Não são os médicos que estão a alterar a ordem social e o diretor clínico deve ser sufragado pelos pares, posição do médico Pedro Melvill de Araújo

O médico Pedro de Melvill Araújo fez hoje um “desabafo”, na sua página pessoal da rede social Facebook, sobre toda a problemática da Saúde e a posição de mais de três dezenas de diretores de serviço do SESARAM, que se demitiram na sequência da nomeação, com posse já ocorrida, de Mário Pereira para a direção clínica. A contestação aponta para a existência de uma imposição política numa área técnica sem a concordância entre pares.
O processo arrasta-se já há algum tempo e tem motivado diferentes reações, sobretudo depois do presidente do Governo ter afirmado que quem não está bem que se demita, posição que caíu mal, na generalidade, entre a classe médica. Várias reuniões depois, os clínicos mantêm-se irredutíveis na sua posição de manterem a demissão se Mário Pereira não sair e hoje mesmo anunciaram um pedido de audiência, urgente, ao presidente do Governo Regional, que até ao momento tem deixado o dossier na esfera do secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, estando mesmo a causar expetativa sobre qual será a posição do chefe do executivo por forma a evitar que, a concretizar-se a audiência, esta possa resultar numa interpretação de retirada de confiança em Pedro Ramos neste processo.
A reação de Pedro Melvill de Araújo foi partilhada por Eugénio Mendonça, um médico que tem estado na linha da frente deste conflito com o Governo relativamente à nomeação política do diretor clínico. Melvill de Araújo aborda a frase “Médicos contestatários de Mário Pereira…” para explicar que “antigamente, nos regimes comunistas, quem era contra o regime e o declarava publicamente através de palavras ou acções era designado por “dissidente”  (do verbo dissidir, que quer dizer – estar separado, estar em desacordo) para o poder enfatizar que ninguém era contra o regime, apenas o abandonava, separava-se! Ou seja, estava em desacordo!
No regime em que vivemos até 1974, os estudantes que tomavam posições contra o regime eram apelidados de “contestatários”, ou seja, utilizando a 2ª parte da definição, punham em causa a ordem social. Nem tinham direito a ser “dissidentes”.
Pois bem, a ordem social tem sido ao longo dos anos que as Direcções Clínicas dos Hospitais e Centros de Saúde, como cargos técnicos muito específicos que são, tivessem, mesmo que por nomeação, a aceitação dos pares envolvidos.
Tenho para mim, e de acordo com as definições, que os Médicos podem eventualmente ser “dissidentes” e que quem está a alterar a ordem social, logo a ser “contestatário”, não são os Médicos…”

O mesmo médico, num outro “post”, lança uma sugestão ao secretário regional da Economia e líder do CDS Madeira, Rui Barreto: “Que quem tenha eventual responsabilidade de Direcção Técnica possa ser sufragado, tal como V. Exª o foi por quem tem o direito de o fazer, no seu caso, o Povo, no caso de uma Direcção Clínica ou de Direcções de Serviço Hospitalares ou de Centros de Saúde, pelos pares que têm esse direito.

Pedir uma postura de tranquilidade a uma imposição, é pedir que se mantenham os brandos costumes existentes e muito fomentados, e que foi o que foi feito durante os anos que antecederam a actual conjuntura democrática.
Os brandos costumes, a haver, conquistam-se, não se impõem, caro Sr. Secretário”.