivam mais pessoas será quase impraticável. Mesmo com todos os cuidados. E poderão infetar os que com eles vivem, que por sua vez outros infetarão, numa cadeira de transmissão infernal e sem fim.

Quanto aos irresponsáveis que chegam e que planeavam, como alguns que vimos e sabemos, fazer jantaradas e churrascos, ir para a rua, para os supermercados e afins, nem sei o que vos diga. Mas sei que nem uma tenda de refugiados mereciam.

Assim não vamos lá.

Tenho saudades dos almoços de domingo em casa dos meus pais. Da algazarra das miúdas com a Titá. De vê-las sempre de roda da minha mãe. De abraçar os meus pais em vez de vê-los por videochamada ou à distância. Abraçar mesmo.

Assim vamos lá.

Mas custa. Custa horrores.