Leigo Arnaldo Paixão escreve carta aberta aos Bispos portugueses alertando para o “medo e vergonha” na suspensão das missas

Arnaldo Paixão, pregando num dos vários retiros católicos que dinamiza pelo país, sobretudo em Fátima.

Nem todos os católicos estão satisfeitos com a suspensão das missas e outros sacramentos, por deliberação da Conferência Episcopal Portuguesa. O descontentamento está justamente a ser expresso por parte dos leigos, no Continente.

Arnaldo Paixão, que habitualmente orienta vários retiros católicos, de norte a sul do país, é um desses casos. Funcionário público de profissão, este leigo endereçou uma carta aberta aos Bispos de Portugal que já está a ser divulgada nas redes sociais. O FN reproduz o teor dessa missiva, divulgada hoje, no dia em que a Igreja Católica celebra a solenidade de São José. “Medo e vergonha” é o título dessa carta que ora se reproduz.

“Medo e Vergonha

Carta aberta aos Bispos de Portugal

Queridos Bispos,

Erguei-vos! Vós sois os pastores!

O vosso povo olha para vós com expectativa, procurando ver da vossa parte um exemplo de fé, coragem e esperança, e o que vê? Medo e vergonha.

Medo de enfrentar a situação em que nos encontramos, com as armas da verdadeira Fé Cristã Católica, o Evangelho, através da reafirmação da Verdade nele contida, os Sacramentos, através da Santa Missa, da Confissão, da Unção dos Doentes e, através da oração e do jejum penitentes.

Vergonha, em proclamar que Jesus está vivo, que Ele verdadeiramente cura e liberta, não só a alma mas, também o corpo. Vergonha em desafiar o espírito do mundo, que apenas põe a sua confiança na ciência e num progresso social baseado no materialismo.

O mundo não fechou para obras por causa do vírus, adaptou-se. As lojas continuam abertas, porque o corpo precisa de ser alimentado, foram também reforçados os meios de prevenção e tratamento clínico mas, o católico que neste momento queira alimentar e curar a sua alma, vê as igrejas muitas delas fechadas, os confessionários desertos e os pastores em parte incerta.

Queridos Bispos, queridos pastores, as vossas ovelhas precisam de comer. Precisam de comer o Pão que desceu do Céu. Precisam da Santa Missa, não pela televisão, não pela internet. Precisam de entrar no aprisco. Não lhes fecheis a porta. Precisam de se confessar, precisam da unção dos doentes, precisam de comungar, precisam, por uma questão de vida ou de morte, verdadeiramente comer e beber o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Estais a matar à fome o vosso povo.

João 6:53-55

Disse-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue uma verdadeira bebida.

Até agora as autoridades não restringiram a movimentação dos cidadãos nem ordenaram o fecho de lojas, escritórios, fábricas e outras atividades, apenas limitando o número de pessoas a cada momento. Mas vós, de uma assentada, através de um comunicado lacónico, determinastes a suspensão da celebração comunitária da Santa Missa até ser superada a atual situação de emergência. Precisamos de mais, não de menos Missas, veja-se o exemplo da Conferência Episcopal Polaca, que determinou o aumento do número de Missas para que a concentração de fiéis em cada Missa seja menor. Usem de criatividade, distribuam os fiéis nas missas em bancos alternados com espaço suficiente entre cada pessoa. Façam Missas campais. Deem a comunhão na boca para evitar a auto contaminação através das mãos dos fiéis que não as podem lavar na Missa. Instruam os fiéis a manterem-se imóveis para que o sacerdote não toque indevidamente na boca. Na eventualidade de tocar, esteja um acólito com um paninho com álcool, onde o sacerdote passará os dedos, à semelhança do que é feito quando se dá o menino Jesus a beijar.

 

Os nossos queridos sacerdotes precisam de ter o “cheiro das ovelhas”, de acordo com uma frase do Papa Francisco e, não o terão certamente, celebrando Missas em igrejas vazias e falando para uma camara de vídeo. Com esta decisão, fostes verdadeiramente “mais papistas que o papa”.

Há vários sacerdotes nas vossas Dioceses que, sem medo de serem contaminados, apenas esperam uma palavra da vossa parte para que possam retomar a celebração comunitária da Santa Missa. Sede corajosos, ainda estais a tempo de corrigir tão infeliz decisão. Queridos Bispos, dai o exemplo celebrando vós próprios consecutivas Missas, dando a comunhão, a unção dos doentes e ouvindo em confissão as vossas ovelhas. Promovei a Adoração Eucarística permanente, conduzi o Rosário nas igrejas e catedrais, dai aos fiéis o exemplo dos oito padres jesuítas que a 6 de Agosto de 1945 sobreviveram ao lançamento da primeira bomba atómica sobre a cidade japonesa de Hiroshima, e quando lhes perguntaram como era possível eles terem sobrevivido à onda de choque e á radiação, a sua resposta foi: “acreditamos que sobrevivemos porque vivíamos a mensagem de Fátima. Rezávamos o Rosário diariamente naquela casa.”

