Mário Pereira promete diálogo, cita Churchill e evoca Jardim; Pedro Ramos acredita que conseguirá manter os descontentes

Fotos: Rui Marote

A anunciada demissão de cerca de 30 directores e chefes de serviço do SESARAM, em protesto contra a tomada de posse de Mário Pereira como director clínico, aparentemente não fez qualquer mossa no Governo Regional nem na coligação partidária que o sustenta. Mário Pereira disse-se orgulhoso e prometeu dialogar com os colegas, evocando por outro lado uma grata memória de Alberto João Jardim. O secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, também prometeu diálogo, fez o habitual discurso triunfalista sobre o estado da Saúde na RAM e manifestou-se algo incomodado com a quantidade de jornalistas e operadores de câmara que enchiam a sala, alegadamente impedindo os profissionais de saúde que estavam sentados de ver as altas entidades sentadas à frente.

A ocasião revestiu-se de um carácter algo caricato, já que não se vislumbrou qualquer formalização, com assinatura, do cargo de Mário Pereira para a direcção clínica do SESARAM. O que se viu e ouviu, foi Mário Pereira e Pedro Ramos discursarem, numa cerimónia “abrilhantada” pela presença do presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque e do presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, entre outras entidades, acompanhadas de vários dos muitos assessores que o actual Governo actualmente tem, e que inclusive chegaram a ali deslocarem-se em carros de serviço de Secretarias cujos titulares nem estiveram presentes. Do ponto de vista protocolar, não se vislumbrou qualquer cuidado. Não havia lugares reservados para a comunicação social na pequena biblioteca do Hospital onde a cerimónia decorreu; os jornalistas eram muitos e naturalmente posicionaram-se à frente, pois queriam ouvir e gravar os discursos; a sua presença à frente mereceu reparo do secretário Pedro Ramos, que lhes pediu que abrissem uma espécie de clareira, para que o pessoal de saúde sentado pudesse ver as entidades presentes; e no final, a sessão foi encerrada abruptamente, sem perguntar aos profissionais da imprensa se tinham qualquer pergunta, pelo que as mesmas foram respondidas de pé por Mário Pereira e pelo secretário Pedro Ramos, enquanto os jornalista, sem outra hipótese, se amontoavam, literalmente, à sua volta, procurando ouvir as declarações que os responsáveis balbuciavam em voz baixa. Tudo, como se vê, muito bem gerido e preparado. E não é que haja falta de assessores para preparar antecipadamente estes eventos com a dignidade que a comunicação social, além de todos os outros intervenientes, merece.

No seu discurso na ocasião, sem fazer alusão à polémica da demissão dos seus pares que contestam a sua imposta liderança, Mário Pereira agradeceu a Pedro Ramos a confiança manifestada, à qual, durante seu mandato, prometeu ser “leal” e tentar, de todas as formas possíveis, cumprir o programa de Governo para a Saúde, o qual, aliás, considerou “excelente”.

Os objectivos da direcção clínica, garantiu, passam antes de mais pela humanização dos cuidados de saúde, proporcionando aos doentes mais informação, circuitos de diagnóstico e tratamento mais rápidos, bem como melhorar as condições de trabalho dos profissionais, dos quais destacou os médicos. Prometeu ainda criar condições de atendimento muito mais humanas no serviço de urgência. Referiu-se às obras no hospital, que passarão por uma grande modernização do bloco operatório e a conclusão de trabalhos que dignificarão muito o internamento no hospital dos Marmeleiros. Quando as mesmas estiverem terminadas, então sim, declarou, as condições estarão criadas para fazer frente à redução das listas de espera, até que o novo hospital esteja concluído.

“Sinto-me muito orgulhoso em ser director clínico de uma instituição que tem um terço dos seus colaboradores médicos com trinta ou menos anos”, disse Mário Pereira. Algo que considerou “uma enorme mais valia”, e que significa que nos últimos anos foi feito um esforço muito grande no sentido de atrair para a RAM jovens profissionais e dar-lhes a melhor formação possível”. Isto augura – considerou – que quando o novo hospital estiver concluído haverá bons recursos humanos para tirar todo o partido possível dessa instalação.

“Sei que há dificuldades, sei que quando se muda alguma coisa por vezes há resistências, mas quero deixar o meu empenho pessoal e da equipa, que farei tudo para continuar a pacificação do Serviço Regional de Saúde e assegurar a todos médicos que todos eles serão respeitados”, declarou, prometendo ainda trabalhar da melhor maneira possível para promover o entendimento entre os médicos e as outras classes profissionais do sector, aumentando a eficiência. “Terei a portas da direcção clínica abertas a todos os profissionais, sem excepção”.

Já na próxima semana, assegurou, iniciará um conjunto de contactos no sentido a ouvir as preocupações dos colegas, e tentar a resolução das mesmas junto do Conselho de Administração. Citou ainda algumas frases motivadoras de Winston Churchill, antes de recordar com carinho o ano de 1992, quando entrou pela primeira vez na biblioteca do Hospital, onde, ainda como estudante de Medicina, “ouvi aqui as palavras do dr. Alberto João Jardim”. Falou ainda do seu percurso médico, mencionou com igual carinho o ortopedista Luís Filipe Costa Neves e evocou as boas memórias da labuta naquela unidade hospitalar. Mencionou ainda com respeito Filomena Gonçalves, como um bom exemplo.

Por seu turno e como já referimos, Pedro Ramos declamou um nunca acabar de esforços que, assegurou, o Governo Regional tem efectuado para resolver os problemas da saúde, apostando desde a prevenção e a área dos cuidados primários aos cuidados paliativos, desde a aposta na formação em Medicina à resolução das listas de espera e às medidas que, assegurou, estão a ser tomadas para prevenir eventuais efeitos nefastos do coronavírus na Região, através de um plano de contingência.

“A Saúde”, apontou, não se faz de nomes, mas de resultados. E entre estes, regozijou-se com a baixa taxa de mortalidade infantil e a alegada baixa mortalidade nas doenças oncológicas. Sublinhou a grande responsabilidade que o SESARAM tem, a de tratar de pessoas, e considerou que isso só se faz com profissionais devidamente envolvidos na estratégia política do Governo Regional para a área, e que naturalmente considerou a mais adequada. Aproveitou para mencionar, “en passant”, algumas críticas dos médicos ao Serviço Nacional de Saúde, claro está, para enfatizar o investimento que, por cá, se tem feito no Serviço Regional de Saúde nos últimos 45 anos, “um percurso que tem de ser respeitado e valorizado”.

“Não podemos fugir ao que a população da RAM nos pede”, enfatizou, assegurando que o investimento governamental na área da saúde tem sido feito, e continuará a ser feito, em todas as áreas. Mencionou, a este respeito, a aposta no serviço de cardiologia e de gastroenterologia e no rastreio do cancro, que em 2020 será efectivamente uma realidade, com um centro dedicado.

Prometeu ainda “diálogo” com os colegas e afirmou que precisa dos profissionais “motivados e com condições de trabalho e remuneração adequada”. No final, disse aos jornalistas “contar com eles todos”, referindo-se aos médicos que ontem se reuniram na Ordem anunciando a intenção de se demitirem se Mário Pereira fosse nomeado director clínico.

As palavras finais ditas aos profissionais da imprensa deixaram no ar a intenção do Governo Regional prosseguir a senda do diálogo com os “dissidentes”.

Questionado sobre se acredita que vai conseguir manter os directores e chefes de serviço, o secretário regional da Saúde e Protecção Civil declarou, inequivocamente: “Acredito. Tenho confiança em mim”.