“O Lyceu” dinamiza exposição temporária para mostrar como era o ensino de 1942 a 1960

A Escola Secundária Jaime Moniz, através do seu Núcleo Museológico, apresenta à comunidade educativa  uma exposição temporária, intitulada “O ensino no Liceu de 1942 a 1960 – Testemunhos do património material”.

Segundo uma nota informativa da coordenadora do projeto, Lília Castanha, a ideia da criação do Núcleo Museológico Escolar “O Lyceu” surgiu da necessidade de reunir, preservar e dar a conhecer o legado da escola, ao longo da sua existência. Este projeto ganhou forma com a candidatura ao Orçamento Participativo da Câmara Municipal do Funchal de 2014/15, tendo sido um dos projetos vencedores. Assim, o Núcleo Museológico “O Lyceu” ocupa um espaço “nobre”, designado “Largo do Museu”, um átrio espaçoso numa conceção modernista arquitetónica da autoria de Edmundo Tavares. Pretende-se, de acordo com os meios possíveis, valorizar, preservar e divulgar o património histórico do ensino e da educação desta instituição, criada em 1837. A exposição permanente do Núcleo Museológico encontra-se em processo de construção, sendo o seu maior acervo constituído por objetos de diversa natureza, e em diversos suportes, utilizados para o ensino/aprendizagem das Ciências Naturais e das Ciências Físico-Químicas, mas também de outras áreas disciplinares ou relacionadas com outras funções administrativas e técnicas da Escola.

Passados 77 anos desde as primeiras aulas no atual edifício do “Liceu”, em 1942, o objetivo do Núcleo Museológico é divulgar alguns dos materiais do património escolar, ligados à história desta instituição, revelando algumas características que definiram a instrução pública de nível liceal na época do Estado Novo.

Foi no dia 8 de outubro de 1942, que as aulas começaram a funcionar no novo edifício, no Largo de Jaime Moniz, com 313 alunos (217 rapazes e 96 raparigas), e ainda com muitas obras em curso. Os trabalhos ficaram concluídos em 1946, ano em que se inaugurou oficialmente as novas instalações, a 28 de maio, data comemorada anualmente, para assinalar a revolução militar de 28 de maio de 1926, que pôs termo à Primeira República Portuguesa e que instaurou a ditadura militar que abriu caminho para o regime do Estado Novo (1933-1974).

 

A história, por detrás dos objetos, agora expostos, está inevitavelmente e naturalmente ligada ao contexto histórico da época do Estado Novo, em que os mesmos foram produzidos e utilizados, podendo contribuir para o conhecimento de uma época que marcou a história de Portugal.

Assim há que destacar o contexto ideológico e político em que se desenvolveram as políticas educativas, subordinadas aos fins políticos e ideológicos do Estado Novo: uma primeira fase, desde 1933 a 1947, que, consolidou o regime, o seu caráter autoritário e repressivo, com a publicação da lei de 1936 que instituiu a Educação Nacional, a par de algumas das instituições que eram parte integrante do sistema tais como a Mocidade Portuguesa Masculina e Feminina, a Legião e o partido único, a União Nacional.

Numa 2ª fase , de 1947 a 1960 assistiu-se ao início de um processo de adaptação, quer do regime do Estado Novo, salazarista, e do sistema educativo, às realidades sociais e económicas do pós segunda guerra Mundial, tendo sido feita a reforma do ensino liceal e do ensino técnico, que procurou acompanhar a aparente abertura do regime face à queda dos regimes totalitários que inspiraram a ideologia salazarista e ao aparelho do Estado Novo.

No processo de pesquisa, estudo e inventariação de peças de valor museológico existentes na escola, ainda a decorrer, a equipa multidisciplinar do núcleo museológico reuniu peças da época supracitada e procurou recriar, dentro dos recursos disponíveis, cinco grupos temáticos no âmbito da temática geral da exposição:

– ao centro uma reconstituição parcial de uma sala de aula do ensino liceal, com um conjunto de exemplares das carteiras dos alunos, secretária do professor, estrado, quadro e a cruz e o mapa do Imperio colonial que, de algum modo congregavam uma das máximas do regime “Deus, Pátria e Família”;

– um segundo grupo temático ladeia a sala e reúne alguns objetos da Mocidade Portuguesa Feminina e Masculina, cujo centro funcionava no Liceu, dando nota de atividades, objetos e símbolos relacionados, acompanhados de uma contextualização histórica dessas organizações de juventude e de enquadramento ideológico do Estado Novo.

– um terceiro grupo temático, do lado direito da sala, , também com o devido enquadramento histórico, reúne objetos do gabinete médico escolar e da cantina que tinham um papel relevante no funcionamento do Liceu, visando, entre outros objetivos, exercer uma ação de controlo do estado sanitário dos alunos, bem como assegurar a alimentação de muitos dos que frequentavam o Liceu, desde alunos mais carenciados, a funcionários e professores com diversa tipologia de “menus” e preços, e que funcionava em articulação e supervisão da Mocidade Portuguesa.

– um quarto grupo temático, apresenta alguns objetos e fotografias da época, relacionadas com as áreas das ciências físicas e ciências naturais, numa aproximação, ainda que parcial às práticas didáticas da época de acordo, e em articulação com os programas oficiais e com os respetivos manuais.

Esta exposição temporária estará patente até o final do mês de dezembro.