“O PSD está a governar com modelo esgotado, inverteu prioridades, já deu o que tinha a dar”, diz Teófilo Cunha

“Há assuntos que o Governo Regional tem resolvido com pensos rápidos”. Foto Rui Marote

O secretário-geral do CDS Madeira aborda o cenário que se vislumbra na vida político partidária madeirense, em ano de eleições, fazendo a leitura do que considera ter sido uma renovação social democrata não concretizada, apesar de prometida por Miguel Albuquerque. Explica que “numa primeira fase, assistimos a essa estratégia de renovação, mas rapidamente o PSD verificou que era difícil levar por diante essa ideia e praticamente foi obrigado a voltar às velhas práticas do partido. Repare que, no PSD, as pessoas são as mesmas e não é por acaso que tem vindo a verificar-se um grande desgaste na governação, que tem a expressão acentuada na existência, só num mandato, de três secretários regionais da Saúde e outras alterações também verificadas no Governo, no Turismo, nos Assuntos Parlamentares, na criação da vice presidência, além de mudanças de diretores regionais”.

O PSD inverteu prioridades

Para Teófilo Cunha, “o PSD inverteu prioridades”. Reconhece que utiliza a via expresso, todos os dias, mas garante, sem vacilar, que “se colocasse a via expresso de um lado e a solução para resolver milhares de pessoas em lista de espera para consultas, cirurgias e exames de diagnóstico e 100 mil pessoas sem médico de família, claro que apostava nesta última intervenção. E todas estas situações, reveladoras de alguma fragilidade governamental, acabaram por fazer com que o PSD já esteja a governar com um modelo esgotado. O PSD já deu o que tinha a dar”

Do outro lado, aparece um PS com uma “vaga de fundo” a caminho da Quinta Vigia. Tem sido essa, pelo menos a tónica dada pelos socialistas, que têm a especificidade de apresentar Paulo Cafôfo como o homem que pretende substituir Albuquerque, ficando Emanuel Câmara na liderança do partido. O secretário-geral do CDS Madeira deixa um alerta: “Já sabemos o comportamento do PS quando tem maiorias absolutas, é despesista. Como também já aconteceu com o PSD. As pessoas devem ter a noção disso e a Madeira conheceu essa realidade de perto, a realidade do despesismo”

O CDS-M estabilizou com a liderança de Rui Barreto

Saber se o CDS-M funcionaria como um “travão de excessos”, face a esse “despesismo” de que fala Teófilo Cunha, não se afigura fácil de relacionar. Prefere não antecipar cenários, o caminho faz-se caminhando e é nesse patamar que o partido quer fazer o percurso. O partido está melhor ou nem por isso? O secretário-geral reconhece que “o CDS atravessou algumas situações”, enquadra essa realidade como “uma crise de crescimento”, mas também diz que “essa situação está ultrapassada, o partido estabilizou com a liderança de Rui Barreto”.

Afirma não ser defensor de “unanimismos”, acha importante a discussão interna, o debate de opiniões, “mas nos orgãos próprios”. Diz que “é importante aceitar as opiniões num quadro de unidade. Felizmente, o líder Rui Barreto conseguiu congregar essa unidade e é isso que nos move para estas batalhas eleitorais que se aproximam”.

O social é a prioridade, a Saúde é um setor vital

Dos temas centrais que irão dominar os debates políticos para este ano, Teófilo Cunha elege o social como sendo o setor prioritário de abordagem e de conquista. O resto, as obras públicas, estão no último “fôlego”, exceção ao que se prende com a necessidade de finalizar o que ficou a meio. Mas, de facto, “a questão social, nas várias vertentes que encerra, apresenta-se como determinante para o desenvolvimento da Madeira. A Saúde é um setor vital, não podemos continuar com situações que se sucedem sem que haja uma resposta capaz de ir ao encontro das necessidades das populações. Veja o que se passa com os doentes oncológicos, esta barafunda à volta da unidade de Medicina Nuclear, com acusações graves de benefícios dos privados. Isto não pode acontecer. Não somos contra os privados, antes pelo contrário, somos um partido que defende o serviço público e uma iniciativa privada forte, mas há situações que ultrapassam todos os limites”.

Para o CDS-M, neste quadro de debate eleitoral, torna-se “imprescindível atender à questão relacionada com os regressados da Venezuela. Este é um ponto fulcral em que o CDS fará incidir a sua atenção”.

Há assuntos que o Goverto tem resolvido com “pensos rápidos”

Falar do “ferry”, do Hospital, do subsídio de mobilidade, é trazer à discussão assuntos que “confirmaram a fragilidade deste Governo Regional. Afirma que “são assuntos que o Governo vem resolvendo com pensos rápidos. O “ferry” era o ano inteiro e só acontece em alguns meses, o subsídio de mobilidade, também com grandes responsabilidades do Governo da República, anda de adiamento em adiamento sem que se veja qual a solução. Penso que as pessoas não fizeram as contas relativamente à mobilidade e agora tanto o Governo Regional como o Governo da República andam no jogo do empurra. Em vez de andarmos com medidas preventivas, andamos com medidas reativas”.

“Fiz um trabalho de raiz, o CDS valia 5% em Santana, felizmente conseguimos com o apoio de uma equipa”.

O que nos move é a luta pelos interesses da população

Esta tensão latente entre Governos pode ser interpretada como um reeditar daquilo que, em tempos, foi classificado como contencioso das Autonomias? Teófilo Cunha diz que “em política, de vez em quando criam-se situações, para mais em ano eleitoral. O que posso dizer-lhe é que, em relação ao CDS, o que nos move é a luta pelos interesses da população, sem preocupações de lutas partidárias ou de qualquer contencioso. A Madeira está primeiro, vamos defender o que for consagrado na Região”.

No fundo, a expressão autárquica que o próprio secretário-geral deu ao partido, conquistando em Santana uma vitória para o CDS, acaba por ser uma nota de relevo para que os objetivos sejam perseguidos com convicção e com esse ponto de referência. Teófilo Cunha diz não gostar de falar de si, mas admite que o CDS não valia muito em Santana e conseguiu alcançar uma boa votação, reforçando inclusive os resultados nas últimas eleições. “Fiz um trabalho de raiz, o CDS valia 5% em Santana, felizmente conseguimos com o apoio de uma equipa”.

Se as pessoas não quiserem, podem pintar um candidato de ouro

Alerta que “quando as pessoas querem mudar, fazem-no. O PSD é que pensa que ganha se levar muita gente atrás com bandeirinhas, mas quando o eleitorado quer fazer mudança faz mesmo e pode até votar num candidato que seja único do outro lado. Se as pessoas não quiserem, podem pintar o candidato de ouro que não chega lá”.