Apelos ao entendimento entre médicos e Governo Regional apontam para eventual desistência de Mário Pereira

Carlos Martins foi hoje empossado como novo presidente da Ordem dos Médicos na Madeira

Fotos: Rui Marote

Foram muitos os apelos ao entendimento entre pares e todas as restantes partes interessadas na Saúde da Madeira, que hoje se ouviram na tomada de posse de Carlos Martins como novo presidente da Ordem dos Médicos na Madeira, e demais órgãos regionais desta estrutura representativa da classe. Tudo por causa da conhecida polémica com a nomeação do médico Mário Pereira para director clínico do SESARAM, que, como se sabe, é contestada por muitos dos seus colegas de profissão. A solução poderá passar pela cedência por parte do Governo Regional, acordando com os médicos um outro director clínico. O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que esteve na cerimónia na sede da Ordem dos Médicos na Madeira, anunciou que vai escrever uma carta dirigida ao secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, também ele médico e presente na ocasião, com conhecimento ao presidente do Governo Regional, a explicar qual foi o resultado da visita efectuada à RAM e “a apontar duas ou três soluções”, que todavia não revelou. “A Ordem dos Médicos quer estar do lado da solução”, declarou. “Não quer estar do lado dos problemas, que já sabemos que existem e são públicos. Quanto mais depressa nós resolvermos estes problemas (…) mais depressa as pessoas que estão a trabalhar fá-lo-ão mais normalmente, mais depressa os jornalistas procurarão outras áreas de interesse”.

Miguel Guimarães: o bastonário deixou implícito que a solução passa por outro director clínico…

“Penso que o presidente do Governo Regional da Madeira entenderá perfeitamente a situação, porque o que é importante é que os médicos, que fazem um trabalho verdadeiramente extraordinário, continuem a trabalhar da mesma maneira, não saiam para o sector privado e deixem de todo o sector público. Porque se começa a acontecer na Madeira aquilo que tem acontecido no continente, é uma desgraça”, declarou, traçando uma realidade negra do Serviço Nacional de Saúde, com o número de médicos que sai do sector público a ser muito maior do que o daqueles que entram, “contrariamente àquilo que o Primeiro-Ministro tem dito, o que tem tido reflexos em termos de tempos de espera para cirurgias, para consultas, em termos de ultrapassagem dos chamados tempos máximos de resposta garantidos”.

A Madeira, considerou, “tem feito bons progressos na área da Saúde ao nível público nos últimos anos, e é bom que isso continue”.

Miguel Guimarães disse que a Ordem dos Médicos olha para este caso da contestação a Mário Pereira com muita preocupação, “porque os médicos têm de estar tranquilos e serenos no seu trabalho”. Neste momento, reconheceu, com esta “confusão” é difícil as pessoas terem essa tranquilidade.

“Se isto não for resolvido rapidamente, pode vir a ter reflexos nos cuidados de saúde prestados pelos médicos”, alertou.

Hoje, o bastonário participou numa reunião, o encontro feito na Madeira “que mais pessoas teve”, para utilizar as suas palavras, todos eles médicos naturalmente. “Os médicos, na realidade, têm muitas queixas, a vários níveis”, reconheceu este responsável, que também reuniu com a administradora do SESARAM Rafaela Fernandes e com o secretário regional da Saúde, Pedro Ramos.

Deixou a sugestão de que nestas circunstâncias “é muito difícil um director clínico conseguir governar um hospital, sem os médicos”. “Eu diria que é impossível”, acrescentou, deixando entrelinhas a ideia de que seria melhor Mário Pereira afastar-se.

“Eu acho que deve ser feita uma consulta pública aos médicos, através do Conselho de Administração. Os médicos devem ser ouvidos. Não é uma situação nova, fazia-se no passado. É uma situação para desfazer todas as dúvidas”, sugeriu.

Miguel Guimarães disse considerar importante que os directores de serviços anulem o seu pedido de demissão, mas em contrapartida seja feita uma consulta a todos os médicos, sobre quem deve ser o director clínico. Uma tal consulta, ficou implícito, retiraria Mário Pereira da equação, o que poderia ser aceite pelo Governo Regional, numa posição menos inflexível.

“Acho que isto seria um desafio também para o dr. Mário Pereira”, adiantou. “A situação neste momento merece uma solução que seja pacífica e aceite de parte a parte”.

Na tomada de posse, Carlos Martins agradeceu a presença de Pedro Ramos e Rafaela Fernandes, entre outras entidades oficiais presentes. Aproveitou para felicitar o bastonário Miguel Guimarães pela sua votação com 92 por cento dos votos, um sinal inequívoco de que todos os médicos portugueses se revêm na sua forma de estar e de actuar, e de “defender esta grande classe que é a nossa”.

O empossado congratulou todos os seus colegas da lista vencedora e considerou que “são as pessoas certas nos lugares certos”.

Agradeceu a todos os médicos a confiança nele depositada. “Eu como presidente do Conselho Médico da RAM simbolizo a vossa vontade”, declarou, salientando que a sua lista obteve 384 votos em 462 votantes, num universo de 1085 médicos licenciados na RAM. A percentagem de votantes foi a maior a nível nacional, disse. “É sinal que os médicos da Madeira estão connosco (…)”, considerou.

“Nesta caminhada de três anos, vamos trabalhar para dignificar e engrandecer a profissão médica”, garantiu. “Vamos fortalecer a confiança médico-doente, baseada na empatia e em tudo o que há de bom na saúde”.

“Por favor não violentem as nossas consciências”, pediu. “Os médicos (…) são independentes em relação a qualquer poder”.