José Manuel Rodrigues “não passa à primeira”, diz Miguel de Sousa que vaticina o “caldo entornado” da coligação

OLYMPUS DIGITAL CAMERATerça-feira é dia decisivo para a Mesa da Assembleia Regional. Não é que se vislumbrem alterações relativamente ao sentido de votos dos deputados, designadamente aqueles que compõem a coligação PSD/CDS, que já decidiram subscrever a lista candidata que é liderada por José Manuel Rodrigues e tem José Prada e Rubina Leal nas vice presidências. A verdade é que essa realidade pode vir a acontecer, avaliando pelas “ameaças” nem sempre suaves e potencialmente indiciadoras que no voto secreto tudo pode ser possível até alguém “roer a corda”. Mesmo o que não parece pode ser.
Continua a ser motivo de abordagem nos meios políticos o acordo entre os partidos que durante quatro anos serão responsáveis pela governação da Madeira. Na forma e no contéudo, no aumento do número de secretarias, com o consequente agravamento de custos, na distribuição de pelouros com transportes divididos por três secretários, na constante “mudança de cadeiras”. Tudo tem sido alvo de grande discussão.

A forma de gerir todo o processo de cedência do PSD ao CDS, para a presidência do Parlamento, o principal órgão da Autonomia, tem suscitado grande controvérsia interna nas duas forças políticas, uma (PSD) habituada a governar sozinha, outra “CDS) habituada a não governar, nem sozinha nem acompanhada.
A par de tantas outras intervenções públicas, que não escondem o desconforto desta negociação, a principal das quais a de Tranquada Gomes, que não estará na posse do novo governo precisamente porque o incómodo é tão grande que prefere levar os cumprimentos à República do que cumprimentar na Região, existem outras que não se manifestam publicamente mas a verdade é que estão atentas a este “novelo” de negociação.
Mas se dúvidas existissem, as declarações de Miguel de Sousa e de Isabel Torres à RTP Madeira esclareceram o tom da militância face a este entendimento. Miguel de Sousa é um histórico social democrata que foi vice do Parlamento e saiu das listas do PSD. Isabel Torres é uma figura de consenso e bom senso, que também foi vice, mas pelo CDS.
“Um absurdo”. Foi assim que Miguel de Sousa abordou os novos tempos do Parlamento. Sem vacilar, é muito claro: “Tudo o que seja o partido mais votado não ter a presidência da Assembleia não é aceitável. Tudo isto é um fraqueza e faz nascer mal este projeto de governo de coligação. Este ainda é projeto. São todos cúmplicces de uma situação não natural e quando isto começa cambado, não tem pernas para andar. O CDS vem de uma derrota eleitoral e passava para três meros deputados. E de repente, num quarto de hora, vinte minutos, apercebem-se que afinal são peça importante para uma maioria para governar.”
O ex.vice da Assembleia diz mesmo que “o PSD não precisa do CDS para governar. E até acho que o PSD deveria ter conversado com o JPP e dava a mesma maioria do que o CDS. Era civilizado um eventual entendimento nesse sentido. E agora ficou mais claro com a posição pública assumida pelo JPP”.
Miguel de Sousa faz uma abordagem que deixa grandes dúvidas para a eleição de José Manuel Rodrigues. “Se eu conheço bem o meu partido, pelo menos à primeira não passa. Como o José Manuel Rodrigues diz que só aceita eleição à primeira, está o caldo entornado. Isto prova como os partidos estão fragilidades como antes não estavam. Gostava que alguém tivesse coragem de dizer que apoia José Manuel Rodrigues porque eu quero. Doze deputados do PSD subscreveram a candidatura, mas que queria que os dois partidos tivessem justificado porquê”.
Já Isabel Torres considera que “não foi um processo com elevação e contribuíu para o desprestígio da instituição. É óbvio que o PSD precisava do CDS mas temos de respeitar a vontade dos votantes e se atendermos aos votantes corresponderam a 21 deputados e o CDS 3. É um facto que houve uma derrota eleitoral para o CDS, que veio a ser transformada em vitória. Era uma ambição que o CDS tinha de se tornar governo, é normal nos partidos da oposição.
O acordo que foi elaborado com base nos programas dos dois partidos foi bem acompanhado, mas o que não foi positivo e há muitos militantes do CDS que não se reveem, foi a indicação do José Manuel Rodrigues para a presidência da Mesa da Assembleia. As pessoas perceberam que houve aqui uma chantagem. E a Assembleia merecia outra elevação”.