A história da nossa Igreja está cheia de exemplos de fim de guerras e epidemias/pestes, apenas com a fé. Dois dos muitos exemplos:

1 – A Medalha Milagrosa dada a Santa Catarina Laboré por Nossa Senhora das Graças, mandada cunhar em profusa quantidade, para ser distribuída pelos doentes aquando da epidemia de cólera que infestou a cidade de Paris em 1832, trouxe a cura milagrosa a muitos deles e inúmeras conversões.

2 – Nos anos de 589 e 590, Roma foi assolada por uma terrível epidemia de peste. O Papa de então, Gregório, ordenou uma procissão, descalços e cobertos de cinza, pelas ruas da cidade. No fim da procissão a terrível epidemia tinha acabado.

Sede verdadeiros pastores, indicai o caminho. Afastai com o vosso báculo os “lobos” do medo e da descrença. Vede o exemplo dos 3 pastorinhos de Fátima que, mesmo pressionados e ameaçados pelas autoridades, não desfaleceram.

Mateus 10:28-31

“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma. Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! Quanto a vós, até os cabelos da vossa cabeça estão contados! Não temais, pois valeis mais do que muitos pássaros.”

Enviai os sacerdotes das vossas dioceses, para que eles possam ungir com os Santos Óleos, os fiéis doentes do corpo e da alma. Instrui-os para que eles vão aos hospitais, aos lares, de casa em casa, confessando, levando a Santa Eucaristia, curando e libertando em nome de Jesus. E se não os deixarem entrar, que eles, mesmo do lado de fora, deem a bênção às criaturas e às coisas. Mas, pelo menos tentem! Esta é uma oportunidade não de morte mas de vida, a Eterna. Muitos irmãos e irmãs nossos estão assustados e perdidos. Já o estavam antes do início desta pandemia, mergulhados em vidas de pecado e iludidos pelo mundo e pelo seu Príncipe, o Diabo. Sim, o mesmo Diabo em que alguns de vósz não acreditais, porque se assim fosse, haveria padres exorcistas em todas as Dioceses, os vossos subalternos seriam instruídos nas manhas e nas estratégias do inimigo, e estariam aptos e verdadeiramente motivados para o combate, o bom combate. Ide dizer aos nossos irmãos e irmãs que nada está perdido, mas sim, que tudo há a ganhar.

Efésios 6:12

“Porque não é contra os seres humanos que temos de lutar, mas contra os Principados, as Autoridades, os Dominadores deste mundo de trevas, e contra os espíritos do mal que estão nos céus.”

Não tenhais medo! Sereis humilhados e ultrajados, e quando assim for, lembrai-vos das palavras do Bom Pastor:

João 15:20

“Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais do que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Se cumpriram a minha palavra, também hão-de cumprir a vossa.”

Medo e vergonha, não sejam estas as vossas palavras. Olhai para os sinais dos tempos. O homem perdido na sua cultura de morte, com o aborto, contraceção, eutanásia, ideologia de género, uniões homossexuais, etc, estremece agora ante uma morte que não controla.

Vós tendes as armas nas vossas mãos para combater todas as epidemias, usai-as sem medo de ferir o politicamente correto. Nas vossas declarações alinhadas com os poderes da terra, quando dizeis que as vossas decisões foram tomadas em “consonância com as indicações do Governo e das autoridades de saúde”, estais a esquecer-vos de olhar para cima, para o verdadeiro poder, o dos Céus. Lembrai-vos que não se pode servir a dois senhores e que deveis dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.

Mateus 6:24

“Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.”

Não trazei para dentro da Igreja o pensamento mundano, com as suas modas e “verdades” de “novo humanismo”, “pecados ecológicos”, ausência de consequências face ao pecado, perca da noção do bem e do mal, e um completo abandono da noção de Criador e criatura. Quereis chamar mais irmãos e irmãs para dentro da Igreja, então dai-lhe os frutos maduros da verdadeira fé, pois eles já comeram vezes demais, dos frutos luzidios mas podres por dentro, que o mundo lhes oferece.

Aproveitai esta oportunidade para dar exemplo a Portugal e ao mundo, de acordo com o que Nosso Senhor Jesus Cristo disse aos apóstolos depois de ressuscitado:

Marcos 16:15-18

“Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Estes sinais acompanharão aqueles que acreditarem: em nome expulsarão demónios, falarão novas línguas, tomarão na mão serpentes e, se beberem qualquer veneno, não lhes fará mal, imporão as mãos aos doentes e estes ficarão curados.” O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, subiu ao céu e sentou-se à direita de Deus. Então eles partiram e pregaram por toda a parte, enquanto o Senhor operava juntamente com eles e confirmava a sua palavra com os prodígios que a acompanhavam.

Por último, lanço um derradeiro apelo. Reconsiderai a vossa decisão de não permitir a celebração comunitária da Santa Missa. Faço-o em meu nome e em nome de muitos irmãos e

irmãs que, privados de receberem a Santa Eucaristia, vos lançam o grito que o cego Bartimeu lançou: “Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim.” (Marcos 10:47).

“Mas, quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?”

Lucas 18:8″